20/11/12

PROBLEMAS FUNDAMENTAIS RELATIVOS AO CONCÍLIO VATICANO II (I)

É muito grande o problema que envolve a temática "Concílio Vaticano II". Digo "temática", porque confirmo que é ambíguo dizer "o problema que envolve o Concílio Vaticano II": uns poderiam considerar o concílio em si, outros poderiam considerar o conjunto de textos finais do Concílio e que se apresentam publicados num mesmo livro chamado "Concílio Vaticano II". O Papa, Bento XVI, justamente faz esta distinção entre "Concílio" e "letra do Concílio".

O que entender por afirmações tais como "o Concílio Vaticano II contem erros doutrinais"? Ora, a bem ver, este enunciado, se não lhe quisermos dar o devido desconto, é talvez impossível, pois ditos erros apenas se expressam na "letra do Concílio" e não talvez no acontecimento do Concílio Vaticano II (tais erros têm sido apontados no texto) - por isso a frase em questão é uma forma breve de dizer "nos textos do Concílio Vaticano II há erros doutrinais". Assim há a necessidade de um uso mais preciso de palavras para segurar estas distinções, pois de outra forma não há como ultrapassar certa superficialidade na abordagem do tema e evitar eternas confusões.

Mas estas distinções, por outro lado, levantam problemas: Como pode a letra ser problema ou a origem dele se não é um ser vivo, não é livre, nem é fruto do ocaso? Evidentemente que o problema tem que ser buscado no humano: o redactor. Mas não é um mero acidente humano, ou seja, não é um acidente grotesco como um borrão de tinta, ou uma palavra mal mal colocada por engano. Quando se disse que o problema é a "letra" é no sentido de "texto": problema discursivo, não pela forma do dizer mas pelo modo de interpretar o Concílio por parte do redactor final. Agora, ajustando palavras: haveria então o "Concílio" (acontecimento), a "letra do concílio", e o "Concílio do redactor" (interpretação do redactor) não coincidente com o "Concílio" - supostamente imaculado nos seus pronunciamentos - e expressado no que temos chamado de "letra do concílio". Quando se quisesse dizer que o Concílio Vaticano II entra em conflito com o Doutrina da Igreja, alguém tentaria fazer uma correcção dizendo que: na verdade é o "Concílio do redactor" que não coincide com a Doutrina, e que assim a "letra do Concílio" expressa o  que o redactor interpretou. Mas... se o redactor foi falível, e assim falível o seu produto final (a redacção), e se o Concílio for realmente imaculado nos seus pronunciamentos, haveria que dispensar, hoje, a chamada "letra do concílio".

Mas o mesmo problema estaria também na letra de todos os Concílios? Este problema dá-se apenas a respeito do Concílio Vaticano II! E se assim não fosse nada de fiável poderia ser retirado da letra dos Concílios. Temo que a culpabilização da "letra" possa aventurar alguns em dizer que também as Escrituras Sagradas são imaculadas (verdadeiramente inspiradas) mas que, à imagem do Concílio Vaticano II, é o texto final aquele que contem problemas: haveria assim um espírito das Escrituras pelo qual se haveria de corrigir a letra, ou, interpretar a letra. Ao fim e ao cabo, esta mesma "teoria" não consegue deixar de ser a condenada hermenêutica do "espírito do Concílio" colocada agora na forma como o redactor terá entendido o Concílio: o "Concílio do redactor" seria o espírito interpretativo da "letra do Concílio".

O problema não é "a letra do concílio" mas apresenta-se "pela letra do concílio", e haveria que saber se o problema "é originado com o redactor" ou se antecede o redactor e chega ao texto "pelo redactor". E assim sucessivamente até dar com a origem, ou as origens do problema, caso o problema exista. Sim, é que o problema na letra do Concílio, segundo parece, não está claro: se o Concílio foi realmente imaculado, teremos um tipo de problema muito grande, mas pode acontecer que o Concílio Vaticano II seja muito especial e único e que isso lhe confira características mais modestas e condicionadas.

A constatação de que a redacção final do Concílio Vaticano II não coincide totalmente com a Doutrina da Santa Igreja, foi feita por Bento XVI, que procedeu à correções a respeito do "subsiste em". Não é esta a única grande exepção histórica a respeito da menor autoridade dos textos finais do Concílio Vaticano II: é o único que quis expressar-se UNICAMENTE a um nível mais modesto (pastoralmente). Estas duas características não podem então ser dispensadas ao olhar o Concílio Vaticano II hoje. O Concílio tinha todo o poder, podia ter até definido muitos dogmas, mas não o fez: da mesma forma que um Papa pode pronunciar-se infalivelmente e não o fazer em todo o seu pontificado (valha-nos o exemplo).

Acontece que muitos querem tomar o Concílio Vaticano II como imaculado, infalível no seu produto final, e alguns até fazer dele um Super-dogam que anularia a Doutrina da Igreja (doutrina esta que não pode ser diminuída e que antecede o Concílio Vaticano II). A par desse erro, e sendo coerentes com ele, deitaram mão ao "Concílio do redactor" como lei pela qual haveriam de moldar toda a milenar Doutrina Católica, e filosofia tomista. E se assim foi realmente, então teremos de concluir que o grande erro relativo ao Concílio Vaticano II foi afinal tomá-lo por uma coisa que ele não é nem pode ser, e para tal contribuiu o factor de NOVIDADE deste concílio "anómalo" tomado por normal (à imagem de todos os anteriores). Este será então o ERRO mais importante a corrigir (e não o segundo ou o último) condiciona todos os outros associados.

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