31/05/14

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (V)

(continuação da IV parte)

CAPÍTULO 2º
Formulário, que se observou na condução e ingresso das cinco fundadoras, e mais Religiosas que vieram do Convento das Carmelitas Descalças do Lugar de Carnide, no dia 6 de Junho do ano de 1781.

Chegou o ano de 1781, e conheceu o Em.mo. Sr. Cardeal Patriarca, como Ordinário Conservador da Clausura que esta já estava capaz de poder ser seguramente habitada, passou a visitá-la; deu licença para que no dia 1 de Junho do mesmo ano benzesse todo o Mosteiro, e Igreja inteira no Coro do Mosteiro, ao Ex-mo Bispo do Maranhão, e hoje de Viseu D. Fr. José do Menino Jesus, a cuja Cerimónia procedeu S. Ex.ª assistido dos Ministros necessários, entrando no número destes os dois Capelães Fidalgos, que já S. Majestade havia nomeado por sues Alvarás, e o Sacristão para revestir os Altares e aprontar tudo o necessário.

Como o Mosteiro havia de ser de Religiosas Carmelitas Descalças, bem natural parecia que fossem escolhidas para Fundadoras da Disciplina Religiosa, também Religiosas do mesmo Instituto da Reforma Carmelitana, e entre estas as que mais se distinguissem na Prudência, Santidade, saber, e perfeição Religiosa: S. Majestade pois obtidas as faculdades necessárias, nomeou para Fundadoras as Madres Teresa de Jesus, da Casa dos Ex.mos Monteiros Mores do Reino, a qual foi nomeada Vigária por Parte do R.mo. Geral, e depois a 25 deste mesmo mês de Junho foi Canonicamente eleita Priora, e Mestra de Noviças deste Real Mosteiro; emprego de que ainda felizmente goza: Teresa Maria José do Coração de Jesus, da Casa dos Ex.mos Marqueses de Alvito, a qual ainda é Superiora: Gertrudes Rosa do Coração de Jesus, a qual foi eleita Porteira: Maria Joana Porteira das quatro horas; e Joana Maria Sacristã: veriam também debaixo das mesmas faculdades mais as Religiosas, as Madres Maria Teresa, Felicia Maria, Mariana Teresa, Maria Bárbara, Antónia do Coração de Jesus, Margarida Teresa, Maria Isabel, e Francisca Teresa; e as três de véu branco, Teresa Maria, Ana Joaquina, Agostinha do Coração de Jesus: entre todas estas havia algumas que ainda não estavam professas, por não terem completo o ano da sua aprovação, e muitas delas haviam sido aceitas e destinadas para este novo Mosteiro do Santíssimo Coração de Jesus.

Deposto tudo o necessário para se proceder à condução das Fundadoras, e mais Religiosas, ordenou S. Majestade que a Imagem do Santíssimo Coração de Jesus, que se venerava no Mosteiro das Religiosas de Carnide, fosse transportada para este novo da Estrela: ordenou depois com a aprovação, e faculdade ordinária, que a mesma condução se efectuasse, como na verdade se efectuou no dia 6 de Junho do mesmo ano de 1781: foi esta função executada com magníficência Real, para o que ordenou S. Majestade que a Portaria do novo Mosteiro, Locutorios, Claustros, Coro, e Igreja interina fossem rica e custozamente armadas, e que as Religiosas viessem em quatro coches Reais da sua Casa, acompanhadas da competente Guarda militar, havendo-se as mesmas Religiosas na véspera confessado e Comungado, por lhe não permitir o seu Instituto fazer no mesmo dia 6, que foi uma 4ª feira dia de jejum das Têmporas: na mesma véspera da tarde, depois de rezarem Completas, rezaram Matinas, e Laudes do dia seguinte.

Amanheceu o dia determinado para a condução, e logo as Religiosas rezaram as Horas Menores no seu Coro de Carnide, e logo o Itenerário entoando a nova Vigária a Antífona "in viam pacis" a Comunidade prosseguiu o Cântico "Benedictus" depois do qual repetiu a mesma Vigária em voz clara os Versos, e Orações que prescreve o Breviário, mutatis mutandis, e no fim o Versículo "Procedamus in pace" e as Religiosas responderam "In Nomine Domini. Amen".

O convento primitivo, de Santa Teresa de Carnide

Na igreja do convento de Carnide
E saindo do Coro em Comunidade se despediram as Religiosas que se haviam de transportar para o novo Mosteiro, das que ficavam no de Carnide, cuja acção por ser feita com a maior edificação e resignação na vontade Divina, justificou a acertada escolha de umas, e também a perfeição, e virtude das outras.

(a continuar, VI parte)

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