13/04/12

D. MIGUEL I - NOTAS HISTÓRICAS (II)

(continuação)
D. João VI (retrato não oficial)
"Da infame calúnia, que é a da mesma época, sobre a morte do Marquês de Loulé, nem sequer julgo hoje sesudo e digno ocupar-me neste escrito, sendo já tantos e tão significativos os factos e testemunhos que a aniquilaram.

Mencionarei somente que numa História Chronologica de Portugal que, sob o regime liberal, aí foi por muito tempo adoptada nas escolas, se lê numa das suas notas, referindo-se a esta acusação o seguninte:

«Espalhou-se muita infame calúnia a respeito deste acontecimento.»

Quem poderia cuidar que, havendo somente decorrido um ano, a facção opressora de que falava o Conde de Palmela, favoreciada pelas intrigas revolucionárias, de dentro e de fóra do Reino, se apoderaria de novo do ánimo pusilâmine do Monarca, e de sua  mesma liberdade?

E contudo assim aconteceu, e de tão estranho modo que outro feito completamente igual, outra idêntica resolução do mesmo Principe, pelos mesmos nobilíssimos motiv[......] avaliada, diversamente pintada, insidiosamente caluniada. Os revolucionários, que no íntimo do coração, não lhe tinham perdoado, nem perdoaram nunca, a façanha de 1823, acharam agora azado ensejo para se vingarem, e induzirem El-Reia refugiar-se a bordo de uma Nau inglesa Windsor Castle figurando-lhe que só ali estaria em segurança contra os projectos de seu filho, projectos que só existiam na imaginação de seus inimigos, e que o egrégio Infante desfez, como fumo ao sopro do vento, acudindo aos pés de seu Pai e Rei assim que o chamou, ouvindo-lhe submisso as suas ordens, partindo sem hesitar para o desterro e quase prisão de Viena de Áustria, embora com o disfarce e ][longa duração] de uma viagem, para se instruir.

O exército, e o povo, em grande excitação à sua ida a bordo, por bem suspeitarem e temerem do que podia suceder ao seu Infante - como lhe chamavam - em mãos inimigas, só procuravam ansiosos uma palavra que viesse de seus lábios, para acudirem a libertá-lo e libertar conjuntamente o Soberano, que também, com razão, reputavam coacto pelo susto que em seu fraco ânimo mentiam os que novamente o dominavam. Mas o preclaro Infante achou, na grandeza da sua alma e na sua afectuosa piedade filial, valor bastante para, numa cega obediência, contra todas as boas razões que o podiam escusar e até justificar, se mostrar súbdito fiel aos olhos de todos, e dar um notável exemplo de dedicação patriótica; especulo que, por modesto, não deve merecer menos lugar de honra na história portuguesa.

As intrigas revolucionárias a que aludi, com remificações internas e externas, neste caso do dia 30 de Abril de 1824, cuido que tenho documento que me autorise para as mencionar.

Mas "Istrucções políticas" enviadas pelo Grande Oriente de Hespanha ao Grande Conselho de Portugal, e impressas em Cordova no fim do ano de 1823, lê-se o seguinte:

«E se, como se deve esperar, a rainha e seu filho nos contrariarem, fazendo demitir o ministério, todos os diplomados da Ordem se reunirão para protestarem contra uma tal medida, declarando à face da Europa que a rainha e o filho conspiram contra os direitos da legitimidade; e excitem todos os embaixadores a tomarem parte neste negócio em nome dos seus soberanos; porque desta maneira os ministros hão de se reintegrados, etc.»

(Tem continuação)

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