"FREUD EM CIFRA" I

Como vem sendo costume, continuarei a postar alguns artigos por partes com a finalidade de, aos poucos, ir constituindo trabalhos mais extensos sobre os vários assuntos próprios deste blogue. Assim, não tendo encontrado uma tradução de "Freud em Cifra", livro de Leonardo Castellani, resolvi traduzi-lo Trata-se de uma obra congelada nos direitos de autoria que possuem os familiares de Castellani. Estes herdeiros titulares, recentemente, venderam toda a biblioteca de Leonardo Castellani a um rico judeu argentino, acto que acompanha a insistência desta família em não permitir a republicação de tão importantes obras. Como o Padre Castellai escreveu por necessidade de transmitir os conteúdos, entende-se que o comportamento destes familiares não conicidade com o de "herdeiros" mas mais como o de "inimigos". Outra coincidência a ter em conta é a da movimentação sionista que, depois de ter coagido o governo argentino a expulsar Mons. Richard Williamson, deve ter aplaudido a eliminação da biblioteca pessoal de Castellai             com a tal compra choruda.


A tradução desta obra não é tão simples quanto me pareceu no início. A existência de vocabulário "crioulo argentino", expressões, e sentidos mais próprios da época ou da cultura católica, vão demorar-me. Hoje deixo a primeira postagem de "FREUD EM CIFRA". 

LEONARDO CASTELLANI

FREUD

EM CIFRA

Traduzido para português internacional

Original em castelhano:

EDICIONES DEL BUEN LADRON

Venezuela 1181 – Buenos Aires (octubre de 1991)

ANTES DE MAIS

A informação boa acerca de Freud é necessária para não haver informação má; porque hoje o judio vienense “esta na berra”, como é costume dizer.

Freud é uma das glórias da raça judia – para os judeus. Não o mesmo para os austríacos, cujo crescente descrédito foi o principal (e não tanto o “Anschluss” com a Alemanha nazi) que o moveu a expatriar-se a Londres.  Quando passei por Viena em 1935, todavia o popolino da bela capital do Danúbio dizia que o cancro na língua (do qual depois morreu) era castigo de Jesus Cristo por ter blasfemado de sua Mãe Santíssima – assunto sobre o que não ousarei opinar.

Ainda que nem por sonhos pensei vira a ser nomeado “perito” no Concílio Vaticano II, fiz para mim uma lista de proposições freudianas a condenar, se o Concílio se tivesse preocupado com as actuais heresias; coisa que não fez. Depois juntei outras duas partes expositivas as essa lista; a actual serviu-me para explicar numa conferência três princípios básicos da filosofia aristotélio-tomista. E depois arredondei como me foi possível o conjunto a pedido dos benemérito editores de Cruz y Fierro. E assim obtive este Freud em Cifra.

Para situar a Freud é necessário abordar de passagem sua escola, seus seguidores e seus cismáticos; e a última evolução de A Psicanálise (“Análise” é feminino e não masculino “El Psicanalise”, pois estão bem os franceses ao chamar-lhe LA e não EL, como em castelhano; enganador pelo artigo EL, eufónico. Outro barbarismo que deve corrigir-se é a socorrida “libido”, que não é esdrúxula, como a fazem os “locutores”).

Marx, Freud e Telar Chardón não são a última heresia, mas são quiçá fragmentos anticipatórios. Assim o disse Hillaire Belloc em “Survivals and New Arrivals” acerca deles. Por diferentes que sejam, há entre eles cabos secretos. De facto Telar aprova Marx, e vê o marxismo, como um dos movimentos em direcção ao “Cristo Cósmico”; e Freud suscita entusiasmo nos actuais activos demolidores da antiga Tradição e Religião Ocidental – o Universal, para ser exacto.

De modo que o conhecimento teórico exacto de Freud interessa também ao homem religioso.

L.C.C.P.

15 de agosto, Assunção de Maria, 1966.

SECÇÃO I

PSICANÁLISE

Exposição

“As teorias do médico vienense, depois de ter feito a tournée pela Europa Central e países anglo-saxónicos, solicitam passo a passo a atenção rebelde do Ocidente latino. O freudismo está ad portas; mais ainda; já está dentro (1928). Com uma impertinência rara e uma linguagem deplorável, ele coloca aos médicos, aos psicólogos, sociólogos e etnólogos, aos pedagogos, moralistas, directores espirituais, e incluso teólogos uma série de enigmas estranhos, tão grotescamente ataviados que se quisera por vezes despedi-los com um encolher de ombros; mas perante os quais, de qualquer forma, algum dia haveria que tomar posição reflectida…” (Joseph Marechal s. j., “Les lignes essencielles du Freudisme”).

A aparição da psicanálise de Freud novamente tornou interessante a psicologia e colocou-a na moda: pode dizer-se que foi um retorno à ciência da alma desde a pedante e inútil “Psicologia experimental”. Pode ser classificada como psicologia antropológica.

Daí que todos os psicólogos contemporâneos viram-se obrigados a ocupar-se desta hipótese de trabalho terapêutico, ainda que seja para combatê-la ou criticá-la; como Klagues, Marx Scheler, ou Wilhem Stern. Mas o freudismo era densamente mitológico, e logo suscitou disenções e cismas entre seus próprios adeptos. As doutrinas de Adler, Jung, Rank, pese aos investigadores e descobertas pessoais, são NO FUNDO REFUTAÇÕES, e por isso dependem dele: Adler não é mais que o pólo filosoficamente contrário (Libido-Imperium; biológico-social; passado-futuro). Mas os contrários estão no mesmo plano – diziam os antigos. “Contraria sunt in eodem genere”.

Por fundar-se sobre bases filosóficas inconsistentes, a DOUTRINA psicanalítica tornou-se logo num caos. Rapidamente os psiquiatras começaram a baralhar as peças soltas dos “sistemas primitivos” (Freud, Adler, Jung, Rank) em novas combinações não sempre desprovidas (leal é notá-lo) de algumas notas pessoais; e sobretudo de correcções aos disparates. Já em 1929, um jovem filósofo alemão, Hans Prinzhorn tinha, ao mesmo tempo, classificado o movimento de PERIGOSO, FECUNDO E IMPRESCINDÍVEL (portanto próprio da época) que, existindo o “oporet haereses esse” de S. Paulo, notas de toda a heresia; expressando o desideratum de que o Caos desaparecesse no Cosmos. Dez anos mais tarde Roland Dalbiez fez uma exposição decantada e crítica do freudismo “método e doutrina”, que se não produziu o cosmos feriu o caos: uma das melhores obras sobre a matéria, escrita com estrito espírito científico e filosófico. (R. Dalbiez, “La méthode psychanalytique et la doctrine Freudienne”, 2 vol. Desclée De Brouwer, Paris).

Hoje em dia o norte-americano Súllivan (Harry Stack) parece ter chegado a um esboço sínteses rica e equilibrada, através da clínica psiquiátrica, e não somente das teorias, nas suas “Concepções da moderna Psiquiatria”.

Que fará um estudante hoje em dia? Tornar-se “freudiano ortodoxo” é o mais fácil – e o mais desastroso; estudar por si mesmo a confusão de doutrinas diversas existentes e fazer uma ideia própria, é impossível à maioria.

Aguardar a evolução natural – e esperar o melhor.

(Continuação, AQUI)