26/01/13

AUXILIAR DE ESTUDO - ENTENDER A NOSSA CIVILIZAÇÃO

Tenho escolhido alguns temas que podem passar por "acatólicos" ou "à margem". Na verdade, a minha preocupação com a civilização católica, sobretudo a que nos está na raiz, pertence-nos conhecer e amar, deve-se à convicção de que a proximidade com a nossa civilização (evidentemente católica) nos civiliza e, por consequência, nos dá suportes e entendimento à Fé. Pelas obras dos nossos antepassados (gente de fé e da civilização católica), a mesma Fé tomará mais corpo e exemplo.

Infelizmente, mesmo entre aqueles que se dizem tradicionalmente católicos, a falta de suporte civilizacional, tão própria dos nossos tempos, enfraquece-lhes a apreciação do passado. Desaproveita-se assim um manancial de exemplo e instrução, referências tão importantes para os dias de hoje. Há por isso quem tenha entendimento muito artificial, mirrado, e distorcido da nossa civilização, e acabe por ser passivo a qualquer exemplo mais romanceado. Eis como tanto acabam por desprezar o que Deus nos deu, e está tão perto (é nosso). Não significa, é certo, que aquilo que é dos outros não nos dê proveito também, mas sem conhecermos o nosso, haverá sempre algo em grande falta.

Muitos, nas circunstâncias que referi, buscam, por exemplo as glorias da cultura francesa (católica), acabando por sabem muito mais dela, e gloriá-la, do que a feitos superiores dos nossos antepassados! Cumpre-se então aquela triste mania, que se foi criando mais recentemente em Portugal e Brasil, que popularmente sintetizámos: "a galinha da vizinha, é melhor que a minha". Tal defeito é, na verdade, uma das vitória prolongadas do liberalismo, o qual mostra em quase todas as suas produções literárias que o BOM que temos seria mau, e que o mau das novidades liberais estrangeiras fosse verdadeiro "progresso".

As novas armas conservam a tiara patriarcal
Dou um exemplo crítico: Quem dos leitores sabe que no séc. XVIII tivemos o ÚNICO patriarcado fundado já depois dos tempos Apostólicos? Qual dos leitores sabe que "Patriarca de Lisboa" não era meramente um título, como o é "Patriarca de Veneza" ou "Patriarca de Toledo" (que não nunca tiveram Patriarcado)? Quantos dos leitores sabe que o Patriarcado de Lisboa era o territorialmente mais abrangente, e com mais população? Algum dos leitores sabe que o Patriarcado de Lisboa foi aquele que recebeu mais honras da Santa Igreja? Achará o leitor que isto não foi obra de Deus, e é fruto de um equívoco continuado por vários papas seguidos? Alguns têm a versão liberal: "D. João V teria comprado um título a Roma corrupta!!!" Versão espalhada pelo liberalismo, porque foram os liberais que, no séc. XIX, exigiram ao Papa a extinção da Santa Igreja Patriarcal de Lisboa! Assim "triunfaram".

Sem conhecer isto que acabo de contar perdemos coisas, os motivos das coisas, e, não sabendo o que as coisas são, corremos o risco de as falsificar, subverter em desproveito católico. Se estes feitos são altamente dignos, perderíamos então um suporte maravilhoso, seguro, confirmado por Deus e pela Igreja. Ignorância, na maior parte dos casos não culpável, mas muito nociva em efeitos ... os efeitos estão à vista.

Ao homem rude não se lhe pede que saiba muito mais, porque não tem essa obrigação, mas também porque não faz afirmações contrárias nem se coloca em responsabilidades que o requeiram; a ignorância que tem é-lhe à medida do que tem de fazer e julgar. Contudo, hoje, visitamos lugares distantes, falamos de todo o tipo de assuntos, opinamos sobre qualquer coisa, e, por isso erramos tanto: é-nos exigido o conhecimento correspondente, e não o temos (abatidos somos por crer em fábulas). Mas que conhecimento? Apenas o conhecimento histórico? Não tanto, sim mais o entendimento dos princípios contidos na nossa civilização católica, cujo núcleo distintivo é a Fé a a prática da virtude.

