02/03/12

TANTOS BENEFÍCIOS - CONVENTO DE MAFRA - PRIMÓRDIOS


"A 35 Kilómetros ao norte de Lisboa, e 20 ao nordeste de Sintra, está situada Mafra, povoação antiquíssima tomada [reconquistada?] por D. Afonso Henriques aos mouros em 1146. D. Diniz lhe deu o foral de vila em 1304, e foram dela senhores os condes de Penela.. (...)

É aí que existe o mais gigantesco edifício de Portugal, e talvez um dos mais belos e gigantescos da Europa. (...) Parece impossível como apesar da força de vontade inexcedível do monarca, e dos muitos milhões de cursados ali empregues, se pôde no curto espaço de 13 anos concluir uma construção tão grandiosa e soberba.

Um edifício que ocupa uma área de 40.000 metros quadrados, com 4.504 portas e janelas, 880 salas, duas torres de 65 metros de altura, dois soberbos torreões, um zimbório majestoso e rico de belo calcário, considerado tudo juntamente, (...) devendo ainda notar-se a atendível circunstancia de que os mesmos homens, quero dizer, o mesmo monarca e o mesmo arquitecto que empreenderam, executaram essa empresa, circunstância esta que concorre para a unidade de pensamento que se nota nas suas formas (...).

Quanto à despesa que se fez na edificação total desta imensa fábrica, não se sabe precisamente qual foi, há quem diga 28 milhões de cursados - há quem assevere menos, e há quem eleve a 54 milhões. Seu fundador não quis decerto que se fizesse conta geral (...).

(...) D. João V havia-se desposado em 1708, e dois anos depois ordenava ele a Fr. António de S. José, frade de reconhecida virtude, rogasse a Deus pela sucessão ao trono, que ele prometia fazer em Mafra um convento a sua corporação [ordem]; em 1711 nasceu D. Maria Bárbara - ficou portanto o Rei ligado ao voto (a veracidade do facto prova-se com as inscrições gravadas nas pedras lançadas nos alicerces, como adiante se mostra).

É certo que em 1717 teve lugar a inauguração desta tão grandiosa fábrica, onde se agruparam com incrível rapidez milhares de indivíduos para edificarem essa soberba colónia de todas as artes, profissões e ofícios - edifício majestoso, cujas formas cheias de nobreza e proporções colossais recordam não só a nossa riqueza de outrora, como a piedosa gratidão do monarca para com a Deus, a quem o edifício foi primordialmente dedicado.

(...) serviam [também estas grandes construções como esta] muitas vezes para fazer reviver as industrias e as ciências, sendo certo que cada monumento é uma página da história de um povo.

Quando se construiu o edifício de Mafra, estava em Portugal [relativamente] esquecida a arte de trabalhar em pedra - o arquitecto começou por instruir uma escola de cabouqueiros, canteiros e escultores; e é da escola de Mafra, continuada na Ajuda, que descendem os mestres dos mestre que hoje temos trabalhando em pedra, sem dúvida com grande perfeição. (...)

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