04/11/13

"DEFEZA DE PORTUGAL" (1831) - Que Revolução Queriam Para Portugal (III a)

"DEFEZA DE PORTUGAL"

Nº 3

Qual era a Revolução, que os pedreiros de Portugal queriam em Portugal com ocasião da chegada da Esquadra francesa ao Tejo?

Parecerá a todos desnecessária esta pergunta, e que sobe ela se forme um artigo em separado; pois que se entende commumente que os pedreiros querem sempre constituição, e depois República. Mas eu não posso conformar-me a esta opinião geral; tanto assim, que me parece impossível saber, o que os pedreiros querem, pois que nem eles mesmos o sabem. Todas as revoluções têm um termo, no qual, logo que a ele chegam, param, descansam, e mais não andam; porém das revoluções pedreirais, ou infernais ainda alguém não viu o termo, cessação ou descanso; ela abrangem na sua maldade o infinito intensiva, e extensivamente. Quem pode dizer, o que quer um bando, um doido, um frenético,um furioso? Ninguém: pergunte-se ao mesmo bêbado, ao mesmo doido, frenético, e furioso o que ele quer? Ele não sabe responder; mas suponha-se que responde; conceda-se-lhe isso que ele quer: pois logo quer outra coisa, e assim se vai enfurecendo, e crescendo na sua bebedice, ou frenesim, querendo sempre, e não se contendo jamais. Eis o que é um pedreiro: um bêbado, um doido, um frenético, um furioso; insaciável sempre em ambição, e em maldade, nunca farto de riquezas, e de prazeres, sedento sempre de sangue, de discórdias, e de guerra, ele se aniquilasse o universo inteiro, parecer-lhe-ia um pequeno almoço à sua voracidade; se mesmo pudesse engolir o Céu, ainda não ficaria satisfeito. Não se pense que avanço muito. Venhamos às provas. Que desejavam os pedreiros da França no reinado de Luís XVI? Constituição; tiveram-na; pois não se contentaram; degolaram o monarca mais indulgente. Que pretenderam depois da sua morte? Entronizar o Duque de Orleães: mataram-no eles mesmos quando o queriam exaltar. E depois? Quiseram República: tiveram-na, e entregaram-na depois a um soldado, para a governar,com o título de Imperador. E contentaram-se eles com o seu sócio e irmão Napoleão? Também não: toda a Europa presenciou que os mesmos pedreiros concorreram também para o seu extermínio. Fiquem-se porém os pedreiros franceses abismados no caos das suas infinitas, medonhas, e espantosas Revoluções, enquanto o Supremo Conservador dos Impérios, e dos povos não manda para essa perpétua roda do ateísmo, e das desgraças, onde se acha o moto contínuo da perversidade, e da destruição. Nem se pense que esta inconstância, e insaciabilidade de desejos é filha da volubilidade, e daquele fogo da fantasia, em que abundam sempre os franceses. Os espanhóis que passaram sempre por sóbrios, sensatos, e pausados, aqueles que adoptaram o maçonismo, ou o comunerismo, mostraram ser tão volúveis, precipitados, inconstantes, e furiosos como os pedreiros de França. Eu não falarei agora dessa constituição de Cádis do ano de 1812, em que os pedreiros da Espanha fizeram uma figura mais triste, e mais ridícula, que D. Quixote de la Mancha; eles se pareceram a esses dançarinos de corda, que, sendo os homens mais desprezíveis da Espanha, excitam por toda a parte pelos seus brincos, pulos, e saltos mais risadas, que os macacos com as suas macaquices, e assobios; a mesma linguagem, a mesma cara, o mesmo corpo, os mesmos trejeitos apareciam nesses espanhóis loucos, e espiritados. Falo sim desses constitucionais de 1820, feitos, apurados, escolhidos, e recrutados da multiforme massa de 1812. Que pretendiam eles? Que o Rei da Espanha jurasse observar, e observasse as leis, que eles lhe dessem: assim o jurou, e observou à vontade deles, como eles quiseram, determinaram, mandaram, e forçaram. Falaram pois os pedreiros da Espanha, que por falar estavam eles mortos, galraram, palavrearam, papaguearam,escreveram, copiaram,fizeram finalmente tudo o que quiseram: cevaram-se nas rendas eclesiásticas, fizeram das suas casas covis de ladrões, quartéis de soldados civis, e casas de prostituição para as meretrizes; puseram os monges,e os sacerdotes a pedir esmolas de porta em porta, e a muitos até lhes tiraram os sacos para não reservarem para o dia seguinte, e a outros mataram nos montes quando pela sua decrepitude não podiam caminhar! E depois de tudo isto, que tudo isto assim escrito é infinitamente menos do que eles praticaram, como se tudo fosse nada, depois que vinham de fuzilar um Bispo, ou de degradá-los a todos; ou de queimar uma cidade, ou de arrasar algumas centenas de povoações, (já se entende) com as suas igrejas, voltavam em triunfo, e em triunfo entravam nas vilas, e cidades. Aí os Riegos, os Queirogas, os Minas, e outros desta libré eram esperados pelas muchachas com as suas grinaldas, e capelas; escolhia-se de entre elas em cada povo a mais formosa, e mais bem ataviada; conduziam-na aos Paços Constitucionais acompanhada de outras do seu sexo; e aí depois de dar a muchachada o "Viva la Diosa de la Constitución" pegavadela o General exterminador, e os seus oficiais, e cívicos rapinantes, e no público acto da prostituição se lhes dizia "esta es niñas la Libertad, y la Religión". Causam horror estas cenas, e não parece possível que as praticassem os espanhóis; porém as coisas assim passavam: eram pedreiros os seus autores, e são os mesmos por toda a parte. Não parece acreditável que um titular espanhol, ainda que pedreiro, descesse à baixeza de acompanhar publicamente a uma carniceira, dar-lhe o seu braço, levá-la consigo na carruagem, dar-lhe os ditos vivas da Deusa Constituição, e gritar "Pueblos! esta es la Igualdad". Passou isso na Thioxa numa povoação chamada Casa la Reina. mas eu logo destas baboseiras, porquices, e vilezas, que enjoam, canção, e mortificam, por serem sumamente repartidas com vilipêndio da sociedade: (Estas já não são quichotadas, são pansadas, que deviam confundir de vergonha os seus autores, se um pedreiro é capaz de envergonhar-se) e pergunto: contentaram-se com isso os pedreiros de Espanha? Não. Eles pretenderam matar o seu rei, decretaram o extermínio de todos os Bourbons, provocaram a guerra a todas as potências da Europa; e os que afectavam de mais cristãos fanfarronavam dizendo "Hasta el mismo Dios habremos de hacer constitucional". Pobres farrapões! Eles andam agora com uma manta rota às costas comendo o pão da mendiguez, da escravidão, e da ignomínia, mas sempre teimosos em arrotar liberdade, e igualdade. Porém o certo é que ainda se não sabe o que pretendem esses reformadores do mundo, a não ser acabar com o mundo. Mas em quanto os soberanos da Europa não desalojam dos seus países essa raça vil do bicho homem, e a não encerram na casa dos Orates, delivre embora, que os seus delírios serviriam de entretenimento se não empestassem aos que os escutam.

