Eis um extracto do projecto de
revolução composto pelo Conde de Mirabeu, apanhado em casa de Madame Gai por um
doméstico e vendido a Mr. Houle (Oficial no Regimento de Dragões da Rainha). O
projecto foi depois impresso com outros escritos do género e levaram o título
de “mistérios da Conspiração”. A fonte é a "Refutação dos Princípios Metafísicos, e Morais dos Pedreiros Livres Iluminados" do Pe. José Agostinho de Macedo, no ano de 1816, pág. 222.
Uma nação junta não se muda. Só
tem em vista o interesse comum para o estabelecer. Deve destruir- toda a
resistência; e atendei bem para isso. Nada
pôde ofender a justiça, quando se trata do bem geral. Eis aqui o princípio.
Trata-se agora de saber qual seja o caminho que é preciso tomar para chegar à
restauração geral. É preciso destruir
toda a ordem, e suprimir todas as leis, anular o poder, e deixar o Povo em
Anarquia. As Leis que fizermos, não terão logo todo o vigor, não o terão
talvez depois; mas é preciso restituir a força ao Povo; desistirá por sua
liberdade, persuadido, que a pode conservar. É preciso lisonjear seu amor próprio,
e sua esperança, e prometer-lhe a felicidade depois nossos trabalhos. É preciso
iludir seus caprichos, e os sistemas que ele tem feito à sua vontade; porque o Povo Legislador é muito perigoso,
so estabelece Leis que coalizam com suas paixões. E como não haja mais que
uma alavanca que os Legisladores movem à sua vontade, é preciso que nos
sirvamos dele fazendo-lhe odiar tudo o
que quisermos destruir. É preciso semear a ilusão em todos os seus passos;
comparar todas as penas mercenárias que propagarão os nossos meios, e lhe farão
ver que nós não atacamos mais que os seus inimigos.
O Clero sendo na opinião o mais
poderoso, não pode ser destruído, senão metendo-se
a ridículo a Religião, tornando odiosos seus Ministros, e dando-os a conhecer
como outros tantos monstros hipócritas; porque Maomé para estabelecer a sua
Religião, começou por infamar o Paganismo que os Árabes, os Sarmatas, e os
Seitas professavam. É preciso que todos os instantes os Libelos abram um novo caminho ao ódio contra o Clero: é preciso
exagerar suas riquezas, tornar gerais os crimes, e os erros particulares, atribuir-lhe
todos os vícios, a calúnia, o assassínio, a irreligião, o sacrilégio. Nada de delicadeza, tudo é permitido nas
Revoluções.
Venhamos à Nobreza. É preciso
aviltá-la, e dar-lhe uma origem odiosa. É preciso estabelecer um gérmen de
igualdade, que não pode existir, mas
que lisonjeará o povo. É preciso sacrificar os mais preocupados, incendiar, e
destruir suas propriedades para intimidar os outros. Se não podemos destruir
inteiramente a preocupação da Nobreza, ao menos a enfraqueceremos, e o povo
vingará seu amor próprio e seu crime com todos os excessos, que obrigarão os
nobres a fazer o que nós quisermos.
Em quanto à Corte, é preciso
eclipsá-la aos olhos do Povo, anulando todas as Leis que a protegem. O Duque de Orleans não omitirá coisa
alguma para dar explosão à sua vingança. É preciso degradar a Corte até tal
ponto, e com tanto excesso, que em lugar de veneração, o povo não tenha mais
que ódio, e aversão a seus Soberanos.
É preciso que os considere como seus inimigos, e que esteja pronto a se vingar.
É preciso lisonjear o soldado, levantá-lo contra a autoridade legítima,
fazer-lhe odiosos seus Oficiais, e os Ministros, aumentar seu soldo, fazendo-o
o homem da Nação, e não do Rei; enviar-lhe emissários, que o instruam de nossos
projectos, e faze-lo patriota. E não vedes vós que sem isto nossos inimigos
iludirão todas as nossas vistas, todas as nossas combinações, todos os nossos
meios pela força das armas? Passemos aos Parlamentos.
É preciso representar ao povo sua
venalidade, que recaiu sempre sobre o mesmo povo. É preciso mostrar-lhe os
Magistrados como Déspotas altivos que vendem até os seus mesmos crimes. O povo
ignorante, e bruto, só vê o mal, e não o bem das coisas. Não digo nada dos
Financeiros. Será infinitamente fácil convencer o povo, que tudo são abusos na
administração da fazenda, e que só merecem indignação os que ela presidem.
Notai bem, que o Rei, e os Grandes procurarão frustrar a nossa Revolução com
guerras intestinais, ou com os estrangeiros. É preciso pois, para que isso
tenha um completo êxito levar o espírito de independência a todos os povos circunvizinhos.
Isto não será coisa muito dificultosa. O espanhol é muito inflamável, e geme há
muito tempo debaixo do jugo tirânico do Despotismo e da Inquisição. Os
italianos são tão arrebatados com os Franceses, e depois que começou a levar entre
eles o Espírito Filosófico,
desprezarão a Tiara. O alemão é mais difícil de se mover, porém sua escravidão
o indigna contra seus Déspotas. É preciso espalhar ouro na Alemanha. Todos os
que se deixarem corromper propagarão a insurreição. O brabante se inflamará com
o mais leve assopro. A Holanda é toda nossa. A Inglaterra nutrirá, e sustentará
nossas desordens. Seu ódio natural contra os franceses, não lhe deixará tomar
um partido generoso para defender nossos direitos, se neste partido não devisar
se próprio interesse. Quando o Gabinete de S. Jaime nos queira fazer guerra,
opor-se-ão os Comuns, porque nós lhes diremos, que o que pretendemos é destruir
o Despotismo, e como eles são. A Prússia tem vistas que poderão prejudicar, mas
a Rússia a saberá conter. Enquanto à Sardenha, este Reino não nos deve meter
medo, não é uma Potência que possa afrontar um grande povo ardente, e impetuoso
como são só franceses. É preciso aguerrir
este povo. É preciso mais que tudo fixá-lo na defesa das fronteiras, e para
isso cumpre nutrir, e acender se furor, alentando suas esperanças com as
supressão de impostos: intimar-lhe surdamente a matança, e extermínio dos
inimigos da Revolução como um dever útil ao Estado. Nós devemos exigir o
juramento a todos aqueles que se juntarem a nossos projectos, e formar diversas
sociedades, que em suas sessões tratem o mesmo assunto discordando (para
disfarce) de opinião. Enfim, importa admitir o povo aos estabelecimentos que
devemos criar, concedendo-lhe a voz deliberativa nas Assembleias gerais; isto
é, dará um veículo de honra que lhe fará andar a cabeça à roda. Mas é preciso
não deixar às Camaras mais do que um poder limitado. Se lhes deixarmos muita
força, seu Despotismo será muito perigoso. Lisonjeemos o povo com uma justiça
gratuita; prometamos-lhe uma diminuição de impostos, e uma repartição mais
igual. Estas vantagens o hão-de fanatizar e removerão toda a resistência.
“Ah! Que importam as vítimas, o seu número, as espoliações, as
destruições, os incêndios e todos os efeitos necessários de uma Revolução? Nada
nos deve ser sagrado. Digamos como Maquiavel: Que importam os meios com
tanto que se consiga o fim!”
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