22/07/11

SANTOS LUSOS: S. ROSENDO e SANTA SENHORINA



De São Rosendo e Santa Senhorina chamada vulgarmente Senhorinha, naturais desta terra de entre Doutro e Minho


S. Rosendo

"1 Entre os Bispos que confirmaram o testamento, ou doação da Condessa Mumadona, foi um deles Rudesindo chamado comumente Rosendo. E porque foi santo, e natural desta terra dentre Douro e Minho, rezam e que não passemos sem dele dar alguma notícia aos que a não têm. Foi este santo filho de Guterrio, e …., e neto de Ermenegildo Conde de Tuy e do Porto em Portugal. Nasceu na freguesia de S. Miguel do Bispado do Porto junto daquele lugar onde depois se edificou o insigne mosteiro de Santo Tirso da ordem de S. Bento que está entre o Porto e Guimarães. Fazia sua mãe muitas esmolas, e ocupando-se em orações, e lágrimas, foi amoestada por um Anjo de que conceberia um filho, o qual seria de grande merecimento para com Deus, e para com os homens de notável santidade.

2 Pariu a Rudesindo na véspera dos santos Facundo e Primitivo, dia que para ela e seu marido, enquanto viveram, foi sempre santo e de festa. Rudesindo desde moço abraçando a lei do Senhor em breve veio a ser varão apostólico. Pelo que doi eleito pelo Clero de comum consentimento Bispo da Igreja Dumiense, que depois veio a ser a Bracarense. Dali, por excelência das suas virtudes, foi feito Bispo Mindoniense, e Iriense. Depois edificou um nobre mosteiro em certas herdades suas, grandes e ricas, que se chamou Cela Nova, o qual ainda hoje religam e tem rendas de grande nome.

3 Nele fez o santo vida monástica alguns anos debaixo da regra de S. Bento, e passou ao Senhor no primeiro dia de Março fazendo muitos milagres na vida, e depois da morte. O seu corpo está no mesmo mosteiro, onde é visitado de grande frequência principalmente de Portugueses e Galegos. Floresceu no ano do Senhor 930, e nos seguintes. Isto é do Breviário recomendado da ordem de S. Bento, o qual põe sua festa no dia em que morreu. O doutor André de Resende no livro primeiro das antiguidades de Lusitânia prometeu de escrever a história deste santo, a qual estimáramos muito se por ele fora escrita, mas aprece que a morte lho impediu.

4 No mesmo Breviário de S. bento, acho que Santa Senorina parenta do mesmo S. Rosendo, monja de S. Bento e Abadessa do mosteiro de Basto (que hoje é Igreja paroquial da advocação desta santa), estando em oração viu subir ao céu a alma de S. Rosendo levada por Anjos. E mandando saber dela a Cela Nova, achou que morrera na mesma hora em que lhe foi revelado.

5 Foi esta santa virgem natural do Arcebispado de Braga, filha de Auulfo nobre Conde de Vieira e de Tareja: professou a regra de S. bento no mosteiro de Vieira sendo Abadessa Godina por cuja morte foi eleita Abadessa em seu lugar. Passou a vida com tanta aspereza que comia pão misturado com cinza e sal, jejuava três dias na semana, sempre trazia cilício e cada dia se disciplinava por espaço de tempo em que se podiam rezar os sete salmos.

6 Sua santidade foi tanta que convertia a água em vinho e por seu mando a enchorrada das chuvas se desviava do seu mosteiro. Depois passando-se com suas monjas do mosteiro de Vieira para o de Basto chegando ao lugar chamado Carrazedo eram rãs ali tão importunas como seu canto que as não deixavam rezar o ofício divino pelo que a santa Abadessa lhes mandou que não perturbassem a obra de Deus, e elas o fizeram assim e nem apareceram ali mais.

Com este e outros milagres resplandeceu a gloriosa Senorina e acabou santamente em 22 de Abril, ano do Senhor 982. Está sepultada naquela Igreja paroquial de Basto intitulada de seu nome.

7 Folguei de encontrar estes santos antigos para renovar sua memória como farei do mais que se me oferecerem, porque os feito e ditos dos santos são flores da verdadeira sabedoria muito mais formosas que as da eloquência com que ficará suprida a falta desta que muitos chamaram nesta minha escritura.

8 Tornando ao propósito como o mosteiro da Condessa Mumadona fosse tão nobre, tão rico e tão frequentado, logo junto dele se fizeram casas, e seriam as primeiras para oficiais do mosteiro e pousadas para peregrino, e assim concorriam vendedores de que se fez o burgo de que a Condessa faz menção numa carta que logo trarei. E por que neste tempo ainda as terras de Alenteio, Andalusia, e muitas outras de Espanha, eram de Mouros. Temendo a Condessa alguma entrada sua por estas partes, edificou aquele Castelo que chamavam de S. Mamede, no outeiro onde ainda permanesce: o qual se chamava Monte Latito por ficar em lugar alto, em respeito do mosteiro ficava sobre ele. Este castelo lhe doutou também para sua defesa como consta na carta que se segue, a qual faz menção do burgo que aí havia junto ao mosteiro." ("Várias Antiguidades de Portugal", Cap. 4)

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