15/02/12

RETRATO DE CALVINO, DOS SEUS DISCÍPULOS E COOPERADORES (III)

"Recolhendo novamente o fio dos testemunhos dos calvinistas contra o seu mestre, apresenta-se-nos o famoso Castiglione dirigindo a Calvino as seguintes palavras: "Não pode deixar de ser falso o Deus que é tardo para a misericórdia e pronto para a cólera; que criou a maior parte dos homens para perdê-los, e os predestinou não só à condenação como à própria causa da condenação. Terá decretado por ventura este Deus desde a eternidade, quer actualmente, e faz que o homem seja impelido necessariamente ao pecado até ao ponto que os adultérios, furtos e homicídios não se cometam senão por instigação sua? Não se deduz outra coisa das suas doutrinas, pois segundo elas, Deus é quem infunde nos homens afectos maus  e desonestos, que os perverte, não por uma simples permissão, mas por uma eficácia tal, que o ímpio executa a obra de Deus e não a sua própria; e por último, ele, e não Satanás é o pai da mentira". (In L br. de praedest. ad Calv.)

Em vez, porém, de negar Calvino os ensinos que lhe atribui aquele heresiarca, eis aqui como responde às suas acusações: "Jamais homem nenhum levou tão longe o orgulho, a perfídia, e a desumanidade. Quem não te conheça por um impostor e bufo de cínica impudência, disposto a ladrar contra tudo o que for santo e bom, não tem sentido comum". E termina com esta bênção digna de um homem de tal jaez: Que o Deus Satanás te abençoe. Assim Seja, Genebra. 1558."

Não é diferente o juízo que deste miserável formaram os anglicanos daquele tempo. No ano de 1558 apareceu em Londres um escrito, composto, ou pelo menos aprovado, pelos bispos anglicanos contra a seita calvinista dos puritanos. Calvino e Beza são tidos nele como homens intolerantes e orgulhosos que, tendo-se rebelado contra o seu legítimo príncipe, tinham fundado o seu Evangelho e pretendiam dominar a Igreja com uma tirania muito mais odiosa do que a que atribuíam frequentemente aos romanos Pontífices. "Protestamos, acrescentavam, que entre todos os textos da Escritura alegados por Calvino e pelos seus discípulos em favor da Igreja de Genebra, e contra a de Inglaterra, não há um só que não tenha torcido num sentido contrário ao da Igreja e dos Padres desde os tempos apostólicos: e isto de tal modo que se S. Agostinho, S. Anselmo, S. Jerónimo, S. Crisóstemo, etc., tornassem à vida e vissem o modo com que é citada a Escritura pelos doutores ginebrinos, se admiram de encontrar no mundo um homem de audácia tão desenfreada, que sem a mais leve cor de verdade, abuse da palavra de Deus, de si mesmo, dos seus leitores e do universo inteiro." Continua o mencionado escrito declarando que a impura fonte ginebrina espalhou pela Ingalterra uma doutrina envenenada, sediciosa e catilinária, e acrescenta: "Feliz mil vezes, feliz a nossa ilha, se nenhum inglês nem escocês tivesse posto o pé em Genebra, nem tivesse conhecido um sequer dos doutores ginebrinos."

Não faltam também nos nossos tempos protestantes Calvinistas em Genebra que julguem severamente Calvino e as suas obras. Tal é, entre outros, o sr. Duceman, chanceler do Estado, o qual em 1824 publicou um opúsculo provando:

1.º Que Calvino, longe de iniciar em Genebra uma era de liberdade, de paz, de fraternidade, de sabedoria, e caridade cristãs, não fez mais do que inaugurar e plantar na república um regime civil, político e religioso o mais selvagem e feroz, um governo delator, suspicaz, invejoso, usurpador e sanguinário, que em tempo de Calvino, e até muito depois, não deixou de exercer actos do mais cruel e brutal despotismo. O autor chega a esta conclusão aduzindo provas com exactidão matemática e citando milhares de homens e mulheres a quem o vingativo e feroz reformador fazia encarecer, desterrar, multar, matar e queimar quando tinham a desgraça de lhe desagradarem nos negócios ou nas controvérsias religiosas."

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