10/11/12

CATOLICISMO NÃO É FUNDAMENTALISMO (I)


FUNDAMENTALISMO
E
CATOLICISMO AUTÊNTICO
(P. Paul Natterer)

Como preâmbulo para a minha apresentação eu gostaria de destacar um facto impressionante: a condenação, cada vez mais proeminente, a concepção tradicional da Fé, da Igreja e do Cristianismo, qual hoje qualificado de "fundamentalista". É impossível negar que, dentro e fora da Igreja, a resistência católica tradicional (cuja personalidade de destaque  foi Mons. Lefebvre) foi considerada "fundamentalista", como um ressurgimento de um dogmatismo superado e de concepções pré-conciliares de sociedade e da moralidade, bem como uma traição do ideal cristão. Este 'fundamentalismo' opor-se-ia à marcha triunfal do racionalismo científico e do humanismo (dignidade humana, os direitos do homem, liberdade de consciência), que penetrou no seio do cristianismo após a Reforma, e nomeadamente depois do Século das Luzes e da Revolução Francesa.

Como exemplo vou citarei os julgamentos feitos por Wolfgang Beinert, professor de Teologia na Universidade de Regensburg, que provavelmente é o crítico alemão mais conhecido do 'fundamentalismo' católico. A sua obra 'katholischer' Fimdamentaüsmus: Häretische Gruppenin der Kirche? (Regensburg, 1991) destina-se principalmente (mas não exclusivamente) contra os "lefebvrianos". Considera-os imbuídos de uma ideologia repressiva baseada em "um diretor princípio capital: caráter absolutamente obrigatório dos textos bíblicos em especial os do Magistério, excluindo a hermenêutica histórica-crítica (...) A variante católica do fundamentalismo nega a determinação histórica de todo o conhecimento da Verdade (...) Em vez de um Evangelho de amor propõe, propõe um Evangelho de medo e coacção, e produz, como consequência lógica interna, a intolerância, o amordaçar da consciência  e multiforme agressividade ». (Wolfgang Beinert (ed.), "Katholischer" Fundamentalismus. Häretische Gruppen in der Kirche?. Regensburg 1991, pág. 59) 


Mas ainda não é assim que Beinert dispara tudo contra os 'fundamentalistas' e, mais adiante, usa conceitos e categorias de psicanálise para mais firme ataque. Eis o seu diagnóstico: assim deve-se considerar que o fundamentalismo católico "se opõe àquilo que o mundo actual propõe para a maturidade e liberdade do indivíduo" (pág.. 58), antes de mais é um mal psicológico, uma deficiência do Eu, um resíduo da adolescência, que "mostra sinais significativos de alterações patológicas da ideologia e da desilusão" (pág. 71, e pode "curar-se fundamentalmente mediante a psicoterapia" (pág. 72). para concluir com uma "fórmula chocante", Beinert declara: o fundamentalismo é a encarnação do medo e, "objectivamente, uma heresia" (pág. 81).

(fim da parte I)

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