28/02/13

A BABEL - O CAOS DAS "LÍNGUAS" E OUTRAS COISAS

Tem-me vindo a parecer que há uma crescente confusão babilónica. Há um caos das línguas, ou melhor, o caos dos conceitos que atravessam as várias línguas. Esta confusão geral é por sua vez fruto do "modernismo" (mas isto é outro assunto).

Um moço brasileiro veio em conversa dizer que a Igreja mudou o seu conceito de "tradição". Ora, como sabemos, a Igreja não muda conceitos profundos, nem doutrinas, porque é Santa e inerrante. Esta mesma ideia de mudança já me foi apresentada várias vezes por alguns "modernistas" e por alguns "tradicionalistas", com as diferenças seguintes:

"Modernistas": dizem que a Igreja mudou, e que isso é bom;
"Tradicionalistas": dizem que a Igreja mudou, e que isso é mau.

Com esta mostra sublinho o erro em se achar que a Igreja teria mudado em questões tão fundamentais e inalteráveis.

Dizia-me o mesmo moço que há como que uma "Igreja do Concílio". Mas o mesmo é dito por alguns "modernistas" e alguns "tradicionalistas", com as divergências seguintes:

"Modernistas": dizem que a "Igreja do Concílio" é uma renovação da Igreja depois do Concílio Vaticano II e que, de certa forma, libertaram-se do passado da Igreja;
"Tradicionalistas": dizem que a "Igreja do Concílio" é uma outra Igreja diferente da Igreja Católica que apareceu com o Concílio Vaticano II.

Com esta mostra friso o erro de achar-se que a Igreja tivesse pelo Concílio Vaticano II dado origem a uma outra Igreja real.

Esta é a mostra de um problema grande que não para sem um uso mais preciso de designaçõs!

O que há a dizer a este moço brasileiro?

A Igreja é inerrante, não transmite erros, em vez alguma esteve errada e o pecado do homem não a afecta quanto à sua inerrância. É quem se afasta dos seus muito antigos ensinamentos quem erra e se afasta d'Ela (ou parcial ou totalmente). Isto basta para avisar que a Igreja não pode ter alguma vez mudado algo tão fundamental como o conceito de "tradição". Logo, evidentemente, a Igreja não mudou o seu conceito de tradição, nem mudou nada de substancial. Se alguma mudança foi feita, ela não pode ter partido da Igreja nem se opera realmente na Igreja (a Igreja é imaculada). Por mais que os acidentes sofram a essência da Igreja permanece.

Há possibilidade de tudo isto ser de outra forma? Não! A inerrância da Igreja não possibilita equívocos. Existe a possibilidade de ter-se tratado de uma evolução do conceito, de tal forma que possa parecer agora dois conceitos diferentes? Não! Pois nesse sentido não seria realmente uma evolução mas sim uma ruptura (ou deturpação) que são exactamente conceitos opostos - para ser uma evolução o primeiro estádio deverá conter inteiramente em potência o estádio final.

Aparenta...
O uso de "Igreja do Concílio", na realidade, só pode ser usado em sentido figurado, caso contrário cai-se em alguns problemas como: achar ou fazer pensar que foi fundada realmente uma nova Igreja no Concílio Vaticano II. Ora, presume-se que uma mesma pessoa não pode estar numa Igreja ao mesmo tempo que está em outra Igreja que se diferenciassem unicamente por doutrinais diferentes! Logo a hierarquia de uma obrigatoriamente não podia ser a hierarquia de outra, a não ser, claro está, que uma delas não exista mais que em nome, nome esse que é um recurso para identificar um problema.

Aqueles "modernistas" que julgam existir uma "Igreja do Concílio" propriamente dita são levados por acharem que houve um salto evolutivo da Igreja, mas nunca o conseguem demonstrar (confundem "evolução" e "ruptura"). Aqueles "tradicionalistas" que julgam haver realmente uma "Igreja do Concílio" são levados por acharem que houve uma ruptura como que autorizada pelo Concílio Vaticano II, e que terá possibilitado a criação de uma outra Igreja (como uma seita); contudo nunca conseguem demonstrar que essas divergências doutrinais constituem uma ruptura formal, ao ponto de fazerem crive a fundação real de uma outra Igreja.

