27/02/13

PRÓPRIO DE PORTUGAL - FEVEREIRO

O Proprio de Portugal abre com a festividade da Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e termina com a festividade do Beato Nuno de Sta. Maria (6 de Novembro).

D. Afonso Henriques na visão das Chagas de Cristo e do brasão do Reino de Portugal
Em Fevereiro temos as festividades de S. João de Brito (dia 4), as Cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo (dia 13), S. Teotónio (dia 18).

Não podia deixar passar este mês sem honrar tão maravilhosas festas, duas delas inseparáveis da fundação do Reino de Portugal, a outra um símbolo dos martírios implicados na expansão portuguesa:

S. João de Brito
S. JOÃO DE BRITO (Mártir)

"Nasceu em Lisboa a 1 de Março de 1647. Professou na Comanhia de Jesus, pediu instantemente a Missão do Maduré, onde trabalhou com tal ardor que mereceu o cognome de "Xavier Português". Vindo às mãos dos infiéis, sofreu o martírio em Urgur a 4 de Fevereiro de 1693, e foi canonizado por Pio XII em 22 de Junho de 1947".

CINCO CHAGAS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Esta festa tem a sua causa na visão que D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. Nosso Senhor lhe mostrou as suas chagas e lhas deu como sinal da bandeira do reino que se iria fundar juntamente com a sua missão futura. D. Afonso Henriques, Venerável da Santa Igreja nunca chegou a ser beatificado por força da mesma oposição feita ao Beato Nuno de Sta. Maria.

S. TEOTÓNIO (Confessor)

"Foi S. Teotónio o primeiro prior do Real Convento de Santa Cruz, varão de preclaras virtudes e esclarecidos milagres. Do moço se criou em casa de Crescónio, bispo da mesma cidade, tio seu, debaixo de cuja disciplina aprendeu as sagradas letras, nas quais em breve se tornou consumado. Confessor e privado do rei D. Afonso Henriques, tinha sobre este monarca enorme ascendente. Morreu com oitenta anos de idade em 1162 e foi canonizado no ano seguinte."

No Agiológio Lusitano, no mesmo dia da Festa de S. João de Brito (dia 4), entre outros, encontramos: "l. No Japão, as bemaventuradas mortes de dois naturais daquelas partes, que por coroa de martírio valerosamente roubaram o Reino do Céu; seus nomes eram Bento e João, aquele de idade de trinta e três anos padeceu nos montes de Uneme, este de trinta e seis em Nagasáqui. O primeiro tão firme esteve na Fé Católica, que reduziu a seu próprio pai, que por rigores e ameaças da persecução, dela havia apostatado. O segundo (ajudando de celeste auxílio) conhecendo o grave erro cometido (em se deixar vencer das cruéis baterias, que no carcere se lhe haviam dado) se retirou ao destro, onde viveu algum tempo separado do trato humano, e de toda a comunidade. Porém caindo ambos nas mãos dos infiéis, que os andavam buscando, perdidas as esperanças de rendê-los pela grande constância dos soldados, cada um a sua coluna, estando firmes na Fé, rodeados de chamas, renderam suas benditas almas nas mãos do Criador, cumulando na perda de suas vidas copiosos logros à nossa Católica religião, e maiores acrescentamentos à Igreja de Japão, que regada com sangue de tantos Mártires produz cada hora novos enxames de fiéis, professores da Lei de Cristo.

Continuando a ilustrar estes belos dias de Festa, uso agora o Agiológio Lusitano para ilustrar o dia da Festa das Cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo: "c. Em Ceilão [antiga Taprobana, onde os os gentios diziam ficar o paraiso terreno no alto do "Pico de Adão"], no mesmo Oriente, o invicto cerrame do filho maior do Rei daquela ilha, cujo nome se não sabe, que persuadido por um português, que com santos conselhos o instruiu na doutrina evangélica, franqueando-lhe a entrada na Igreja Católica, a qual ele (ilustrado do Céu) aceitou e seguiu; por cuja verdade (ainda sendo catecúmeno) sacrificou a vida às mãos de seu pai, que (esquecido do paternal amor) com extrema desumanidade com furiosas estocadas o matou [ando de 1544 - Martim Afonso de Sousa era então Governador da Índia]; e assim (por favor soberano) batizado em seu próprio sanquge, o que com tantas instâncias procurava o Batismo de água para ter legítimo direito a entrar no Reino do Céu, assistindo-lhe sempre o devoto português, que com viva fé cantava a Deus louvores por tão glorioso martírio. O qual enterrou o santo corpo o melhor que pôde, dentro (com singular veneração) reverentes ósculos a cada uma das feridas. Porém o mesmo foi entregá-lo à sepultura, onde apareceu sobre ela uma formosa Cruz como se por arte fora ali esculpida. À qual vista de todos com admiração, foi tal o sentimento de Mouros e Gentios que, com grande presa, em vão pretenderam ocultá-la, se bem que o sagrado sinal, por mais terra que lhe lançavam em cima, tanto mais campeava; o que não uma, mas muitas vezes sucedeu. Vendo o Céu que estes idolatras tratavam de a extinguir para confusão de todos mostrou o mesmo em forma resplandecente de fogo. O que foi causa que muitos convencidos com tais maravilhas  que receberam o santo Baptismo, apesar do tirano ardendo em vivas chamas de furor, mandou passar grande número delas a cutelo para que lavadas suas estolas no sangue do Cordeiro lhe fizessem lustrosa companhia na bemaventurança."

