Muito bem aparecida seja esta Soberana do mundo, que assim lhe chamam os Pedreiros, os quais todavia não podem ignorar, que se esta Majestade é muitas vezes respeitável, nem por isso deixará de ser outras tantas desprezível. Não me venham por aí à mão dom esta Soberana incorruptível inexorável, e inflexível, que lhe deito à cara o doutor Montesquieu, não se pejando de asseverar que o público de Roma gostava das próprias tontices e furores dos Neros, e dos Commodos, e que não lhes faltando pão, e os Circenses, tudo ia conforme a opinião pública! Coitadinha desta pobre, que muito falso testemunho há levado depois que o mundo é mundo!! Seria mais fácil contar as areias do mar, que a infinitude de aleives impingidos a esta Soberana!! Eu prescindirei agora dos testemunhos velhos, hei-de insistir nos mais novos, e mais fresquinhos, que a dizermos a verdade, são os mais bonitos e merecedores da aceitação geral, e o mais é que estes hão-de marchar ao nível da opinião pública. Ainda não há muitos dias, que passei pelos olhos a produção de O Meara sobre o homem grande, o homem montanha que deu a ossada na ilha de Santa Helena para confusão dos soberbos e dos Pedreiros seus aliados, vulgo Bonaparte; não me interessou muito o relatório das gengivas inchadas, nem das perrices de um homem, que ainda esperava esperava as honras de Imperador, quando em todo o caso era o Governador Hudson Lowe um instrumento da Providência, que ainda neste mundo vingava por mãos de um Inglês os horrores praticados com outro Inglês (o Capitão Wrighth) porém o que me pareceu mais curioso e engraçado foi o sossego e paz de consciência, que ele afectava mostrar, e o seu estribilho ordinário era sempre este: seguir a opinião pública!! E sem mais tirte nem guarte aqui temos a opinião pública bafejando o desastroso fim de Pichegru, acalentando a invasão de Portugal, e favoneando o maior de todos os crimes desse malvado, qual foi o espingardamento de um Príncipe da Casa de Borbon, e de um descendente do Herói Condé!! Outros que tais foram os nossos Pedreiros, que deram na fina de chamarem opinião pública de todo o arresto, que dimanava das suas Lojas.
Fazedores da opinião pública |
Debaixo deste princípio foi aresto da opinião pública esse horroroso atentado contra a Soberania legítima, que se perpetuou em 1820, foi opinião pública o desastroso influxo das baionetas, que se elas não lhe acudissem era impraticável, que medrasse o tal representativo; foi opinião pública a extinção do Tribunal do Santo Ofício, por quem ainda hoje clama, e brada a maioria dos Portugueses, justamente espavoridos de tanto insulto como se está fazendo À Santa Religião de nossos Pais; foi opinião pública a extinção da Patriarcal, porque os filhos, e irmãos dos beneméritos da pátria não podiam lá meter bico, foi opinião pública a que fez Deputados às Cortes esses mesmos de que em um homem de juízo faria os seus negócios, ainda os de menos importância; foi a opinião pública a que os firmou de tal guisa em seus usurpados tronos, que bastou um zéfiro para os deitar no chão!! Há pérfidos! O vosso destino actual oferece-me a mais exacta definição do que eu pretendo aclarar. Guerra às ideias maçónicas; eis aqui a verdadeira opinião pública felizmente arreigada de tal maneira, que pelo jeito, que as coisas levam, penso que não tardará muito que o nome de Pedreiro Livre substitua as vezes de dois nomes pavorosos, um para a infância, outro para a idade adulta. Estão as coisas dispostas para que brevemente quando as mães queiram meter medo aos seus filhos ponham de parte o já rançoso papão, e lhes digam olha que vem aí um Pedreiro Livre, e o que é mais notável, parece-me que em vez desse praguedo abominável abominável, em que muita gente desafoga a sua ira havemos de ter em campo o Valha-te a ceita dos Pedreiros livres, ainda que eu nesta parte não seguirei a opinião pública visto parecer-me, que deste modo fica a praga moderna mil vezes mais terrível do que a antiga valha-te cem mil demónios. E cuidará talvez algum dos meus leitores que me estou divertindo? Não estou não... e os Pedreiros hão-de sentir o que vale, e o que pode o irresistível Decreto da opinião pública, lavrado contra eles por todo o Povo Lusitano em Junho de 1823, servindo-lhe de apoio e de garante o Sereníssimo Senhor D. Miguel.
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