"Veneráveis Irmãos e amados Filhos,
Magnificat anima mea Dominum! é a palavra que espontânea acode aos Nossos lábios para traduzir os sentimentos que Nos inundam a alma, neste momento histórico das actuais solenidades, a que presidimos na pessoa do Nosso digníssimo Cardial Legado; solenidades, ou hino grandioso de acção de graças; que pelo inestimável benefício do Ano Santo mundial a vossa iluminada piedade quis elevar ao Senhor, aí nessa montanha privilegiada de Fátima, da Virgem Mãe escolhida para trono das suas misericórdias e manancial inexaurível de graças e maravilhas.
Há um ano, na hora saudosamente solene, em que na Basílica do Príncipe dos Apóstolos encerrávamos a Porta Santa, parecia-Nos ver o Anjo do Senhor, que, saindo por ela doze mêses antes, se fôra por todo o mundo a convidar as almas de boa vontade, para que viessem a procurar a paz e renovar a vida sobrenatural na salutar piscina do Jubileu, preparada no coração da Cidade Eterna.
Aquele convite, em que adejava o Espírito do Senhor, Nós vimos, mêses a seguir, as ruas e templos desta alma Cidade inundados de multidões incontáveis, quais nunca se viram em precedentes jubileus, provenientes de todas as nacionalidades e estirpes, formadas de todas as classes e categorias sociais, mas unidas na mesma fé, palpitantes do mesmo amor, animadas da mesma piedade, como irmãos em Jesus Cristo e filhos do mesmo Pai que está nos ceus, a invocar e a cantar em todas as línguas do globo as divinas misericórdias.
Magnífico e deslumbrante espectáculo da unidade e catolicidade da Igreja, que tão profundo sulco imprimiu na sua vida!
Hoje, que está prestes a concluir-se o Jubileu estendido a todo o orbe, volvendo sobre ele um olhar retrospectivo, outra visão não menos consoladora prende o Nosso espírito. Não é já, ou não é só o Anjo do Senhor, é a Rainha dos Anjos, que saindo nas suas imagens taumaturgas dos mais célebres santuá rios da cristandade, e nomeadamente desse Santuário de Fátima, — onde o céu Nos concedeu coroá-la « Regina Mundi » — percorre em visita jubilar todos os seus domínios. E à sua passagem na América como na Europa, na Africa e na Índia, na Indonésia e na Austrália, chovem as bênçãos do céu, multiplicam-se as maravilhas da graça por tal forma, que apenas podemos crer ao que vêem os olhos. Não são só os filhos da Igreja obedientes e bons que redobram de fervor; são pródigos, que, vencidos de saudade dos carinhos maternos, voltam à casa paterna; e são ainda (quem podére imaginá-lo?!) em países onde apenas começou a raiar a luz do Evangelho, tantos envoltos nas trevas do êrro, que, quasi à porfia com os fieis de Cristo, aguardam a sua visita, e a acolhem e a aclamam delirantemente, e a veneram e a invocam, e dela obteem graças assinaladas. Sob o materno olhar da celeste Peregrina não ha antagonismos de nacionalidades ou estirpes que dividam, não ha diversidade de fronteiras que separem, não ha contraste de interesses que desavenham; todos por momentos se sentem felizes de se verem irmãos.
Espectáculo singular e singularmente impressionante, que faz conceber as mais risonhas esperanças.
E não quererá com ele a benigníssima Regina Mundi indicar-nos que toma este Ano Santo sob a sua especial protecção?
É por isso que Nós, aceitando gostosamente presidir em espírito a estas solenidades, intendemos confiar-lho quasi sensivelmente, certos de que as nossas acções de graças, passando pelo seu Coração Imaculado, serão mais aceites ao Senhor, e os frutos salutares do Jubileu nas suas mãos benditas, longe de se desvanecerem rapidamente, serão por elas conservados, abençoados, multiplicados.
Na solene indicção do Jubileu indicávamos como um dos seus fins principais a paz, tanto interna como externa, nas famílias, na sociedade, entre as nações. O mundo suspira pela paz, e apesar do muito que se tem feito, continúa ainda a suspirar trepidante na ânsia de a ver desaparecer de novo.
A Virgem Nossa Senhora na sua mensagem, que Peregrina anda a repetir ao mundo, indica-nos o seguro caminho da paz e os meios para a obter do céu, visto que tão pouco se pode confiar nos meios humanos.
Quando com particular insistência inculca o Rosário em fa mília, parece dizer-nos que é na imitação de Sagrada Família que está o segredo da paz no lar doméstico. Quando exorta a preocupar-se do próximo como dos próprios interesses, a ponto de orar e nos sacrificarmos pelo seu bem espiritual e temporal, indica o meio verdadeiramente eficaz de restabelecer a concórdia entre as classes sociais. E quando com voz maternamente maguada e insinuante pede um retorno geral e sincero e uma vida mais cristã, não estará repetindo que só na paz com Deus e no respeito da justiça e da Lei eterna se pode sòlidamente alicerçar o edifício da paz mundial? Porque enfim, se Deus não edifica, de balde trabalham os edificadores.
Amados Filhos, que em tão grande número acorrestes hoje ao oásis bendito deste Santuário Mariano, qual grandiosa representação de quantos por toda a vastidão do orbe se esmeram em aproveitar os inestimáveis tesoiros do Ano Santo, aqui aos pés da Rainha do Mundo e da Paz, com as mais férvidas acções de graças, renovai e confiai-lhe os propósitos salutares concebidos no santo Jubileu repeti-lhe e confiai-lhe as esperanças, as súplicas e as ânsias do mundo inteiro; e formai a resolução de descer daqui apóstolos do Deus da paz, para trabalhar por ela com o exemplo de uma vida cristã renovada, com a oração incessante e confiada ao céu, e com toda a possível actividade que a Providência vos proporcionar.
Nós, continuando a trabalhar indefessamente e por todos os meios ao Nosso alcance pelo verdadeiro bem da grande família humana, é sobretudo na poderosíssima intercessão da Virgem Senhora que colocamos as Nossas esperanças, invocando-a incesantemente para que se digne apressar a hora em que de um extremo ao outro do mundo se realize o hino angélico: Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade.
Fonte: Vaticano
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