16/05/13

OS SINOS DE NOTRE DAME DA PARIS - E O TEXTO DO NÃO SEI QUANTOS.

Senhor, dai-me paciência...

No Brasil têm proliferado muitos grupos em defesa do "não sei quê" católico. Ali multiplicam-se grupos como coelhos e seitas, com a mesma facilidade com que misturam ao certo interpretações erradas. E digo a verdade: é uma complicação que não para, por melhor que possam até ser as intenções.

Isto preocupa-me, e hoje até me indignei, e não por pouco: se a cada coisa boa que aunciam têm que misturar "ruído" então calem-se, ou pensem o dobro e não abram a boca tão facilmente. Haja humildade em se terem pelo que são (países novos com uma evolução interrompida pelo liberalismo) e dessa base poderem dar exemplo e fazer verdadeiro progresso. Se a Europa dorme as Américas (sobretudo a do Sul) patinam para todos os lados parecendo que não têm solo seco para assentar os pés (mas há solo seco e de seculares raízes, que talvez rejeitem em parte).

Um determinado grupo, que não conheço nem sei do nome, anda a divulgar a Idade Média, e a França isto e aquilo... mas de uma forma muito ... enfim, nos moldes que acabei de referir. Por vezes parece-me que nas terras da outra banda olham para nós como uma super Disneylândia, com admiração sim, mas com outros olhos (realmente distantes).

Este tal grupo ficou muito animado pela aquisição dos novos sinos para a Catedral de Notre Dame (Paris), e anda a divulgar o feito. Toca a escrever maravilhas, aprovveitando toda a ocasião para fazer subidas interpretações que chegam a ser asneira, muito "catolicismo" e medievalismo e irrealismo...

O texto promocional chama-se "Notre Dame Restaura Sinos Destruídos pela Revolução Francesa", e já espera o leitor, e bem, algo simbólico como talvez um paço para o restauro da Igreja e uma afronta para os filhos da revolução. Vejamos o texto:

"Uma multidão estimada em 30 mil pessoas pela polícia (que habitualmente minimaliza as manifestações católicas) lotou no Domingo de Páscoa a praça da catedral de Notre Dame e as ruas vizinhas, para ouvir a primeira reboada oficial dos novos sinos." - Números apenas... faltou garantir que 20% dos presentes não fossem curiosos, e que não houve nenhuma "manifestação católica". Aqui, colocam-se sinos novos na catedral e até os maçons os vão ver, há concerto de órgão e até os comunistas vão aplaudir... etc. Mas pronto... para alguns tem que ser uma manifestação católica e serem mais de 30 mil!

"Nessa mesma data, 850 anos atrás, na presença do Papa Alexandre III, o bispo D. Maurício de Sully colocava a primeira pedra para a construção daquela grandiosa catedral dedicada a Nossa Senhora."
- Assim foi.

"Os sinos originais foram destruídos barbaramente pela Revolução Francesa em 1792, com exceção de um, batizado com o nome “Emanuel”. No século XIX, Napoleão III mandou preencher com sinos de menor qualidade, e carentes de afinação, o vazio, a ponto de os especialistas dizerem que se tratava do pior conjunto de sinos da Europa. Por ocasião de sua bênção ritual os sinos recebem nomes que são gravados no seu bronze. O “Emanuel” foi doado há mais de 300 anos pelo rei Luis XIV e pesa 13 toneladas." - Sim senhor.

"O “Espírito pós-conciliar” opunha-se aos sinos." - Uia... "opunha-se"!? Portanto esse espírito é coisa do passado!? Estamos na restauração então!? Seja lá como for, desde o Concílio Vaticano II que se têm restaurado os sinos e mandado fazer bastantes. Se em algum momento e em algum lugar aconteceu que o clero se tenha oposto aos sinos isso não é nem mais ou menos universal. Aqui em Portugal, por exemplo, os sinos calados não se devem à livre iniciativa do clero, e em muitas cidades, vilas e aldeias, novos aparatos foram adquiridos para que o sino tocasse não só pelas ocasiões acostumadas como passaram a tocar às horas ( na minha cidade os sinos tocam às horas e meias horas, por exemplo). Mas o articulista quer associar a Revolução com o "espírito do Concílio" por querer calar os sinos... pronto...!!!

"Embora se dispusessem do desenho dos sinos originais e das partituras dos carrilhões, quem os faria? Haveria ainda mestres que continuassem o antigo ofício nascido na Idade Média?"
- Fiquei arrepiado ao ler isto... ainda estou, mas é mais que arrepiado! Dá vontade de ter na frente o articulista para lhe esfregar no nariz a página da fundição destes novos sinos da catedral, a CORNILLE HAVARD que faz sinos de todos os géneros tal como CARRILHÕES, que podem ser programados por computador). Mas pode o articulista dizer que esta empresa não fabrica carrilões tão grandes quanto o é o de Notre Dame, ao que eu respondo que o maior carrilhão até ao séc. XVIII foi restaurado há poucos anos (carrilhão da Real Basílica de Mafra - Portugal). Na Idade Media os carrilhões eram inferiores em qualidade e número de sinos aos dos tempos posteriores, mas o articulista aprendeu que a Idade Média é que era isto e aquilo e católica e não sei quê... e acaba por arrastar ao erro os seus leitores mais desavisados. Não há nada na arte de construir carrilhões que hoje seja inferior relativamente à Idade Média! O caso de Notre Dame não é por falta de mestres, certamente.

