01/09/13

LIÇÃO XIII - DA VERDADE (II)

(continuação da I parte)

Em aquela disputa, sobre que coisa era maior poder diante daquele rei gentio, Dario, depois de se haver ponderado o poder DelRey, do vinho, e da mulher, concluiu Zorobadal com vivas razões, que era maior a força da verdade; e por isso o subiu ElRey à maior privança, como refere Estobeu no sermão II. Perguntando Pitágoras, que coisa fazia os homens mais semelhantes a Deus, respondeu, que o fazer benefícios, e exercitar verdades. É uma tocha a verdade, que com nenhum vento se apaga, e com nenhum ar se move, ainda que mais a cerque o vento da contradição: é um tesouro, disse Demétrio, tão rico, que o esconde a natureza nas entranhas da terra, e se descobre com o tempo, pelo qual a chamou um poeta grego (segundo refere Aulo Gelio no lib. 12 cap. 12) filha do tempo: "Veritas temporis filia"; que ainda que às vezes, como velho, tarda mais do que se queira ao fim, atrás desses passos tão medidos, e pausados, quando menos cuidam os que a desejam, a vêm chegar em seu socorro; por tanto, em semelhantes apertos, é muito bem ter sabido o conselho de Séneca (lib. 2 de ira cap. 22) que diz, que sempre se há-de esperar tempo para que se aclare; porque não há coisa tão oculta e escondida que se não venha a saber, como aliás diz São Lucas (cap. 12). Poucos tutores hámister a verdade, porque ela mesma acode à sua justiça; ainda que no mar da mentira a assaltem os corsários da traição, engano, maldade, e aleivosia, não a renderão, pois bem pode a falsidade com sua inchada espuma fazer por afogá-la, mas não o alcançará, porque quando mais sumida a tem as águas da tormenta, se levanta dentro das ondas, como lua cheia, quando se eleva sobre o horizonte, que parece a escurecem os crus vapores da terra, porém em pouco espaço descobre seu rosto claro, e prateado; e por isso diz S. Crisóstomo (homilia 3) tal é a condição da falsidade, que ainda sem haver quem a pretenda descobrir, se conhece; tal a da verdade, que ainda havendo quem a impugne, se manifesta; e Cícero exclama: "Oh grande força da verdade, que por si mesma se defende contra os engenhos, astúcias, e traições de todos!" É a verdade como a palma, que quando mais oprimida, mais direita se levanta: "Multorum improbitatedepressa virtus emergit, innocentiae defensio in terclusa respirat" - assim o disse Cícero; e o experimentou, pois segundo refere Plutarco in vita Catonis, cinquenta vezes em diversos tempos, por diferentes delitos foi acusado entre os romanos, mas em todas saiu livre. Noventa e cinco vezes foi exposto em juízo Aristofanes, entre os gregos, e em todas foi dado sem culpa; porque àquele que a verdade defende, tarde ou cedo, os põem a salvo.

(continuação, III parte)

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