03/12/11

DATAS DA CONCEPÇÃO, NASCIMENTO, MORTE E RESSURREIÇÃO DE CRISTO


Transcrevo todo o capítulo XX intitulado "Do mez, dia; hora da Conceição, Nascimento, Morte; Resurreyção de Christo" (pág. 108) do livro "Epitome Chronologico, Genealogico, & Histórico, Dividido em Quatro Livros e Composto pelo Padre António Maria Bonucci da Companhia de Jesus, Missionário na Província do Brasil" (LISBOA - 1706). Do texto que vamos ver há que separar as partes que são Tradição da Santa Igreja, outras que são cálculos apoiados nelas.

Licenças dadas ao livro:
- Companhia de Jesus: Pe. Miguel Dias, Provincial de Portugal confirma que o livro foi "examinado e aprovado por pessoas doutas e graves da mesma Companhia". (9 de Março de 1703)
- Santo Ofício: Dos vários examinadores:
a) "...não achei nele coisa alguma contra a nossa santa Fé, ou bons costumes" (4 de Dezembro de 1703)
b) "...não achei nele coisa alguma contra a nossa santa Fé, ou bons costumes" (28 de Fevereiro de 1704)
c) "... pode-se imprimir o Livro ..." (Carneiro, Moniz Ribeiro, Hasse Rocha, Monteyro)
d) "...damos licença para que se possa imprimir o livro..." (Fr. Pedro Bispo de Bona - 4 de Janeiro de 1704)
e) "...envolvendo-se no argumento desta obra coisas tão chegadas a Deus e à Fé, tão metidas na Religião e na Igreja, que não podia ter alguma digna de censura, nem que ofendesse o soberano Real serviço de vossa Majestade  (Doutor Francisco de São Bernardo - Lisboa, 26 de Setembro de 1705)

Eis o capítulo:

"Foi Cristo concebido no Equinócio da Primavera aos 25 de Março, e nasceu no Solstício de Inverno aos 25 de Dezembro. Esta é a antiga e constante tradição da Igreja.

Encarnou o Filho de Deus aos 25 de Março, naquela noite que se segue à luz da primeira feira, ou Domingo, e que precede à luz da segunda feira: de sorte que se pôde dizer que encarnou quase no fim do dia da Dominga; ou em começando a segunda feira, pois os Hebreus começavam os seus dias da véspera antecedente. É muito provável que Cristo fosse concebido na meia noite, assim como nasceu na mesma hora, para que se diga que passaram precisamente nove meses entre a sua Conceição e Nascimento.

Nasceu Cristo na meia noite que se segue ao dia da terça feira, e precede ao dia da quarta. Por isso se diz que nasceu na quarta feira na qual como Sol resplandeceu no mundo. Porque então aquela quarta feira era o dia 25 de Dezembro. Assim é tradição da Igreja. Se bem é probabilismo que Cristo fosse concebido no ponto do Equinócio e nascesse no ponto do Solstício.

Baptizou-se Cristo aos 6 de Janeiro, na terça feira; a saber, no mesmo dia da semana em que Deus apartou as águas que estão debaixo do Céu para um lugar, para que aparecesse a terra (Gen 1). Também no mesmo dia da semana, e do mês, em que no primeiro ano de sua vida foi adorado dos Magos na Lapinha de Belém. E o ano em que Cristo se baptizou era Bissexto, a letra Dominical D. C. o ciclo da Lua o 10 e do Sol 9, e Epacta XVI com a letra do Martirológio "r". O que tudo calhou no ano 73 de Júlio, e por isso só nesse ano se pôde pôr o Baptismo de Cristo.

Mas S. João parece que nas Calendas do mesmo ano 73 de Júlio começou a exercer o ofício de Pregador, e de Baptista, e assim parece que Cristo foi dos primeiros que por ele foram baptizados, conforme a Profecia de Malaquias (cap. 3) Ecce ego mitto Angelum meum, etc. Et statim venit Dominator, quem vos queritis, etc.

Advirta-se porém que constando do que está dito, que Cristo foi baptizado no princípio do ano 73 de Júlio, e 15 do Império de Tibério, em que S. Lucas diz que fora baptizado o mesmo Cristo, não tendo começado senão aos 19 de Agosto do mesmo ano, contando os anos do Império de Tibério da morte de Augusto César, é certo que S. Lucas não contou deste modo os anos de Tibério senão a modo dos Romanos, que sempre contam o princípio dos anos dos Príncipes, das Calendas de Janeiro; posto que os Príncipes começassem o seu Império no meio do decurso do ano, como começou Tibério e outros. E isto se deve também advertir para o ano 18 do Império de Tibério, em que dissemos que Cristo, conforme a mesma contra fora crucificado.

