“A muralha velha, de 1604, teve de ser arreada pelo Município em 1870; as lápides, porém, que nela se achavam embebidas, conservam-se no novo paredão; honra seja à Vereação que assim prestou essa homenagem de respeito ao passado. Copiei as lápides que lá se leem; são como aqui vão representadas:
Na tarde de 3 de Fevereiro de 1631 realizou-se aí também o suplício de Simão Pires Solis acusado de medonho desacato contra as Sagradas Formas na próxima igreja de Santa Engrácia (Snr. Eduardo de Oliveira – Elementos, como ???, pag. 339, nota)” (A Ribeira de Lisboa. Júlio de Castilho. LISBOA, M DCCC XCIII. Pág 99-100)
“Voltemos de relance ao palácio dos Telles de Mello. À sua esquina se encostava a porta chamada da Cruz. Estude-mo-la.
Era, como obra de arte, a mais perfeita das seventias dasgadas na cerca, segundo o testemunho de Frei Apolinário de Conceição (Demonstração histórica, pág. 207). Tinha para a parte de dentro um nicho de vidraças, com a Imagem de Cristo crucificado. Da parte exterior duas colunas com uma arquitrave que as unia, na qual se achava gravado o elogio da Conceição da Senhora. Por cima outro nicho, também envidraçada, com uma Imagem de Maria Santíssima. Tanto este como o outro nicho, eram alumiados todas as noites pela devoção dos vizinhos. À esquerda da porta, numa lapide embebida na alvenaria, lia-se esta inscrição, que hoje existe conservada na parede do palácio:
Aeternit. Sacr.
Immaculatissime Conceptioni
Mariae Ioann. IIII Portugall. Rex
Una cum general. Com?t?s se et regna
Sua sub annuo censu tributaria publi
Ce uovit atq Deiparem in Imperit Tute
Larem Electam a labe origin. Preservatam prepetuo defensurum juramfirmavit
Univeret ut Pietas Lusitan
Hoc uivo lapide memoriale perenne exarari iussit
Ann. CHRISTI 1646 imper. Sui. 6.
Tradução:
“Memória consagrada à Eternidade. À Imaculada Conceição de Maria, João IV de Portugal, de acordo com as Cortes gerais, publicamente devotou as sua pessoas e os seus Reinos por tributários de um censo anual; e com juramento se confirmou a si próprio para todo o sempre como defensor da Mãe de Deus, eleita Padroeira do Reino, e imune de pecado original. Para que tão piedoso sentimento português se perpetuasse, mandou exarar esta memória perene em viva pedra, no ano de Cristo de 1646, sexto do reinado do mesmo senhor”.
Quer o leitor saber quem compôs esta inscrição? Nada menos que o Doutor António de Sousa de Macedo. Ele próprio o conta da seguinte maneira:
Tomada por el-Rei D. João IV a Virgem da Conceição para Padroeira do Reino, jurado isso nas Cortes de 1646, e celebrada festa soleníssima na Universidade de Coimbra, ponderou uma vez a António de Sousa de Macedo o seu amigo Frei António das Chagas, Lente jubilado da Faculdade de Teologia, quanto seria belo comemorar o facto em inscrições de mármore sobre todas as portas da cerca de Lisboa, e de todas as cidades e vilas do Reino! Macedo apresentou o alvitre a el-Rei; e este senhor, aprovando-o, deu-lhe logo ordem de compor a inscrição que se havia de gravar, dizendo-lhe, para o honrar, que só dele fiava a incumbência. (Eva e Ave, parte II, cap. XV, in fine)
Foi, com efeito, como diz a lápide, no ano de 1646, que a 25 de Março baixou a Provisão do dito Soberano, declarando Padroeira do reino a Senhora da Conceição. (Pode ver-se a pág. 111 e seg. do tomo IV do Gabinete histórico)
Mas, segundo creio, a devoção municipal à Conceição de Maria é mais antiga: já em tempo dos Filipes se pensara em pôr nas portas da Cidade comemorações epigráficas desse Mistério. Há uma Carta Régia de 28 de Março de 1618, em que D. Filipe II diz aos vereadores de Lisboa:
Vereadores etc.. Recebeu-se a vossa carta, por que me dais conta de como, movidos de devoção do mistério da Conceição da Virgem Maria, nossa S.rª, e para que no povo se acrescente, quereis fazer pôr nas portas principais dessa cidade letreiros, abertos em pedras, em que se afirme que foi concebida sem pecado original, e aprovo muito a piedade com que nos movestes, e assim o podereis executar; e muito vos encarrego que seja sem dilação (Elementos, Oliveira, como II, pag. 411. Esta carta está no cartório da Cam. Mun. De Lisboa, liv. I de D. Filipe II, fl. 194)´” (pág. 104)
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