16/04/18

REPOSIÇÃO DA VERDADE - A CLERESIA EM PORTUGAL; A UNS E A OUTROS!

Num mesmo artigo, eis dois assuntos com temas associados merecedores de futura explanação (assim seja).

Foi-nos mostrada uma publicação do Senhor Padre Samuel Bon (FSSPX-Portugal Facebook) a respeito de Bispos portugueses no assunto dos "recasados", junto com um comentário que este Sacerdote fez ao "dogma da Fé" e Portugal. Como os assuntos nos importam, pois são da nossa alçada, e como neste sentido tínhamos até material preparado (ainda não publicado), é agora nossa obrigação oferecer ao público a informação em falta, e tão pertinente.

I
Fora do Magistério Ordinário há Papa ou Bispo que mande ou ensine?

A quem tenta colocar mais verdade e mais bom senso onde os haja em falta, não devemos taxar de intrometido. Pelo contrário, é dever católico dar sinal, queixa, advertência até, sugestão, quanto mais de importância e urgência é o caso, e lugar; e não haja melindres do outro lado com estas iniciativas que, a bem ver, devem ser agradecidas até, e encorajadas.

Perante o Estado de Necessidade, parte dos católicos mais avisados tem reconhecido que o Magistério pós-conciliar não pode ser tomado à margem do contexto anómalo, por isso o deixam em suspenso. Enquanto isto, outros dizem que estão suspensas ad tempus as próprias Autoridades eclesiásticas.

É normal que, os primeiros (para efeitos de agilidade do discurso chamaremos agora "contextualistas") ao receberem lamentáveis novidades emitidas pelos Bispos situem-nas dentro do mesmo desenvolvimento anómalo, não confundindo-as nem misturando com aquilo que sempre foi ordinário na Igreja milenar. Já os "autoritaristas" (chamemos agora aos segundos), mesmo acreditando que tais autoridades estão suspensas, agitam-se bastante perante as novas directrizes vindas das mesmas autoridades que "suspenderam".

Ora, sendo o nosso entendimento "contextualista" é normal que não andemos colados às novelas daquele magistério e disposições da nova "tradição anómala" (pós-conciliar), e que tais lamentáveis novidades pouco mais nos sirvam que de termómetro da crise.

O que dizer da recente decisão de maior parte dos Bispos portugueses, a respeito dos "recasórios"? O mesmo que para outros casos anteriores, e outros que virão: enquanto não entenderem que o Concílio Vaticano II não é regra de interpretação, e que a Fé está claramente expressa por aquilo que a Igreja sempre ensinou com a mesma interpretação que sempre foi ... não poderão sair das amarras, não poderão sair do contexto anómalo em que vivem, consideram, e operam.

Certamente, os blogs que usam os amigos do ASCENDENS estão em conformidade com aquilo que é acreditado, ferramentas simples de partilha das coisas que cada autor ache conveniente. Quanto a este caso dos Bispos e dos "recasados", da parte do responsável do blog ASCENDENS, por exemplo, em cooperação com leitores que aqui não são muito antigos, foram e estão a ser feitos esforços para ajudar Bispos a olhar, ou recordar a doutrina milenar no seu cerne, quanto a estas questões, e  encorajar. Infelizmente, temos falta das ferramentas dos autoritaristas, os quais se colocam à partida fora e inexplicavelmente "alérgicos" a estes esforços!

Nos nossos blogues um outro motivo da ausência da repetição do criticismo autoritarista, é o de não adiantar estarmos todos a difundir o que todos estão a difundir ao mesmo tempo; e como não estamos assim tão dento das "novelas", damos vez a quem as segue e mais talento tenha para notícias.

II
Nem hereges, nem imorais, nem cismáticos. Sim, guardemos o Dogma da Fé

O Senhor Pe. Samuel Bom publicou na página da FSSPX, no Facebook (FSSPX-Portugal), uma notícia do Expresso ("Bispos do centro defendem integração de recasados "em pleno direito"") juntando o seguinte introito:  "Em Portugal, conservar-se-á o dogma da Fé... apenas nas capelas da FSSPX" (12-03-2018, 06:16h).


É normal que cada qual queira colocar louros ao seu partido, e ver reconhecido o esforço pessoal. Mas, não tendo havido qualquer declaração oficiosa da FSSPX, ou que D. Marcel Lefebvre tivesse dito, resta desdramatizar as declarações do Senhor Padre sobre os portugueses. A respeito da interpretação daquelas palavras de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (13 de Julho de 1917) a FSSPX sempre manteve a linha, realidade confirmada pelas inúmeras publicações, palestras, acções patrocinadas directamente da alta cúpula da Instituição, durante décadas: Nossa Senhora anunciou que em outros países católicos desaparecerá completamente o Dogma da Fé, mas que em Portugal sempre ele será conservado. Transcrevemos então uma publicação difundida em várias línguas pela FSSPX, e vendida nas livrarias da mesma instituição; o autor é o Pe. Fabrice Delestre, então Prior da FSSPX em Portugal, era o ano 2000, dia 18 de Julho:

"(...), duas frases da maior importância: "Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé, etc.. Isto não o digais a ninguém. A Francisco, sim, podeis dizer-lho." (cf. "Memórias de Lúcia", op. cit., pág. 172-173).
Estas duas frases transmitidas pela Irmã Lúcia são capitais e dão-nos a chave do conteúdo principal e da natureza do terceiro segredo.
1º) Lúcia faz-nos primeiro conhecer a primeira frase da terceira parte do segredo: "Em Portugal se conservará sempre o dogma da fé, etc.". Ora bem, um dia de 1943, falando desta mesma frase, disse ela ao Bispo de Leiria, que não era absolutamente necessário que redigisse o texto do terceiro segredo, "já que, de certo modo, o tinha dito" (cf. Padre Alonso: "Lá verdade sobre el secreto de Fátima" Madrid 1974, p. 64). Esta frase dá-nos, efectivamente a chave que nos permite descobrir o conteúdo principal da terceira parte do segredo:
- Ela refere-se a um tema espiritual, sobrenatural, que se relaciona com a fé, algo muito diferente dos castigos temporais e materiais anunciados na segunda parte do segredo, que haveriam de chegar caso o mundo católico não se submetesse aos pedidos formulados por Nossa Senhora: a comunhão reparadora dos primeiros sábados do mês [ver aqui artigo importante] e o acto de reparação e consagração da Rússia ao seu Coração Imaculado.
- No âmbito geral do segredo do 13 de Julho de 1917, que tem de ponta a ponta alcance mundial (a palavra "mundo" aparece quatro vezes nas vinte e duas linhas manuscritas da segunda parte do segredo), Portugal não pode ser mencionado nesta frase mais que por uma excepção, contrastando com a situação geral da fé católica no resto do mundo [geral da fé, no resto do mundo...], noutras partes da Igreja. O que se anuncia na terceira parte do segredo é uma perca da verdadeira fé em grande escala." [sublinhado e o blod não são nossos]

A FSSPX está hoje espalhada por todo o mundo (estabelecida em 37 países, dando assistência regular em mais 35; 167 priorados mais 772 oratórios/capelas [dados oficiais - La Porte Latine]).

Nossa Senhora de Fátima asseguravam que em muitos outros países o dogma da Fé se extinguiria (incluindo países onde a FSSPX se encontra); esta mesma conclusão também coincide com outras entidades reconhecidas na matéria, como a Cruzada de Fátima e o falecido Pe. Nicholas Gruner [a quem as cerimónias fúnebres foram feitas pelo Superior Geral da FSSPX, em 2015].

Posto isto, se dermos crédito à opinião pós-2017 "Em Portugal, conservar-se-á o dogma da Fé... apenas nas capelas da FSSPX", seremos forçados também a concluir que em boa parte das capelas da FSSPX fora de Portugal o dogma da fé não se manterá, ou não se mantém! Como não apoiamos, nem por razão podemos apoiar aquela opinião, não nos compete o desembaraço da conclusão a que ela obriga. 

(01-02-2018, 09:59h)
Por outro lado, a afirmação de que o dogma da Fé apenas se mantem em Portugal nas capelas da FSSPX, é uma afirmação estranha, visto que é inacessível a qualquer mortal sondar todos os corações, de velhos e novos, de citadinos e aldeães, de civis e religiosos, de eremitas e gente recolhida, de gente muito social... a não ser que tal informação tenha vindo de fonte sobrenatural (veremos que também não é possível, neste caso). Fora disto, a forma de alguém em consciência achar que tal coisa é assim, é  crer que fora da FSSPX não é possível a Fé, nem a conversão (e se for este o caso, o qual nunca vimos explicitado, que venha à luz).

Por fim, podemos assegurar que fora das capelas da FSSPX existe Fé em Portugal, e podemos assegurar que nelas a Fé também existe.

Com algum receio publicamos este artigo, e pedimos a quem se achar discorde pela razão se manifeste aqui. Aceitamos a conversação destes temas apenas no nível que lhes pertence: desapaixonadamente, academicamente, e partindo da recta intenção do oponente. Este é um artigo de certa urgência, que não conseguimos contornar nem achar-lhe melhor alternativa. Esperamos não irritar, não queremos irritar nem causar inimizades; continuamos de portas abertas a todos os que vierem por bem.

Pelas Cinco Chagas de Nosso Senhor,
a equipe ASCENDENS

4 comentários:

Anónimo disse...

Acho que devem falar essas coisas com o padre Samuel, não é vir para aqui comprometer as pessoas.

anónimo disse...

Caro(a) anónimo(a)

obrigado por opinar.

O nosso artigo abrange:

1 - 44 Bispos portugueses;
2 - 1 Instituição católica (FSSPX)
3 - 10.000.000 portugueses
4 - 1 Prior da FSSPX em Portugal (ano 2000)
5 - 1 Prior da FSSPX em Portugal (ano 2018)

Antes do nosso artigo não consultámos nenhum destes, apenas nos fundamentámos nas declarações e publicações não privadas.

Não há que dramatizar; os assuntos são claros, a matéria objectiva.

Volte sempre.

Anónimo disse...

É mesmo uma expressão curiosa, o «dogma da Fé». Soa como referência a um catolicismo bem fundamentado na doutrina... que não é a característica principal do catolicismo português, nem ontem, nem hoje. Muita piedade, pouca doutrina... Mas não parece se referir a um dogma em especial, antes bem ao corpus de doutrina da Igreja católica. O qual está sendo tão maltratado hoje em Portugal como em qualquer sítio...

anónimo disse...

Caro(a) anónimo(a),

sem dúvida que a Fé está muitíssimo enfraquecida em qualquer parte do mundo. Mas não diga "pouca doutrina", porque a doutrina e a Fé são por inteiro (quem retira uma mínima parte que seja à doutrina leva o nome de "herege"), nisto o "muita" nem "pouca" . Quantos teólogos de "muita doutrina" não estão no inferno? Quantos heresiarcas de "muita doutrina" por pouca coisa espalharam o erro contra o dogma da fé?

(continuará, que tenho que interromper neste momento)

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