"A maior dificuldade à existência de sinos provém da oposição de um falso miserabilismo e pseudo espírito de pobreza, em decorrência do qual as igrejas deixaram de tocar os sinos, símbolos de sua riqueza, de seu domínio e poder religioso." - O articulista não tal se visse o número de sinos e carrilhões restaurados, e novos, que apareceram nas últimas décadas. Mas não fez a busca porque já parte do presuposto que na Idade Média é que não sei quê... e que depois do Concílio é que aquilo e outro... e a revolução etc., etc., etc... . É verdade que há uma diminuição do uso do sino, porque as igrejas já não funcionam em pleno e porque há relógios nos pulsos etc... É verdade que há uma diminuição da valorização do sino e que quem o defende já pouco saiba do assunto: por exemplo, havia em Portugal autênticos manuais pesados só para o toque do sino (e havia hierarquia de sinos conforme as suas igrejas para que nunca fossem tocados ao mesmo tempo, e aqui na minha pequena cidade toca primeiro o sino da igreja principal e só segundos depois toca o da outra, e da outra etc...). Cada caso é um caso, e não podemos classificar a Europa pelo que acontece em França lá porque os liberais do Brasil, desde o séc. XIX, semearam entre eles o desejo de serem franceses e quiseram cortar com as suas raízes civilizacionais luso-católicas (belo resultado...). Não se pode generalizar!

"Em alguns casos eles foram substituídos por gravações eletrônicas dessacralizantes e artificiais." - Não me pronuncio, porque nunca escutei as tais "gravações electrónicas dessacralizantes".

"Neste terceiro milênio, após décadas de incansável pregação progressista contra a venerável imagem da Igreja hierárquica, rica e sacral, haveria alguém que quisesse financiar os novos sinos da catedral de Notre Dame?" - Mas afinal... é falta de mestres, ou é falta de dinheiro!?

"Apesar de, em princípio, nenhuma objeção progressista ter consistência para o católico, décadas de propaganda do chamado “espírito pós-conciliar” espalharam uma atmosfera de descrença e respeito humano em relação a hábitos sacralizantes e louváveis como o toque de sinos." - Aqui só tenho visto não católicos contra o toque do sino, dos outros não há queixa. A que se refere o articulista então!?

"Em Villedieu-les-Poèles, cidadezinha da Normandia, uma fundição tradicional — a Cornille Havard — ainda utilizava os velhos métodos de produção dos sinos, técnicas ancestrais que remontam à Idade Média e que poderiam dar vida a réplicas fiéis." - Afinal o articulista sabia da empresa construtora mas não reparou que ela faz carrihões. A técnica da fundição usada para os sinos não remonta à Idade Média, é muito anterior. Mas não é sequer uma técnica de fundição que tivesse parada na Idade Média, romanticamente, é uma técnica usada antes da Idade Média até aos nossos dias e que não serve só para sinos. É uma técnica tão elementar que básica na fundição. Com um forno que ultrapasse pouco mais de 1000 graus pode-se fazer uma fundição de todo o tipo de objectos em bronze. Desde Portugal até à Alemanha, por exemplo, sempre têm havido fundições de sinos, e não adianta inovar muito nos métodos porque não há muito para adiantar. O sino, como outros objectos funcionam com metal incandescente vertido num molde, à semelhança de um bolo (estas explicações são para os leitores curiosos e que nunca pensaram no assunto - veja aqui uma banda desenhada a este respeito).

Bem... O artigo é mais longo. Quero apenas transcrever do artigo algumas coisas realmente bonitas e que o articulista captou:

"O primeiro toque oficial foi o “Grand Solemnel” no Domingo de Páscoa, diante de uma multidão emocionada e entusiasmada:
— “O som dos sinos simboliza a presença de Deus na cidade — comentou um parisiense —, porque seu som é como o próprio Deus: é a suma beleza”.
— “Com o som dos sinos é todo o Universo que se põe em movimento”, acrescentou uma senhora presente na catedral.
— Faith Fuller, turista de São Francisco (EUA), não pôde conter as lágrimas [tinha que ser dos U.S.A.]: “Isto representa 850 anos de história de uma catedral fantástica e eu estou neste momento histórico ouvindo os sinos pela primeira vez. É emocionante e belíssimo”, narrou à rádio oficial alemã “Deustche Welle”.
— “A ideia foi recriar um conjunto de sinos tão magnífico quanto aquele que havia antes da Revolução Francesa”, declarou Paul Bergamo à “Deustche Welle”.
— “Os sinos são uma das vozes da catedral porque ecoam a glória de Deus”, acrescentou o Reitor-Arcipreste da catedral, Mons. Patrick Jacquin.""

Pronto. Agora falta contar que num dos dias em que os sinos estavam expostos no corredor da Catedral para serem admirados, apareceu um grupo de taradas quase despidas a fazer provocação contra bento XVI e a alegrarem-se pela crise de Fé.

Segundo a informação que tenho, não foi apenas um sino que sobrou dos antigos tempos. Foram pelo menos quatro:



Ora, aproveitaram o sino "Gabriel" para fazer os moldes para os novos sinos (cada um em seu tom). Não tive notícia do que foi feito aos outros 3.

Eis a fundição. O metal é vertido dentro dos moldes exterior:

Molde interiores feitos à base de areia (ficam dentro do sino):


O molde exterior é pousado sobre o molde interior. Ficará depois um espaço entre os dois moldes que irá ser preenchido de bronze encandeceste. Finalmente depois do arrefecimento do metal, será retirado o molde exterior, e mais tarde o sino.


Os sinos transportados:





Sino dedicado a Bento XVI
Toda a cerimónia de bênção dos sinos:

1 comentário:

anónimo disse...

Aos 17:18 m, aviso já, canta-se "Laudate Dominum " de Taizé. É para que alguns tradicionalistas do Brasil querendo imitar a França, não copiem a música. Quero ver se o tal articulista vai chamar à música "modernista".

Ai ai ai ... Caros leitores. Hoje estou para não guardar muito.

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