17/05/18

MONARQUIA ?! - Frei Bernardo de Brito


Em 1597 saiu a primeira parte da Monarchia Lusitana, da autoria do Cronista-geral Fr. Bernardo de Brito (do Real Mosteiro de Alcobaça).

Como eram tempos de Felipe II, talvez sem outros motivos, alguns criticaram esta primeira parte dizendo que antes de Portugal não se podia falar de Monarquia, visto que ela está reservada para situações mais elevadas.

Na segunda parte da mesma obra, Fr. Bernardo respondeu às críticas; na explicação dá clara, rica, e resumida fonte desenganadora de outras opiniões difundidas nestes nossos tempos, relativamente ao significado de "monarquia".

Aqui está:

"Três coisas (entre outras menos principais) notaram alguns escrupulosos na Primeira Parte desta obra, a que porventura esperarão emenda nesta Segunda. A primeira foi o nome de Monarquia, que estranharam, dizendo, ser roubo que se fazia às quatro famosas de Caldeus, Persas, Gregos, e Romanos, cuja era propriamente a grandeza deste título; não alcançando porventura a significação da palavra Grega Monarchichon, que tanto vale como governo de uma só pessoa, e o de Monarchia, que é estado regido por uma só cabeça independente doutra, por onde não só Portugal, que além de sua grandeza, senhoreia tantos Reinos, e Províncias em diversas partes do mundo; mas qualquer pequeno estado governado por um só Príncipe, se chama propriamente Monarchia, e seu regimento Monarchicho. E se os quatro Reinos famosos do Mundo, tiveram este apelido, não foi (como alguns inadvertidamente imaginam) por sua grandeza, senão pelo senhorio de cada um deles pender de uma só pessoa, que não reconhecia superioridade a nenhuma outra da terra." (do Prólogo do Autor aos Leitores...)

Portanto, salientemos:

1 - Como a primeira parte da obra tratou o que estava antes do Reino de Portugal, e dando então certa razão aos ditos "escrupulosos", é indubitável que em tempos do autor as quatro famosas monarquias antigas em conta eram a dos Caldeus, Persas, Gregos, e Romanos, pelo que se há de encontrar nestas a credibilidade para quem estude seriamente o significado de "monarquia" pelas fontes;

2 - A Monarquia é considerada para lá dos simples reinos etc., por requerer uma universalidade e organização de toda a sociedade dos territórios;

3 - A Monarquia tanto é "o governo de uma só pessoa" como "estado regido por uma só cabeça independente doutra". Ou seja, tanto se chama Monarquia ao ACTO, como ao domínio daquilo que é REGIDO, desde que, num e outro caso sejam por uma só pessoa/cabeça;

4 - Nisto, Portugal é sabido como "estado regido por uma só cabeça independente doutra, (...) Portugal, (...) sua grandeza, senhoreia tantos Reinos, e Províncias em diversas partes do mundo....";

5 - Frei Bernardo de Brito é um monge, homem douto até aos olhos régios, um marco na nossa história escrita, sábio entre as folhas antiquíssimas da inacessível biblioteca do Mosteiro de Alcobaça. Ele repete o que sabe e adquiriu dos nossos antigos (tradição): "... não foi (como alguns inadvertidamente imaginam) por sua grandeza, senão pelo senhorio de cada um deles pender de uma só pessoa..." e não havendo no território de mais alguém (evidentemente, não está em questão o poder espiritual).

Posto isto, recordamos que, entre todos os nossos antigos que escreveram com isenção, sumo conhecimento, desinteresse, tal é o caso de Fr. Bernardo de Brito, não encontrámos outra tradição para o conceito de "monarquia", antes pelo contrário, encontramos sempre o mesmo, quer implícita quer explicitamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

A primeira crítica foi em relação ao uso do termo "Monarquia", alegando que era uma apropriação indevida do título das quatro grandes nações: Caldeus, Persas, Gregos e Romanos. No entanto, o autor argumenta que o termo "Monarquia" refere-se a um governo liderado por uma única pessoa independente de outra, e não apenas à grandeza. Ele defende que qualquer estado governado por um único líder, como Portugal, pode ser chamado de Monarquia, independentemente de seu tamanho, desde que seja governado por uma única autoridade que não reconheça superioridade na terra.

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