16/05/14

JESUÍTAS: D. JOÃO III de PORTUGAL (I)

D. João III
"26. Também com os anos entende a roda da fortuna, árbitra de tudo o criado. No mês de Agosto do ano passado sucedeu em Roma a morte do bem-aventurado patriarca nosso, Inácio de Loyola. No mês de Junho do presente sucedeu em Portugal a morte do Sereníssimo Rei D. João III. Uma e outra morte deu muito que sentir a nossos missionários: porque no primeiro perderam pai primeiro, e no segundo pai segundo. Como pai choraram a este Príncipe, por três razões:

a) porque foi quase confundador da Companhia universal; porque foi fundador da Província de Portugal e fundador da missão do Brasil. Sabida coisa é das Cronicas de nossa Companhia, as comuns como particulares, o muito que concorreu este Augusto Rei com nosso patriarca Inácio para a fundação universal de nossa Religião [Companhia de Jesus], quer pela grande estima que fazia de seu Instituto, quer por razões que sobre ele formava, quer por cartas que em seu favor escrevia ao Sumo Pontífice e aos Príncipes de toda a Cristandade, quer por legados que enviava a Roma, quer por despesas de sua fazenda real, mandando pagar todos os gastos que necessários fossem para, com efeito, adquirir as Bulas de confirmação. Chegou a dizer nosso santo patriarca Inácio que, entre todos os Príncipes e Reis Cristãos, a D. João III tinha por principal benfeitor da Companhia: e costumava acrescentar algumas vezes que era a Companhia mais de  elRei D. João que sua. É exageração, mas é fundada em grandes princípios de amor muito estreito e firme entre este grande santo e este grande Príncipe. Muitos sucessos o mostraram, nos quais me não detenho.

27. b) Segunda razão, por fundador da Província de Portugal. Este augusto Rei foi o primeiro entre todos os Príncipes que alcançou em Roma de S. Inácio, e do Sumo Pontífice, padres da Companhia, aqueles dois primeiros varões foram os padres Francisco Xavier e Simão Rodrigues, dos quais este fundou a Província de Portugal, aquele a da Índia. Ele os recebeu igualmente em suas casas e seu Palácio, e em seu coração. Em suas casas, porque logo lhes fundou a primeira em que viveram em Lisboa: pouco depois a notável Casa professa de S. Roque, e além desta o insigne Colégio de Coimbra, primeiro de toda a Companhia, e magnífico em rendas, e sujeitos passante de duzentas escolas menores anexas. Não falo no Real Colégio de S. Paulo na Índia, e outros que encheu igualmente de rendas e favores de pai. Em seu Palácio recebeu-os, fazendo Mestre de seu filho Príncipe herdeiro de seu Reino o Pe. Simão Rodrigues: e em seu coração, fazendo-o Confessor seu, e quase adjunto do governo do seu Palácio com fino amor até morrer, e depois dela deixando em testamento encomendado à Rainha D. Catarina sua mulher, que desse a elRei D. Sebastião seu neto Mestre, e Confessor de nossa religião [Companhia de Jesus]. Assim fundou a Companhia em Portugal, sendo por esta via a primeira Província do mundo, que teve nossa sagrada religião, porque a Romana naquele tempo não se intitulava Província.

28. c) Terceira razão é porque fundou a missão do Brasil na forma que dissemos no princípio desta história, mandando a ela o Pe. Nobrega e seus primeiros companheiros, com os mesmos favores, e despesas Reais, com que mandara à Índia o Pe. Francisco Xavier, e com que depois continuou com todos seus missionários por estas três urgentes razões sentiu a missão do Brasil a falta de um tão magnífico e tresdobrado fundador. Fizeram-lhe os religiosos dela as devidas exequias, e representaram funebres orações de suas virtudes veramente Reais. Não foi menor o sentimento do Estado todo. Cobriram-se de triste luto os Governadores, os Capitães, e os Nobres do povo: a todos chegou o sentimento, como a todos abrangera o fervor de suas Armadas, como que os socorria." (Chronica da Companhia de Jesu do Estado do Brasil e do que obrarão seus filhos nesta parte do novo mundo..., Tomo I. Pe. Simão de Vasconcelos. LISBOA, M.DC.LXIII)

(a continuar)

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