19/06/22

ESCRAVIDÃO OU ESCRAVATURA?

No Brasil, tem sido omitida a palavra "escravatura" e substituída por "escravidão"; sendo que a língua demonstra-nos que uma e outra nunca significaram o mesmo. Por escravatura sempre se tinha entendido uma CONDIÇÃO SOCIAL; por escravidão sempre se tinha entendido situação MORAL! Segundo uma breve investigação por nós feita, a confusão instalou-se entre falantes no séc. XIX.

Não é de mais aproveitar trazer a luz à ignorância moderna da "contra-formação"... A escravatura é tema baralhado hoje por anterior acção propositada e aturada dos iluministas e liberais, que foram tomando gradualmente conta da sociedade, da periferia até ao centro!

Nas sociedades onde a escravatura era vista como condição social, havia escravos médicos!

"Se examinarmos as ocupações dos escravos na antiga Roma, acharemos que eles exerciam todos os mesteres e serviços, desde o de superintendente ou administrador da casa e propriedades do homem poderoso, até aos mais baixos e abjectos da cidade; desde o da aia, ou ama dos filhos do rico Senador, até à mais vil degradação, a que possa chegar a desgraça de uma mulher. Os escravos públicos puxavam pelos remos das galés do estado, ou trabalhavam nas estradas públicas. Alguns eram lictores, outros carcereiros, e verdugos; faziam a polícia e a limpeza da cidade. Enfim todo o serviço na cidade e nos campos, no trato doméstico e na agricultura, era por eles desempenhado. Muitas vezes mandavam também os senhores aplicar os seus escravos às artes e ciências, e muitos nelas se distinguiram. Virgílio teve um escravo poeta, Plauto era escravo, e Horácio filho de um escravo. Quase sempre os médicos e cirurgiões eram escravos; assim como o leitor, o amanuense, o arquitecto, o pintor, o músico, o cantor, o funâmbulo, o gladiador, o ferreiro, o sapateiro, que todos tinham senhor - até o escudeiro, ou homem de armas era escravo do seu cavaleiro. Eram escravos os banqueiros, os mercadores de grosso trato, e de retalho, e os vendilhões ambulantes; e todos eles exerciam suas profissões, quaisquer que elas fossem, em proveito de seus patrões, ou lhes pagavam uma soma convencionada. O valor dos escravos variava segundo o estado de sua saúde, sua beleza, ou do seu préstimo e conhecimentos. O trabalhador ordinário valia de vinte a trinta moedas (preço ordinário ainda hoje de um escravo boçal na América). Um bom cozinheiro era de um valor imenso; um perfeito actor não podia valer menos de seis contos de réis; um bobo, que soubesse bem o seu ofício, era barato quando custava duzentas moedas. A formosura era artigo de gosto, e o seu valor variável. Marco António deu oito contos de réis por um par de lindos mancebos; e ainda os havia de maior preço. Um ilustre gramático foi pago quase por igual quantia. Uma actriz de sofrível figura valia ainda mais, pois que o seu salário anual era mui considerável. Um médico por lei valia quarenta, mas vendia-se sempre por muito mais.
Lúculo, tendo em certa ocasião feito grande número de prisioneiros de guerra, ou vendeu a seis tostões por cabeça, talvez o menor preço porque em parte alguma do mundo, se tenha vendido um lote de homens fortes e robustos!
Quando chegará o tempo em que os nomes e as condições de Senhor e de Escravo desaparecerão inteiramente de entre os homens, todos semelhantes, todos nascidos da mesma origem, e todos obra da mesma mão soberana!?"
( semanário de tendência liberal do ano de 1838)

2 comentários:

Luiz Claudio dos Santos Lima disse...

Sem dúvida um comentário e esclarecimento de importância e necessário, Caro Blogueiro. Obrigado!

anónimo disse...

Caro Luíz, obrigado por comentar.

Apenas nos limitamos a estar atentos... mas, estamos atentos desde séculos passados, ou seja, desde aquilo que recebemos face aquilo que vemos destruir ou corromper!

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