D. Pedro I do Brasil, ou "D. Pedro IV" |
"Foi atrasada, para não dizer suspensa, a
acção missionária dos Varatojos, com o assalto do convento e expulsão
dos seus religiosos, levado a efeito pelo governo liberal. O decreto da
extinção de todas as ordens e congregações religiosas e da expropriação
de todos os seus bens é assinado por D. Pedro IV em 28 de Maio de 1834.
No ano anterior tinha dispersado a comunidade de Varatojo, certa da
violência daqueles políticos anticongreganistas (1)
A fuga efectuou-se em 25 de Julho de 1833. Eram 21 os sacerdotes, 6
irmãos leigos e 6 irmãos donatos. Em Novembro desse ano o Juiz de Fora
da comarca de Torres Vedras iniciava o arrolamento do recheio do
convento. As pratas da igreja, custódia, cálices e cibórios foram
salvos, graças à habilidade corajosa de um jovem religioso, dizia mais
tarde um vizinho do convento, que supomos ser o Doutor José Eduardo
César da quinta da Marinha. Toda a mobília do convento foi aleiloada,
informa o mesmo doutor, e diz que a biblioteca fora poupada na ocasião,
mas, em 1837, a maior parte dos seus livros foram transportados em 50
caixotes, para a biblioteca pública de Lisboa e os restantes abandonados
à cobiça dos curiosos (2). A igreja, diz o mesmo informador, foi
poupada, devido ao zelo e cuidado do Prior de S. Pedro de Torres Vedras,
António Joaquim Alves Castelo Branco, que nela conservou sempre o
Santíssimo e sustentou missa dominical.
O edifício conventual, excluída a igreja, foi comprado com a cerca, em
hasta pública, em 1845, pelo Barão da Torre de Moncorvo, embaixador de
Portugal em Londres. Durou 28 anos a solidão clausural daquele convento,
cuja existência subia a três séculos e meio. Por milagre de Santo
António, seu Padroeiro e titular, voltou aos seus antigos usufrutuários e
ao antigo destino missionário em 1861. Dos 160 conventos franciscanos
existentes no Continente, o de Varatojo foi o único restituído ao seu
primitivo apostolado. Foi comprado nesse ano, incluída a Igreja, ao
Conde Barão de Moncorvo, herdeiro do referido proprietário, pelo Padre
Frei Joaquim do Espírito Santo, antigo egresso varatojano, por três
contos e quatrocentos mil reis, cerca de 250 contos da moeda actual (3).
A escritura foi assinada em Lisboa de 24 de Dezembro de 1860, mas o
auto de posse realizou-se no convento de Varatojo a 16 de Fevereiro de
1861.
No dia 29 de Março seguinte, já era habitado por três sacerdotes e dois
irmãos leigos, antigos "egressos" da comunidade varatojana.
Juntaram-se-lhes mais tarde outros três sacerdotes dos antigos confrades
de Varatojo. Iniciaram estes seis "regressos" a antiga vida austera da
comunidade em que tinham sido criados e o apostolado das missões
gratuito, como o dos seus antigos mestres, e como eles a celebração gratuita das missas diárias. Conservaram esta antiga disciplina durante
22 anos, 1861-1883.
Em Maio deste último ano receberam a visita do Ministro Geral de toda a Ordem, Pe. Frei Bernardino do Porto Romantino, que resolveu os austeros varatojanos a amaciar um tanto as austeridades da sua comunidade e a adquirir o convento de S. Bernardino da Atouguia da Baleia, Peniche, e o de Bracanes em Setúbal, para iniciar a criação da Província dos Santos Mártires de Marrocos em Portugal. Foi proclamada a inauguração desta Província à comunidade de S. Bernardino em 18 de Novembro de 1891 e à comunidade de Varatojo no dia seguinte.
A necessidade de sustentar colégio de preparatórios e coristados de filosofia e de teologia obrigou os antigos varatojanos à aceitação de esmola pela celebração das missas e pela pregação.
(continuação, II parte)
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