Ora esta configuração problemática é tão dramática que a inteligência não a suporta sem estar muito distraída (coisa que é mais comum e compressível do que se costuma imaginar). Chega-se ao ponto de colocar lado a lado a Igreja Católica com a "Igreja do Concílio" como se fossem coisas comparáveis (no caso de alguns "tradicionalistas"), e coloca-se também a "Igreja do Concílio" coincidindo com a Igreja Católica (no caso de alguns "modernistas").

Recentemente, ouvi uma senhora usar "Igreja do Concílio" junto com "Igreja Católica" para dizer que se tratam de duas igrejas diferentes. Ao ouvir isto eu emiti um ruído: "ahhhhhmmmmm....!?" seguido de um "ohh não...!!!". E queixava-se ela que há quem diga que aquelas duas Igrejas são a mesma! E com toda a razão: não são mesma, mas também não são diferentes, ou melhor, não são designações comparáveis. Uma delas designa a Igreja e a outra uma metáfora de um problema na comunidade católica ou, colmatando o erro dos "modernistas" seria uma metáfora de um renovamento da mesma Igreja (que na verdade não pode ter acontecido). E aqui há que dar razão à parte tradicionalista (toda ela): há um problema real de conflito entre o que se julga hoje ser católico e aquilo que sempre a Igreja ensinou (e ensina) ser católico. É impossível que uma suposta renovação da Igreja tenha tantos conflitos directos com a Doutrina sempre transmitida e o Magistério Papal continuado.

O perigo disto é que os "modernistas" em geral criam a ideia de que seria legítimo adoptar qualquer doutrina ou enunciado não porque ele venha do que a Igreja sempre ensinou mas porque ele vem de uma parte ou da maioria da hierarquia actual. Por outro lado há o perigo de haver alguns "tradicionalistas" que recusem honrar e obedecer à hierarquia alegando que ela ensina agora doutrinas e pensamentos em contradição com o que a Igreja sempre ensinou. Há quem vá para lá desse limite e como que demite quase toda a hierarquia da Santa Igreja enquanto esta não aceite formalmente a totalidade da Doutrina e pensamento católicos (o que leva a um "sedevacantismo" prático, ou mesmo a um cisma material- é nestes casos que surge a falsa ideia de "Igreja do Concílio" como se de uma Igreja de facto se tratasse).

Para finalizar, e apenas para que não escape um assunto tocado: a obediência à sagrada hierarquia da Igreja não é uma opção, é uma obrigação sobe pena de pecado mortal. Se não há realmente duas Igrejas, se não há realmente duas hierarquias, tem de haver obediência honesta a toda a hierarquia, contudo a obediência a Deus que é mais alto, passa também e claramente pela aceitação inequívoca da Doutrina e da moral. Ora, a Doutrina é expressão da vontade de Deus e não pode ser rejeitada ou diminuída, assim, nos casos em que algum superior hierárquico (Bispo, pais, patão) mande ou ensine algo contra o que Deus ensinou pela Igreja deve-se resistir (ou seja: deve não se cumprir essa ordem nem aceitar esse mesmo ensinamento). Acontece que hoje há um caso especial: a esmagadora maioria dos superiores (da militância da Igreja, família, ou  trabalho) estão distantes da Doutrina e pensamento católicos por gradual substituição de crenças e conceitos (e por décadas), que há a necessidade de criar protecção (ou seja "resistência" no sentido de protecção e não de ataque): o estado de necessidade tornou-se tal que a exposição aos agentes comuns de difusão de mensagens tornaram-se o "vírus" mais comum e à maioria como que invisível.

Muito, muito, muito haveria a dizer.

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES