(continuação da II parte)
LIÇÃO XIV
Da Obediência
Muita adversidade experimentaram os filhos desobedientes, dos quais referiremos alguns exemplos que sirvam para escarmento, como os outros para imitação. Diga-o a maldição que fulminou o velho Noé sobre seu filho Cam pela desobediência que sua geração, e foi a primeira servidão, que se introduziu no mundo, mas também serem seus irmãos melhora dos na herança, e bens: Genesis cap. 9. Diga-o Rúben, que pela desobediência com que tratou a seu pai Jacob perdeu o morgado, o sacerdócio, e o Reino: Genes. cap. 9. Diga-o Absalão, que pela desobediência de seu pai David morreu desastradamente enforcado numa árvore lib. 2 Regum cap. 18. Digam-no aquele sete filhos de quem escreve Santo Agostinho de civitate Dei lib. 2 cap. 8 que sendo amaldiçoados por sua mãe por terem-na injuriado ficaram com um termo de Pelesia tão horrendo, e horrível, que era espanto de quantos os ouviam; e passando-se alguns dias sem passar aquele acoite tão estranho, e não podendo os padecentes sofrer a admiração do povo, se foram desterrados de sua pátria vagando pelo mundo como outro Caim fugindo à vista de seus parentes, e conhecidos.
Dêmos uma vista às histórias humanas, e veremos um pouco do muito que escrevem os historiadores: e diga-o Crano filho do Imperador Cloratarlo, que pagou o haver desobedecido a seu pai com morrer queimado vivo dentro de uma casa com todos os seus filhos, mulher, e criados, como escreve Aimin de gestis Francorum lib. 2 cap. 30. Diga-o D. Sancho filho de D. Jaime I de Aragão, que pagou a rebelião, e desobediência de seu pai morrendo no rio Cinga, que como verdugo o arrebatou com suas ondas sepultando-o nelas desastradamente. Diga-o Salim filho de Bacaleto, que desobediente e rebelado contra seu pai com ambicioso desejo de Reinar lhe apresentou batalha, na qual foi vencido, e poucos anos depois veio a morrer no mesmo lugar. Diga-o Besso, de quem escreve Plutarco in lib. de fera muminum vindicta que matando a seu pai com tanto segredo, que o não viram mais que umas andorinhas, estas o perseguiram em toda a parte chamando-lhe traidor de maneira que a ele lhe veio a crescer tal ódio, que aonde as via tratava de as matar; e sendo repreendido de usar tal tirania, respondeu, que estas andorinhas lhe levantavam um falso testemunho de que havia morto seu pai, de que dando-se conta a ElRei, e examinado Besso, veio a confessar o crime, e foi por ele como merecia castigado. Quais forem os filhos para seus pais, diz o Espírito Santo no cap. 3 do Ecclesiastes, tais serão seus filhos para com eles, o que também conheceu o historiado Romano Lúcio Floro, que disse que naquela moeda em que os filhos pagarem o amor, e obediência devida aos pais, nessa mesma lhe corresponderão seus filhos ao merecido agradecimento: Quequaestipendia parentibus impenderis, eadem a filiisexpecta. Isto se viu experimentado na célebre Cidade de Lisboa, onde um mau filho arrastou por uma escada a baixo a seu pai,mas permitiu Deus que este filho tivesse igual castigo, porque deste mau filho nasceu outro que pondo mãos em seu pai, o levou arrastado da mesma sorte pelo mesmo lugar, até que chegando a certo passo disse, basta filho, basta, que já entendo o castigo da Divina justiça, basta, que até aqui arrastei eu também a meu pai, esta é justíssima providência do Céu, muito bem está ordenado que quem tal fez, que tal pague.
(continuação, aqui)
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