13/03/12

PROTECÇÃO À FRANCESA !!! (III)

(continuação)

Depois da "Protecção à Francesa" seguem agora vários sonetos e uma décima que seguem o mesmo sentir:

Tropas de Junot entrando entrando em Portugal

DÉCIMA

Esse que teve em Lisboa
De Intendente a graduação,
Tinha toda a negação
para fazer cousa boa:
Era muito má pessoa,
E bem se viu no que fez;
Só de sinais tinha três,
Com que a gente se zangou,
Sempre o maldito mostrou
Ser ímpio, calvo, e Francês.

SONETO [I]

Suspendei, Deus Eterno, Impulso de ira;
Descanse de gemer a Humanidade,
Que ao peso de opressões de crueldade,
Sucumbe tudo, que entre nós respira:

Se a guerra contra os homens se conspira,
E não tendes nós, Senhor, piedade,
Confunde-se a Inocência coma maldade,
E envolto em sangue e póo Mundo espira:

Vós sois um Deus de Paz, de Vós emana
Huma vez o perdão, outro o castigo,
Que ao vivente iluminado desengana:

Mas dos filhos um Pai foi sempre abrigo,
Derramai a união na espécie humana,
Não mais assole a terra um inimigo.

SONETO [II]

Não basta do homem ser tão curta a vida,
De mágoas, e infortúnios rodeada?
Ainda a procura ver sacrificada
Ao ferro, ao fogo em guerra desabrida!

Há-de ser uma fera embravecida,
Nunca de sangue humano saciada!
Há-de a terra de corpos ver juncada,
Sendo do seu igual bravo homicida?

Mania horrenda! propensões estranhas!
Que mais fazem os brutos, que não seja
Comer, dormir, brigar nessas montanhas?

Em guerra acabe quem pugnar deseja,
E roam-lhe as maléficas entranhas
Raiva, intriga, ambição, capricho, inveja.

SONETO [III]

Ímpio de coração tão bronzeado,
Surdo à desgraças, surdo à voz da morte,
Que expõe os seus da guerra à dura sorte,
Só de ambição, e glória entusiasmado!

Que se apraz de ver sempre separado
Do pai o filho, a esposa do consorte,
Que só o torpe Egoísmo tem por Norte,
De troféus e tesouros esfaimado!

Monstro que o que respira são venenos,
Com que empesta os mortais, e que só preza
Ser flagelo de grandes, e pequenos!

É no mundo um aborto de estranheza,
Homem não pode ser, e bruto menos;
Porque nem segue a lei da Natureza.

SONETO [IV]

Um homem com cabeça de donato
Tendo por barretina uma caneca,
Os olhos gázios, boca d'alforreca,
O pescoço estendido como gato:

Borjaca cuja, e rota por ornato,
Espada, que andou já por céca, e Meca,
Calças de brim na perna nua, e seca,
Os dedos quase fora do sapato:

Uma pele de cabra sobre o lombo,
Cabecinha, panela, e caçarola,
Espingarda, que leva muito tombo:

Eis um Guerreiro da Francesa Escola,
Agudo em manhas, em juízo rombo,
Que outro Deus não tem mais que a passarola.
(terá continuação)

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