Republico o "O Punhal dos Corcundas" da autoria de Fr. Fortunato de S. Boaventura (que veio a ser Arcebispo de Évora e exilado mais tarde em Roma por perseguição do Liberalismo de D. Pedro). Tomo a liberdade de fazer esporádicos e pequenos ajustes gramaticais ao texto, unicamente para que o leitor não perca a informação contida no texto por dificuldades de letra.
Advertências aos Pedreiros Livres
Podendo ser que o meu título vos
assuste, vos obrigue a vociferar, e talvez a que me chameis Bota-Fogo do Clero e dos nobres, e
Apóstolo do despotismo e da anarquia, importa admoestar-vos caritativamente que
ninguém vos dará crédito, e que feita uma pequena mudança de um refrão antigo,
todos vos poderão dizer. Bem o prégou Fr., isto é o Irmão Tomás, se bem o disse
pior o fez…. Com que a necessidade de exterminar a ferro e fogo os corcundas,
qual se intimou nas Sociedades Patrióticas de envolta com a celebérrima
indicação de um mês de anarquia não
era nada? Com que as narradas no Congresso (nunca lhe chamei Soberano, porque
chamá-lo assim era uma heresia religiosa e política, nem se quer lhe dei a
pavonada de nacional porque os tristes povos não metiam para aí prego nem
estopa) com que as marradas tendentes para o extermínio dos Corcundas, eram uma
brincadeira? Com que o aliciamento feito por miseráveis estudantinhos tão
desaforados como ignorantes para que as tropas no seu trânsito por Coimbra
matassem os Frades e os Corcundas, era um jogo de crianças? Ora pois calai o
bico senão terei muito que sofrer… e não é muito que zombando eu desse punhais
ainda mais curtos do que os vosso entendimento com que haveis lançado uma
espécie de contribuição a toda a casta de ferros e de ferreiros… desse ao meu
papel o Soberbo e pomposo título do único santinho que vós adorais, e trazeis
ao pescoço; mas cumpre fazer uma e bem especial diferença.
O vosso é propriamente a arma dos
cobardes e dos tolos que, não sabendo responder às objecções dos Corcundas, se
valem de fanfarrónicas ameaças e de cartéis de desafio, verdadeiros testemunhos
de crassíssima ignorância que mui brevemente hão-de ser postos à Luz do dia… O
nosso, isto é o punhal dos corcundas, é o punhal da razão e da experiência, é o
punhal digno do homem estudioso, é o punhal que não sabeis usar, porque além disso
a natureza foi mesquinha convosco (pois se o Doutor Gall fizesse algum exame
dos vossos crânios, apenas descobriria os órgãos da perfídia da impudência, e
da incredulidade é de notar que no período de três anos, tereis feito
retrogradar séculos à nossa literatura se os vossos escritos servissem de norma
para o diante. Meninos, ide para a escola… e assim mesmo com essas carinhas da
pouca vergonha quereis destruir e aniquilar o trono, e a Fé!!!
Como deverá refutar-se o
Maçonismo.
In illo Tempore = Vogou por todos os Reinos da Cristandade um
desalmado furor a que se deu o nome de Cavalaria andante. Matavam-se uns aos
outros por “dá cá aquela palha” quem
bem pouco mais era a questão se Dulcineia excedia em formusura a Floripes ou
esta a Rosalunda… Depois de se empregarem inutilmente as próprias armas da
Igreja, sem tornarem a si aqueles doidos rematados, aparece o melhor dos Romances
antigos e modernos, isto é “D. Quixote de
La Mancha”… e logo meteu pernas a Cavalaria andante, que intimidou de que
as próprias crianças e mulheres da rua se pusessem a gritar quanto passasse
algum desses heróis de lança
enristada: “aí vai o cavaleiro da triste
figura!”
Já em tempos mais vizinhos do
nosso, apareceu outra doença mortal mais funesta e assoladora que todas as
pragas do Egipto, e que obrigou os que pensam atiladamente a terem saudades da
Cavalaria andante. Esta quando muito era uma Sarna ou tinha sim contagiosa,
porém felizmente não chegava senão a meia dúzia de entusiastas em cada um dos
Reinos da Europa, nem consta que se derramasse pelo povo miúdo nem que
conduzisse os Reis ao patíbulo, nem que menoscabasse ou desprezasse a
verdadeira Religião, sintomas estes que anunciam o simples começo de nova
pestilência.
(Continuação, II parte)
(Continuação, II parte)
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