Dou um exemplo muito simples, minucioso, pequenino, que hoje quase parecerá ridículo, mas que fará corar quem se apresentar como bom exemplo de tradicional católico: na inauguração da Real Basílica do Convento de Mafra, tudo estava preparado com o critério justo da mentalidade católica, que nesse tempo bem se expressava. As alvas tinham vários tamanhos de rendilhado, medido por dedos: a dos cantores era simples e de um dedo de altura (se a memória não me falha), o do maestro e o organista eram de 4 dedos, o dos acólitos e dos diáconos ao Arcebispo todos tinham altura conforme a função respectiva. Ora, eu dou este exemplo pequenino para realçar que o critério de ordem e justiça, tanto mais nas coisas sagradas, era exemplar... e era do altar que se inspirava a sociedade (o altar como centro do mundo). A hierarquia das coisas, como se vê pelo exemplo, aplicavam-se mais por motivo de que todas as acções católicas devem ser movidas de alto propósito, e não deixadas ao acaso, ou à tirania do capricho e do gosto desgovernado. Este pequeno exemplo revela o quão grandes eram os nossos antigos coisa que hoje só entenderá quem não estiver com disposição ou ordenação contrárias.

Cúpula da Real Basílica de Mafra (vista dos 6 órgãos)
Recomendo a leitura de livros antigos, mesmo os que não são directamente a respeito da Fé, pois acabam por exprimir o pensar dos que tinham a Fé e eram civilizacionalmente frutos dela. E dou outro exemplo para terminar: os nosso antigos colocariam uma sineta na porta secundária, e um sino um pouco maior na porta principal. A sineta da porta secundária, ou traseira, hoje também seria colocada no mesmo lugar, por economia (dinheiro), mas os nossos antigos colocavam-na ali principalmente porque uma porta secundária deve ter um sino (sineta) secundário (em tudo inferior ao sino da porta principal). O critério hoje é mais o do apetite, ou o dos cifrões.

Ao recomendar livros antigos (cuidado com os do séc. XIX até o séc. XX, onde é costume encontrarem-se certas orientações pouco confiáveis, mesmo que por vezes aprovadas - há estranhas edições que fazem "milagres" com a troca de uma simples palavra em livros altamente recomendados, e aprovados - e disto tenho exemplos a dar, tanto de um caso curioso na Argentina, e um outro em Portugal) recomendo principalmente os do séc. XVIII para trás (estão inquiridos). Onde encontrar? Há muitos livros em PDF que se encontram nos motores de busca (consultar o google Books, por exemplo). Mas, por favor, não se acostumem aos livros nestes formatos!!! Se possível, aqueles livros melhores devem ser impressos: é preferível que, num grupo de amigos, cada qual imprima um livro, e os troquem entre entre si, ou formem uma biblioteca comunitária com os melhores "achados" e os mais necessários. Nunca desistir de procurar livros verdadeiros, prefiram de longe os livros verdadeiros (já que dou essas recomendações, obrigo-me também a fazer este importante aviso). Ter em conta o que há nas bibliotecas públicas e privadas, sempre há importantes e antigas raridades (e os que tenham estas bibliotecas privadas bem podem preocupar-se em facultar cópias para que o conteúdo possa ser veiculado entre pessoas sem danificar fisicamente os originais. Há alguns problemas com as edições, nomeadamente para alguns temas, como é o caso da espiritualidade (sobretudo em edições do início do séc. XX e finais de XIX - lembrar que estamos apenas a falar em livros antigos, e não dos mais recentes). E assim acontece com um livro que procuro muito e não encontro uma versão antiga para que me fie: Jesus Cristo Vida da Alma (D. Columba Marmion) - neste caso a mudança de uma ou outra palavra fazem perder o sentido, e torna-se como comer uvas com grainhas gigantes.

Comecei num tema, e quase terminei noutro ou num sub-tema. Significa que há necessidade de abordar estes assuntos, em posteriores oportunidades. Sorte tem que puder juntar-se com amigos para criar uma biblioteca assim, e talvez reeditar os textos destes livros, aprender a bela arte da encadernação tradicional, etc..

Quem queira dedicar-se à "pesca" dos livros antigos online, é bom começar por fazer a listagem do adquirido. Por não ter eu quem me avisasse de tal, colectei, ao longo de anos, livros destes; tenho muitas horas "gastas" na criação duma listagem que me permita identificar os "livros" (PDF) por nome e número, etc.. Há "livros" que hoje estão disponíveis online, mas que deixarão de estar, e outros entram, o que requer método de vigilância sobre algumas bibliotecas online (para quem não se importe de chegar aos milhares de obras). Uso mais a modalidade digital da Biblioteca Nacional de Portugal. Enfim... este tema fica para outro dia.

Civilização católica sim, e principalmente a de cada um.

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