Morreu Cristo aos 23 de Março na sexta feira às nove horas, segundo a conta dos Hebreus, e segundo a nossa, às três horas depois do meio dia. Assim o diz o Concílio Cefariense. Paulo Middelburgense na segunda parte da Paulina, livro 5, capítulos 1 e 2, alega a muitos para este dia, e o mesmo afirmam Hippolyto na Crónica Lacrancia no livro 4 da verdadeira Sabedoria cap. 10, Beda, Adon, Cedron, Anselmo, Anastácio Antioquiano e outros. Assim se colige do Ciclo da Lua 13 e do Sol 12 da Epacta XIX, da letra do Martirológio "u", e da Dominical "g" as quais circunstâncias manifestam que os 23 de Março do ano 76 de Júlio calharam na sexta feira na qual consta que Cristo morreu.

Também morreu Cristo não só no mesmo dia do mês, e da semana, mas também na mesma hora em que Adão foi lançado do Paraíso. Assim o afirmam Ireneu, Origenes e Alciato. E subiu à Cruz na mesma hora do mesmo dia, e porventura no mesmo ponto em que Adão estendeu a mão para o pomo vedado, e no mesmo em que Isaac foi quasi sacrificado por seu pai. Veja-se Pedro de Natalibus. No mesmo dia do mês, na mesma feira da semana, e na mesma hora do dia em que Adão foi lançado do Paraíso, foi restituído a ele o Bom Ladrão, como afirma S. João Crisóstomo. No mesmo em que Eva ouviu o V, ouviu Maria o Ave, diz o mesmo Crisóstomo e Cirilo de Alexandria. Mas insto se entenda conforme ao que está dito acima: porque uma e outra coisa aconteceu no Equinócio da Primavera. Também no mesmo dia e hora foi fechado, e novamente aberto, o Paraíso, diz Hugo Floriacense. Mas Beda ensina com Mariano de Escócia, que Adão e Eva no mesmo dia em que Deus os criou, no mesmo caíram na culpa e no mesmo foram expulsos do Paraíso: se bem alguns dizem que oito dias depois que foram criados o que não parece menos provável. Finalmente no mesmo dia, ao fim da semana, (isto é, na sexta feira) como também da Lua, (a saber, 15) e porventura também aos 23 do mês de Março (pois alguns dizem que fora aos 25) saíram os filhos de Israel do Egito.

Ressuscitou o Senhor aos 25 de Março, na primeira feira da semana (que por isso se chama Domingo) na aurora do dia Consta do Concílio Cesariense, e de outros Autores, e expressamente o ensinaram Anastácio Niceno, Niceforo Gregoras, Cedreno, Crisóstomo, e entre os Latinos, Lactâncio, Agostinho, Anselmo, Beda, Hermano Aleijado, e outros, os quais dizem que no mesmo dia, ao fim do mês, como da semana, foi Cristo concebido e ressuscitou, mas que ressuscitara na aurora e fora concebido na véspera, ou noite seguinte. Dizem também que no mesmo dia, (isto é, na primeira feira da semana, ou na Dominga) fora criado o mundo, começando o dia da primeira tarde. Mas isto se não pode entender dos 25 de Março, como consta do que acima fica dito.

Mas ao uniforme consentimento dos Santos Padres em colocar a Ressurreição de Cristo aos 25 de Março, reconhece também, mas não segue Josph Escaligero. E é certo que dali tomou origem o antigo costume dos Cristãos de celebrar a Pascoa aos 25 de Março, em qualquer dia da semana que caísse: como de todas as Igrejas Calicanas, e de outros povos, Epifánio, das dos Gregos e de toda a África, etc. Paulo Middelburgense: e perseverou este costume até que a Igreja mandou que sempre na primeira Dominga depois da Lua 14 que se segue ao Equinócio da Primavera se celebrasse a Pascoa, como veremos no segundo livro do Epítome Cronológico e Histórico. Da mesma sorte manou também aquela conjectura de muitos que dizem que o extremo juízo e a ressurreição dos corpos há de suceder no mundo aos 25 de Março em dia de Domingo: isto é, por que Cristo, que foi o primogénito dos mortos, e as primécias dos dormentes, ressuscitou naquele dia e naquela feira."

1 comentário:

anónimo disse...

Mais do bonito, para tirar teimas:

"… os Francezes antigos no primeiro de Março, como se vê no Concílio Vernonense celebrado no ano de 755, depois até Carlos IX começavam o ano no dia do Nascimento de Cristo a 25 de Dezembro, a que chamavam Encarnação: o mesmo fizeram sempre os Ingleses Católicos até ao reino de Guilherme Conquistador, o mesmo usaram os Alemães; porém os Florentinos, Pisanos, e quase toda a Itália começavam o ano a 25 de Março." (Academia dos Humildes, e Ignorantes no Sítio de N. S. Da consolação sua Protectora. Tomo VII, pág. 343 - LISBOA, ano de 1765

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