S. Teotónio ao lado de D. Afonso Henriques
Diz o Agiológio Lusitano a respeito da Festa de S. Teotónio (18 de Fevereiro): "a. Em Coimbra, a festa de S. Teotónio, primeiro Prior do magnífico e real convento de Sta. Cruz, varão de prelacras virtudes, e esclarecidoss milagres, o qual de moço se criou em casa de Crescónio, Bispo da mesma cidade, tio seu, debaixo de cuja disciplina aprendeu sagradas letras, nas quais em preve saiu consumado Morto Crescónio, ele se foi a Viseu, onde ordenado Sacerdote, por suas virtudes e Senhor o fez tão grato nos olhos de todos, que à instância do povo, e clero, foi constrangido (per D. Gonçalo, Bispo também de Coimbra, em cuja diocese então caia aquela igreja) a que aceitasse o priorado dela. nesta administração se portou com rara prudência, trazendo com santo zelo os delinquentes e pecadores à penitência, os quais com suaves amoestações, e palavras de muita edificação reconciliava com Deus, catequizando a uns, baptizando a outros, e reduzindo todos os que estavam apartados do verdadeiro caminho de sua salvação ao grémio da Igreja naquele infeliz século, em que a maior parte de Portugal estava ocupada, e inficionada dos professores da maldita seita de Mafoma [Maomé]. E com bom pastor, e verdadeiro sacerdote (medianeiro entre Deus e os homens) orava e celebrava pelos pecados de suas ovelhas; visitava os enfermos e encarcerados, confessando-os com palavras inflamadas saidas do íntimo da alma; gastando com eles e com pobres, e necessitados todas as suas rendas; tratando-se a si com tal aperto que era um verdadeiro retrato de pobreza. Foi dotado de uma singular modéstia e virginal pejo que lhe serviu muito para (com divina graça) conservar a incomparável margarita da castidade, triunfando (em vários casos que lhe sucederam) gloriosamente da sensualidade. Depois de alguns anos julgando o servo de Deus que o dito cargo mais era pesada carga que honra, o deixou e se foi em romaria à terra santa, onde (com fervoroso espírito e devoção) visitou aqueles sagrados lugares pisados pelo Redentor. Tornando à pátria erigindo o Conde D. Henrique a dita Igreja de Viseu em Bispado, achando que só Teotónio era merecedor de tanta dignidade lha ofereceu, mas ele fugiu outra vez para Jerusalém para não aceitar, peregrinando com muito incómodo e trabalho por tão largos caminhos, fazendo neles grandes serviços a N. Senhor, que já com gloriosos milagres manifestava a santidade de seu servo. Desta vez se deteve alguns anos lá, empregando-se em meditar e contemplar os soberanos mistérios da nossa redenção. Porém antes de partir, prostrado por terra, se despediu com muitas lágrimas daquela santa cidade. Tornou a Portugal com ânimo de (compostas suas coisas) rematar a vida, naquela sagrada terra onde o filho de Deus a deu por nosso amor. neste com menos renunciando o mundo D. Tello, Arcediago de Coimbra (a quem imitaram e seguiram alguns apostólicos varões) e dado princípio ao dito convento de Sta. Cruz, S. Teotónio (movido por superior impulso) se agregou a eles repartindo primeiro parte dos seus bens com pobres, parte com a sua igreja de Viseu, dando o resto para ajuda da nova fábrica do convento, para livre dos mundanos bens seguir a Cristo pobre. Tratando logo a nova Congregação de nomear Prelado,de comum voto de todos (por sua grande virtude, e pureza) foi eleito Prior; cargo que aceitou mais por obediência que por vontade. nele deu aos súbditos singulares exemplo de abstinência, contínua oração, desprezo de si com que se julgava pelo mínimo de todos, resplandecendo com igual passo nas virtudes, de sorte que sua vida era um perfeito modelo aos religiosos, mas quase inimitável, pelo aspérrimo rigor com que se tratava. Sendo já sua santidade tão conhecida no mundo que . Bernardo lhe mandou um báculo para arrimo de sua velhice em sinal de amizade; e o Rei D. Afonso Henriques por suas orações alcançara milagrosa victoria do Campo de Ourique e tomar Santarém; depois de impetrar da Sé Apostólica grandes privilégios para sua Congregação; e o Céu em diversas partes obrar por ele inumeráveis milagres, como dar vista a cegos, pés a coxos, mãos a aleijados, acudindo a uns em naufrágios, a outros em grandes apertos em distantes regiões, sendo formidável aos demónios. De quase oitenta anos de idade e vinte e oito de governo, tratando de futuro sucessor, chamados os religiosos a Capítulo (per concorde eleição) foi nomeado D. João Teotónio, seu sobrinho, imitador em tudo de seu espírito e santidade. Andando já o santo velho todo abraçado no divino amor com grandes ânsias de se ver com Cristo, lhe apareceu o Apóstolo S. Pedro que o certificou de nora da sua partida. Antes dela se lhe mostrou uma escada por onde os Cónegos daquela santa casa (guiados por sua doutrina e exemplo) subiam às soberanas moradas. Recebidos então devotíssimamente os Sacramentos e lançado em terra sobre cinza e cilício, esperou a morte com notável serenidade e exterior alegria despedindo-se de todos os presentes que com saudosas lágrimas choravam sua perda, e ausência; estando para expirar baixou do Céu ao meio do claustro um formoso globo de estrelas, o qual (solto das prisões da carne aquele puro espírito) desapareceu; e ele foi gozar na pátria celestial eternas felicidades, devidas a seus grandes merecimentos. Fizeram-se as funerais exéquias por dois dias com extraordinária solenidade, nas quais assistiu o Rei D. Afonso Henriques com toda a Corte. E D. Miguel, seu condiscípulo (Bispo então de Coimbra) como a varão santo com hinos e cânticos de louvor, interrompidos com universais lágrimas gemidos e soluços de todo o povo, o deu à sepultura."

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES