19/10/11

OBRIGAÇÃO CATÓLICA, HOJE! (I)





















Vejo-me na obrigação de contribuir com o meu testemunho para que alguns entendam a situação dolorosa de alguns católicos.

Recebi o santo Baptismo um dia 5 de janeiro, dia de S. Telésforo, no santuário que agora foi elevado a Santuário Diocesano, pelas mãos de um sacerdote amigo da família e conhecido por ter liderado a povoação contra os intentos comunistas das movimentações consequentes do golpe militar do 25 de Abril de 1974.

Ao longo dos anos fui constatando que o "ambiente católico", e toda uma concepção da realidade que  marcaram indelevelmente a minha infância e a infância de muitos católicos da minha geração (mais pelo testemunho dos avós e pessoas antigas do interior), tornou-se cada vez mais oposto às concepções promovidas pelas Mitras Diocesanas ou, por outro lado, as exigências impostas pelo mundo. Fui seminarista diocesano durante 12 anos (seminário menor e seminário maior).

Empenhei-me em saber como seria possível uma solução para o confronto das duas "mentalidades". Nunca me ocorreu uma mistura ou uma adaptação entre elas. Achava, como se ia achando em geral, que havia que esperar que a "mentalidade antiga" se fosse finando para que, definitivamente, pudessem brilhar as "ideias evoluídas" possibilitando de uma vez por todas a evolução e libertação da Igreja (que no nosso pensar significava o abandono das ideias e doutrinas "inúteis" que estariam a impedir tal evolução e seriam a causa de uma deficiente concretização do Concílio Vaticano II). Contudo, evidentemente, cada qual tinha memórias boas da boa gente antiga, da sua honesta piedade, a sua bondade e amor, conhecíamos estas boas experiências mas creio que nunca nos passou pela cabeça que tal não fosse meramente natural (como um fruto do envelhecimento).

Tive a oportunidade de conhecer duas dioceses muito diferentes, a partir dos seus seminários. Diz-se que uma delas tem um clero muito conservador e melhor instruído mas a população em geral é anticlerical devido à chacina ideológica do comunismo e da maçonaria. Já a outra diocese é muito bem servida de população que ainda respeita o valor do sacerdote mas, talvez por ser uma região que não viveu tantas afrontas, foi menos doutrinada pelo que resta em geral da catolicidade, a piedade, bons-costumes, e alguma doutrina escondida no saber dos velhinhos. As diferenças nos seminários e nas dioceses foram uma grande escola que  me permite hoje não pestanejar quanto à validade ou não validade de algumas premissas de questões relacionadas com a "evolução" do pensamento no clero diocesano.

Quando um dia ouvi uma senhora idosa dizer "estes padres novos é que nos tiram a Fé" fiquei indignado, pois achava o contrário, que seriam os padres novos a levar ao triunfo a Igreja e a libertá-La das "crendices" e hábitos "gastos" do passado. As devoções antigas pareciam-me em grande parte superstição e sentimentalismo que havia que tolerar, pois as pessoas antigas, como não tinham os conhecimentos que hoje temos eram de certo ignorantes que necessitavam dos "veículos" a que forma acostumados. Na medida em que, lentamente, a mentalidade dessas pessoas mudasse cairiam as crenças e veriam a realidade. Assim acreditava eu e os outros, e em parte acreditávamos bem: é verdade que mudando a "mentalidade" as crenças caiem, pois a "mentalidade" implica um painel de crenças que, obviamente, repelem as suas opositoras. Também é verdade que as pessoas antigas não têm tanto conhecimento de certo TIPO de coisas.

Havia algo que sempre me icomodou: nós éramos os sábios e os velhinhos eram os pequeninos, e se assim era nós não estávamos do lado daqueles a quem Deus revela.

(Continuará...)

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