Se não pode saber-se, o que pretendem os pedreiros da França, e da Espanha, pois que nem eles mesmos o sabem, nem jamais o souberam, nem saberão, com muita mais razão devo dizer que é impossível saber-se, o que pretendiam em Portugal os pedreiros de Portugal, que são a escória, e a ralé de todos os pedreiros do mundo, com ocasião da chegada da Esquadra francesa ao Tejo. Acabo de dizer que os pedreiros de Portugal são a escória, e a ralé dos pedreiros de todo o mundo, e disse pouco: eles são os mais sórdidos, os mais petulantes, os mais ignorantes, os mais estúpidos, os mais loucos, os mais desprezíveis, os mais infames, os mais ridículos, (seria nunca acabar) os mais bestas, porém os mais pérfidos, os mais brejeiros, e os mais atrevidos. Chamar-lhes mariolas de pau e corda, jumentos de carga, animais imundos, latrinas públicas, isto é pouco: eu não sei expressar-me: eles são o sumo do desprezo. Eles me deram as provas, e as deram a todo o Portugal, de que não podem ser tratados com outra consideração, que a com que é tratado um burro velho, podre, e chagado - enterrá-lo vivo onde não cheire mal. Estas mesmas provas concluem também a impossibilidade de se saber o que eles pretendem. Eu vou examiná-las com mais ou menos detenção, segundo entender que convém à Defeza de Portugal; pois que a sua melhor, e acaso inteira defesa consiste em que o povo português conheça os pedreiros; porque, logo que os conheça, não fica um pedreiro para uma mezinha. Vou pois a isto,ainda que este exame deve ocupar longas páginas; mas contem os meus leitores que lhes não falto com o que lhes prometi a respeito da origem, formação, e progresso do maçonismo, impugnando sucessivamente todas as suas doutrinas.

(a continuar)

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