25/10/13

SERMÃO LIBERAL - Contributo Para o Estudo do Liberalismo (II)

Ceptro do dragão (que segura a constituição)
feito para a aclamação de
D. Maria II, filha de D. Pedro IV
(continuação da I parte)

"Senhores: Nesta luta gigantesca, tão felizmente sucedida, verão os que com imparcialidade e justiça analisarem a grandeza de tantos sacrifícios e a heroicidade de tantos feitos, que, para cimentar o alteroso edifício da nossa regeneração liberal, as lágrimas de rei caíram misturadas com as lágrimas do povo no cálice dos infortúnios da pátria; e nas horas do combate, em que cada peito foi baluarte inexpugnável e um raio cada braço, aparecia, e nos pontos mais arriscados, o Senhor D. Pedro IV, o magnânimo caudilho da causa santa da luz, do amor e da verdade, aquele vulto heroico, onde brilhava a prudência do sábio a par do valor do guerreiro, a perspicácia do legislador junto da autoridade do monarca, o amor de pai e a dedicação sublime de libertador do seu povo. Foi, guiados por tal campeão, que conseguimos debelar o despotismo; foi como seu auxílio que despedaçámos os ferros de cativos e entoámos os hossanas de livres; foi ele quem fez vingar os princípios mais civilizadores. As visões que na tela do futuro nos esfumavam incertezas, trocaram-se em esplêndidas realidades, quando o brado ingente da victoria desanuviuou as fontes tanto tempo sombreadas por mil receios, sacudiu o pó da luta e desfraldou entre soleníssimos triunfos o estandarte liberal, que nas cores - azul e branca - mostrava que a liberdade, ao descer do seio de Deus, trouxe a cândida veste dos anjos e o anil dos vastos céus!
Quando, porém, entre os prazeres da paz principiávamos a fruir os apetecidos gostos da verdadeira fraternidade, a morte veio vazar todo o seu fel na taça das nossas melhores venturas."

"Senhores: Conheço que não devo abusar por mais tempo da vossa obsequiosa atenção; mas antes de terminar, tenho um pedido a fazer-vos: - Amai sempre a liberdade, que custou o sacrifício de tantos mártires, as lágrimas de tantos exilados e a vida de tantos combatentes! Não consintais que ela seja prostituída nos excessos da anarquia; considerai-a, como a tendes considerado até hoje, o melhor elemento da ordem, a mais segura garantia da justiça e o mais poderoso incentivo do progresso. Felizmente, que a liberdade está de tal modo arreigada no coração dos bons filhos deste século, que, por maiores que sejam os esforços dos que conspiram nas trevas por darem vida aos passado já putrefacto na sua mortalha e que, ora se envolvem na capa de Tartufo, ora ateiam o facho incendiário das mil discórdias da guerra civil, - a liberdade é o seguro património duma grande família e há de ser herança da futura geração!...
Agora vós, venerandos companheiros do Rei Soldado: - recontai, junto do lar, que outrora esteve frio e nu, à geração que embalais para vos suceder, a epopeia gloriosa em que o rei e o povo tanto se engrandeceram; no lar, onde as tenras crianças se aproximam dos velhos para escutá-los; no lar, onde se unem as rosas da primavera às folhas já secas dos vossos invernos, os dois crepúsculos da vida - aurora e o ocaso; aí no lar, é preciso que façais conhecer os sacrifícios que custou a implantação do sistema liberal e quanto ele deve ser apreciado e estremecido. E se receais que os gelos da velhice vos tenham arrefecido um pouco o calor dos entusiasmos, falai-lhes com toda a convicção das vossas crenças, depuradas no crisol de tantos trabalhos e privações, e vós persuadireis!
Oh memória augustíssima do nosso libertador! revivifica-te entre as nossas fervorosas orações e saudosas lágrimas! eterniza-te nos dois tesouros que ele nos legou - a liberdade e o coração! -"

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