14/12/12

OS ERROS DE LUTÉRO E O ESPÍRITO DO MUNDO ACTUAL (VIII)

(continuação da VII parte)


OS ERROS DE LUTERO E O ESPÍRITO DO MUNDO ACTUAL
Pe. Franz Schmidberger


A respeito disto podemos citar a S. Paulo: “Eu estou cheio de regozijo no meu sofrimento por vós, e estou cumprindo na minha própria carne o que resta à paixão de Cristo, sofrendo em favor do seu corpo, que é a Igreja” (Col 1.24). Intrinsecamente nada falta à Igreja de Cristo; contudo, não por necessidade mas por pura bondade e efeito da sua infinita misericórdia, Ele quis fazer-nos participes da sua obra de redenção, tal como expressa a bem-aventurada Isabel da Trindade maravilhosamente na sua oração: “A mim, Cristo amado, crucificado por amor, vinde a mim como Adorador, como reparador e como Salvador (…) que se realize em mim como uma encarnação do Verbo; que eu seja uma humanidade suplementar, na qual Ele renove todo o seu mistério”.

Por não terem oração e realidade expiatórias e a satisfação na comunhão dos santos, falta aos protestantes um elemento fundamental de toda avida cristã: o Santíssimo Sacrifício da Missa, a união das almas com a Vítima divina nos nossos altas. A vida dos católicos é desta forma uma santa missa vivida, é um confiteor, um gloria, um credo, uma oferenda contínua, uma consagração e uma comunhão, portanto uma união da alma com o Criador, Salvador e Juiz.

Evidentemente Lutero opõe-se combate o ofertório da missa e o Canon Romano, aos quais trata como abomináveis. Introduz prontamente uma outra liturgia supostamente “reformada”, que abandona o carácter sacrificial (afastando o carácter de sacrifício expiatório e impetratório, desejando substitui um sacrifício de louvor e de acção de graças). Ainda, as palavras da consagração tomam uma carácter narrativo, o latim é substituído por língua vernácula, a comunhão é distribuída nas duas espécies.

Na verdade a realidade do Santo Sacrifício da missa está ligada à realidade da nossa vida cristã que é um combate espiritual (Luc. 5.13), uma maturação, um esforço e uma subida até que a alma alcance o esplendor da eternidade. Esse fogo do Espírito Santo, que nós católicos recebemos a cada dia na Santa comunhão, comunica-nos o espírito missionário e apostólico. Que contentamento ver essas falanges de apóstolos de Jesus e de Maria recorrer o mundo para anunciar o Evangelho, semear a palavra divina com suor e a por vezes sangue derramado; que pobre é o protestantismo em comparação com o apostolado da Igreja missionária!

Que dor infringida aos católicos aquela de ver o protestantismo estabelecer-se entre nós, da forma como o Santo Sacrifício da Missa se transforma agora em comida comunitária e o sacerdote um "presidente da assembleia", os altares substituídos por mesas, enfim, o santuário transformado em sala de reunião superficial e fria.

Há quatrocentos e cinquenta anos [o protestantismo] é uma comunidade que se celebra a si mesma e substitui a presença de Deus vivo sobre a terra. A verdade revelada, objectiva, cede lugar à livre consciência; a submissão, a obediência e o silencioso serviço deixam lugar à emancipação e até direitos do homem.

O católico moderno já não quer ajoelhar-se para receber a comunhão sobre a língua, é adulto, pode servir-se a si mesmo. A Igreja, sendo unidade de Fé, de culto e de governo, desaparece completamente para deixar lugar a um conjunto de inumeráveis opiniões e diversas correntes, a uma liturgia criativa e subjectiva, aos erros da livre interpretação. O carácter sobrenatural da igreja, especialmente no caso da sua liturgia, desaparece por dar passo ao naturalismo, humanismo e liberalismo.

Não é difícil descobrir o parentesco espiritual que existe entre o protestantismo e o neo-catolicismo. Ser católico significa ser humilde, aceitar com espírito de absoluta dependência a revelação de Deus, viver como um filho na casa do Pai. Por trás do protestantismo esconde-se a antiga palavra pronunciada pelo antigo rebelde: “Sereis como Deus”. O protestante, como o neo-católico, não quer submeter-se nem em espírito, nem em vontade, nem demonstrá-lo pela sua actitude exterior, não se ajoelha. “Non serviam”, acaba por ser a sua divisa.

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