II
A FÉ
10. A FÉ NÃO SERIA SOBRE TUDO UM SENTIMENTO?
É um erro do modernismo, condenado por S. Pio X, em 1907, na Encílica Pascendi, o dizer que a Fé é um sentimento oriundo da subconsciência que exprime a necessidade do divino. Em verdade, o acto de Fé não é um sentimento, mas a aceitação consciente e voluntária da revelação divina, tal como se apresenta ao Homem na Sagrada Escritura e da Tradição.
a) O que é a Revelação para os ditos modernistas?
- Para a convicção modernista a Revelação produz-se quando o sentimento religioso passa da esfera do subconsciente à da consciência. A Fé seria então algo de sentimental e subjectivo. A Revelação não seria dada do exterior (de cima), mas mostraria mais o interior do homem.
b) Qual é portanto, para os afectados pelo modernismo, o papel de Cristo na Revelação?
- Na origem do cristianismo, há para eles, uma experiência religiosa de Jesus Cristo (cuja divindade, com certeza, está posta de lado) que terá partilhado a sua experiência com outros, que propriamente teriam vivido da mesma e tê-la-iam então transmitido a outros. A igreja nascera dessa necessidade dos fiéis em comunicar aos outros a sua experiência religiosa e de formar uma comunidade: A Igreja não seria portanto uma instituição divina; seria apenas, tal como acabam por crer que são os sacramentos, o papados, os dogmas, um resultado da necessidade religiosa dos crentes.
c) Não é verdade que o homem tenha naturalmente um sentimento religioso?
- O sentimento religioso natural deve ser cuidadosamente distinguido da Fé sobrenatural do católico. É verdade que no homem há também o sentimento de necessidade de Deus, mas tal sentimento permaneceria obscurecido sem a Revelação de Deus ao homem. Alem disso, como tudo o que é natural em nós, o sentimento religioso é ferido pelo pecado original: Pode facilmente levar ao erro e até ao pecado (superstição, idolatria, etc.)
d) Não está a Fé ligada ao sentimento religioso?
- É exacto que um sentimento de segurança e de bem-estar está ligado à Fé. Mas não reside aí o âmago da Fé. [A Fé ordena o sentimento]. Este sentimento, bem como todos os outros sentimentos, é variável e será uma vez mais forte, uma outra mais fraco; pode até durante algum tempo desaparecer completamente. Grandes Santos, tais como S. Vicente de Paulo ou Sta. Teresa do Menino Jesus, foram às vezes privados destas consolações sensíveis, sem por isso ficarem hesitantes nas suas convicções sobre a verdade e a sua certeza na Fé.
e) Podemos encontrar neste ponto, o ensino certo da igreja?
- No juramento anti-modernista, imposto por S. Pio X, e que tinha de ser jurado antes da ordenação sacerdotal (condição para a ordenação) até 1967, contava esta parte:
"Eu tenho por certo e professo sinceramente que a Fé não é um sentimento religioso cego surgido das profundezas tenebrosas do subconsciente sob a pressão do coração e o impulso da vontade moralmente informada; mas sim um assentimento verdadeiro da Inteligência à verdade recebida do exterior, ex auditu, (20) assentimento pelo qual acreditamos ser verdadeiro, por causa da autoridade de Deus soberanamente verídica, tudo o que foi dito, atestado e revelado pelo Deus pessoal ["pessoal" significa a "Pessoa divina", 3 Pessoas em um só Deus], o nosso Crisador e o nosso Mestre."(21)
(20) Ex auditu pelo ouvidos "a Fé vem do ensino ouvido" (Rom.10,17)
(21) DS 3542
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