02/03/14

CARRILHÃO DO REAL CONVENTO DE MAFRA - Apontamentos


"As torres laterais da igreja de Mafra elevam-se acima do plano dos terraços 194 palmos: a sua construção é inteiramente de cantaria, e acabam numa cruz de ferro que sobe além da última pedra das suas cúpulas 33 palmos. Esta cruz com os ornatos que lhe pertencem, preza 226 arrobas; em cada uma das torres há, por um cálculo diminuto, 14:500 arrobas de diferentes metais.


O grande varão de ferro que enfia a cruz e mais ornatos, em cada uma das torres, passa ao interior da cúpula, e é aí atarracado por uma grossa porca de bronze, que encosta sobre uma larga chapa de ferro. Esta chapa divide-se em quatro faixas, que descem pelos quatro cantos da cúpula, até encontrar uma forte grade de ferro que liga o corpo quadrado da torre, em que assenta a cúpula; sobre esta grade e nuns valentes cachorros de bronze, descansa uma grande trave de ferro de 20 palmos de comprido, palmo e meio de alto e três quartos de palmo de largo, dividindo ao meio o alto da torre.


Nesta trave está suspenso o sino que soa as horas, o qual por si só pesa 800 arrobas. Por baixo deste sino, na distância de algumas polegadas, fica um andaime formado de grossas traves de pau cavilhadas e chapeadas de ferro, e cobertas de chumbo.


Os dois sinos dos quartos estão logo por baixo deste andaime, suspensos numa trave também de ferro, e de volume igual àquela que sustenta o sino das horas. Cada um destes sinos tem o seu martelo, de peso proporcionado; o que bate as horas pesa 20 arrobas.


Estes martelos são puxados por três grossos arames de ferro, que atravessando os andares das torres acabam no mais interior, onde prendem no admirável jogo dos relógios. Por baixo dos dois sinos que soam os quartos, estão dispostos em 4 ventanas 6 sinos; a distância que há nas bordas inferiores destes sinos de umas a outras, é de dez palmos, e os arames que puxam os três martelos das horas e dos quartos, passando encostados a um ângulo das torres, distam 5 palmos dos dois sinos, que lhe ficam ao lado; os nove sinos deste superior andar das torres, as duas traves de ferro, e a grande chapa, cruz e seus ornatos pesam juntos 4:500 arrobas. O segundo andas é um confuso tecido de sinos, badalos, martelos, e arames.


Os sinos são 48, dispostos pelas ventanas, e no interior das torres suspensos em grossas vigas de pau chapadas. O primeiro sino na grandeza pesa além da porca e ferragens 666 arrobas; os outros vão diminuindo no volume e peso, conforme é preciso, para fazerem admirável consonância, que se experimenta quando tocam os relógios e carrilhões.


Cada um destes sinos tem, além do badalo, dois, três e quatro martelos de peso proporcionado. Todos estes badalos e martelos estão ligados com arames de latão, mais ou menos grossos, que vão prender nos diferentes jogos dos relógios e carrilhão.


Os 48 sinos deste andar com as suas porcas, ferragens e badalos, com 144 martelos, dos quais muitos de muitas arrobas, com mais de 200 grossos e compridos arames, com um sem número de molas e chapas, pesam, segundo a mais exacta averiguação, 7:000 arrobas.


De todos os martelos deste segundo andar descem arames, que vão prender nos chamados papagaios ou teclas, no admirável jogo de relógios, que assentam no andar inferior das torres, no plano dos terraços.


O grande jogo destes relógios, representa um ordenado montão de bronze, aço e ferro, que quanto mais se examina, mais se admira, até pela magnífica supefluidade da sua riqueza e ornatos.


Toda esta máquina se move puxando por três grandes pesos de chumbo, que equivalem a 650 arrobas. Estes três pesos puxam outros tantos grossos calabres de linho cânhamo, descendo por duas calhas até ao inferior das torres.


Neste andar é mais difícil o calcular o peso dos metais, por serem todas as peças deste admirável jogo diferentes, e de figuras irregulares; contudo na presença ninguém duvidará que este andar contenha até 3:000 arrobas de metal." (D. Joaquim da Assumpção Velho: Observações physicas por occasião de 6 raios que em diferentes anos cairam sobre o Real Edifício junto à vila de Mafra. Memórias da Acad. R. das Sci~encias de Lisboa. Vol, I. pag. 286).

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