20/10/10

EVANGELIZAÇÃO DO BRASIL POR S. TOMÉ, E O MITO CASTELHANO (II)

Parte II
(ver parte I)

3 - O Conhecimento dos Antigos - Colon e o Estranho Sigilo de Portugal

Mas antes de tudo vamos passar os olhos pelos documentos insuspeitos que demonstram duas coisas importantes:

1 – O conhecimento de vários territórios na hoje chamada América por parte dos portugueses e antes de 1492;

2 – A sujeição lusitana ao secretismo como prudente defesa nos mares.


Usarei “lusitanos” e “portugueses” com sentido distinto. Os portugueses foram os naturais do reino de Portugal, tão somente, e também são lusitanos. Os “lusitanos”, depois da existência do Reino de Portugal, foram aqueles que nasceram nos territórios da civilização católica por via lusitana, levada por portugueses ou não. Portanto, o "império" lusitano inclui os nativos de Portugal, Algarves, Brasil, várias partes da Índia, várias partes da China, várias partes da África. Mais é uma árvore genealógica da civilização cristã que teve por origem o antigo povo lusitano evangelizado por Apóstolos e primeiros Santos e Mártires.

Ainda, e em forma de introdução, há que recordar a alguns irmãos brasileiros doutrinados por uma discreta e maçónica anti-cultura que hoje vinga nas escolas e universidades que, na Europa daqueles tempos, havia muita terra para pouca gente. Portanto, quando Portugal se aventurou nos descobrimentos tinha menos de um milhão e meio de habitantes para um território onde hoje habitam folgadamente 10 milhões. O problema era ter pouca gente para tanta terra. Estas verdades devem ser repetidas para quebrar preconceitos que a actual ideologia dominante mantém tanto no Brasil, como em Portugal, como no Reino Unido, como em França e tantíssimos países.

O conhecimento de que a Terra é esférica já remonta à antiguidade. Desde sempre os grandes marinheiros se orientaram por graus, e o grau implica a circunferência. Piteias, por volta de 350 a.C. já sabia que a terra era redonda, e Ptolomeu testemunha o mesmo com a maior das naturalidades.

Mas será que essa sabedoria foi perdida? Sim e não. Pelos vistos os navegadores do Mediterraneo não tinham que socorrer-se deste tipo de conhecimentos, o mesmo não passava com os navegadores do Atlantico. Os Castelhanos não tinham grandes conhecimentos de navegação, e quando se lançaram na aventura dos descobrimentos, a custo de muita insistência de Colon, já os portugueses levavam 150 anos de avanço no Atlântico. A navegação e exploração do Atlântico é importante no que diz respeito ao desenvolvimento das técnicas de navegação, cartografia e todo um conjunto de ciências de cálculo e medição. É importante lembrar que os portugueses eram os exploradores do Atlântico por excelência e a nível mundial os maiores marinheiros disputavam-se entre portugueses e genoveses. Havia uma certa disputa dos genoveses, relativamente aos portugueses, porque os genoveses tinham tido a fama de grandes navegadores, e viam-se agora a par de uma crescente potência da navegação que dominava o Atlântico. Contudo a cooperação científica entre genoveses e português trouxe consequências muito interessantes: os genoveses conseguiram obter algumas informações secretas da navegação e cartografia portuguesas, e os portugueses absorveram-lhes técnicas e tradição de navegação mediterrânica. 



O mapa mandado desenhar a Henricus Martellus, já com o registo da chegada ao Cabo da Boa Esperança pelos portugueses em 1489, tem os 24 fusos horários (360º). O que ficou demonstrado, aos europeus que os 180º do hemisfério Sul, eram realmente como os do norte no sentido inverso, não dando possibilidade para duvidar da redondeza da Terra. Portanto nesta data em Portugal sabia-se da redondeza da Terra, mas tal conhecimento não tinha de existir em outros países não atlânticos ou menos atlânticos.

Para os que ainda acreditam que Colon descobriu que a terra é redonda, esqueçam essa mentira. Apenas o "castelhanismo" tem motivos para sustentar popularmente tal coisa, por muito orgulho cultural e por pouco conhecimento real. Mas vamos dar a palavra ao próprio Colon:

“Eu sempre li que o mundo, terra e água era esférico”. Onde leu tal coisa? “que Ptolomeu e todos os outros escreveram”. Outros? Tinha conhecimento de outros para lá de Ptolomeu. “Plínio escreveu que o mar e a terra constituem todos uma esfera”. (Colon – nas memórias da sua 3ª viagem)

Colon, que segundo se tem contado era um humilde tecelão italiano, lia os livros raros da época ao ponto de saber o que na corte de Castela se ignorava ainda! Que tecelão...

Ptolomeu, em 150 d.C. escreveu o “Geographiae”, onde dá indicações pormenorizadas de vários pontos no seu mapa do mundo, inclusivamente a Índia. Diz-nos haver outras terras no sítio que hoje chamamos "América", ou seja, entre a África e a China. Contudo, sobre esta parte do planeta parece não ter mostrado interesse suficiente para adiantar mais alguma coisa ou para recolher mais informação. Lembro que havia muita terra para tão poucos humanos, e que os mapas eram usados para assegurar as viagens que se faziam (comércio e transporte de passageiros) e não para ter na parede do escritório ou da sala de estar um exemplar bonito e completo.

Para que muitos não pensem que os dados fornecidos por Ptolomeu são coisas mais ou menos acertadas, vale a pena dizer, para exemplo, que situou Lisboa no seu mapa do mundo com o pequeno erro de apenas 11 Km mais a norte, sem nunca ter estado em Lisboa. Isto indica que existiam coordenadas geográficas partilhadas e guardadas por navegadores da época, e anteriores. Chamarei a isto "tradições marítimas e geográficas".

O problema começa a colocar-se noutro sentido: Porque motivo tanta gente pensa que antes de Colon a navegação era desprovida de grandes conhecimentos, e que esses seriam apenas próprios da modernidade, e que Colon foi seu grande pioneiro? Não é o propósito deste artigo ir tão longe, contudo poderá aqui encontrar algumas boas indicações para satisfazer tal pergunta.


Toda esta volta que estamos a dar é pequena relativamente ao tamanho dos erros que se hão de corrigir para chegarmos a bom-porto. 

(Continuação: Parte III)

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