23/06/17

OS BONS PRINCÌPIOS E A ESTRANHA PASTORINHA (I)


Submetamos a alguns dos nossos princípios uma passagem atribuída à Irmã Lúcia, do livro "Um Caminho Sob o Olhar de Maria". Tentativa arrojada esta, como verão, e contracorrente; a alguns leitores desagradará que desmontemos tal trecho, o submetamos, e voltemos depois a ordena-lo fazendo conclusão não coincidente com o seu sentir.
A passagem em questão:

"Se Portugal não aprova o aborto, ficará a salvo; se o aprovar, terá muito que sofrer. Pelo pecado da pessoa paga a pessoa que dele é responsável; mas pelo pecado da Nação paga todo o povo. Porque os governantes que promulgam as leis iníquas fazem-no em nome do povo que os elegeu."
Antes de mais, segundo dados que posteriormente daremos, não garantimos que estas sejam realmente palavras da Irmã Lúcia, nem asseveramos que a Irmã Lúcia não tenha dito algo parecido (anteriormente, já nos tinha parecido haver motivos para colocar algumas reservas ao livro de onde transcrevemos).

Atenção primeira a cada um dos pontos seguintes, contendo princípios antigos que defendemos, para melhor ir depois ao assunto (as notas serão colocadas  na caixa de comentários, e poderão ali aparecer outros complementos posteriormente):
- Cremos terem essência própria cada um dos Reinos Católicos (que a Cristandade coloca por ordem: Sacro Império, França, Inglaterra, Castela, Portugal, Catalunha etc.). [1]
- É público que falamos de Portugal pelo Reino Católico que É, o qual ESTÁ hoje ocupado por meio de uma República (antes por meio de uma "monarquia" constitucional, desde de 1834, a 1910 - no séc. XVII a nossa Monarquia tinha ela mesma ficado ocupada pelos ilegítimos reis Filipe). Reino de Portugal por vontade de Deus, com permissão de Deus hoje ocupado (à imagem do que sucede com os restantes Reinos Cristãos). Portanto, quanto ao SER: Portugal é um Reino; quanto ao ESTAR: Portugal está ocupado; e é justamente sob estas distinções que os nossos antigos não confundiram a rebelião com o dever de restituição daquilo que é devido. [2]

- Sabe-se que estamos firmemente com aquela verdade segundo a qual, nos referidos reinos cristãos, uma "lei" que fira aquilo que Deus ordena é violação, ofensa grave, coisa ilegítima (neste nível de consideração não pode haver licitude que seja ilegítima, ou legitimidade que seja ilícita), não seria verdadeira lei.  Tal não seria também coisa de Portugal, portanto, nem dos reinos cristãos, sim contra Portugal, ou contra qualquer um dos reinos cristãos onde aquilo fosse, contra a Europa, conta a cristandade e a Cristandade, [3] contra a Igreja. [4]
- Quem tomar para si estas verdades só poderá dizer: "afinal, Portugal não aprovou leis abortistas, nem aprova, nem aprovará".  E diz bem. É a Lei de Deus e a natural (ambas do mesmo Divino Autor) aquelas que, uma vez tomadas honestamente pelo Rei, ao Reino se aplicam, e estendem, desdobrando-se em várias leis e ordenações, à medida que a realidade clame, aqui e a li. [5]
- Temos usado a designação "República-em-Portugal", que o vulgo por enganado costuma chamar "República Portuguesa". Não pode essa tal república falar verdadeiramente em nome de Portugal [6] (atenção: não sugerimos ignorar ao ponto de ignorar os impostos etc... - assunto que não cabe aqui agora). Com ou sem culpabilidade (que a ignorância não culpável também não culpa), foram os republicanos os responsáveis pelas suas leis abortistas, para impô-las aos portugueses.

O leitor que não aceita estes princípios, provavelmente não lhe adiantará continuar a leitura.
Vamos agora submeter aos mesmos princípios aquelas palavras atribuídas à Irmã Lúcia:

1 - "Se Portugal não aprovar o aborto, ficará a salvo." - Portugal não aprova, não aprovou, nem aprovará (já vimos como). Adaptando: "Portugal não aprovará o aborto, e por isso ficará a salvo".

2 - "se o aprovar [ao aborto], terá muito que sofrer." - como não o aprova, mas como houve "aprovação" republicana, adaptemos: "quem o "aprovar", terá muito que sofrer".

3 - "Pelo pecado da pessoa paga a pessoa que dele é responsável;" - Assim é.

4 - "mas pelo pecado da Nação paga todo o povo." - Sim, o princípio está certo, embora requeira trocar "nação" por "Portugal". Acontece tal pecado não é da Nação (como já vimos), é contra Portugal e a culpa recai em quem "aprovou" tal ataque aos portugueses: a "República-em-Portugal". Não há que adaptar que não seja necessário, e por isso apenas suprimamos esta parte.

5 - "Porque os governantes que promulgam as leis iníquas fazem-no em nome do povo que os elegeu." - esta explicação não é necessária agora, mas será depois comentada. Por isso também não há daqui coisa que adaptar.

["Adaptando: "Porque os falsos governantes que forjam as "leis" iníquas fazem-no usando o nome do povo que " ... > vestígio do nosso texto primitivo]
Montando as partes:

"Portugal não aprova o aborto, e fica a salvo; mas quem em Portugal o quer aprovar terá muito que sofrer; pois, pelo pecado da pessoa paga a pessoa que dele é responsável."

Aqueles que dizem "vamos exercer o nosso direito de voto" terão contas a prestar [7], isso sim, porque tal "direito" lhes veio do conjunto republicano de leis que os obriga às leis abortistas. É a esses que cabe ter muito que sofrer pelo negócio de usufruírem de falsos direitos em troca de dar falsa legitimidade à República. Como nós, todos aqueles que se têm negado a dar força de legitimidade à República-em-Portugal", não cabe sofrer nem muito nem pouco como seu povo; somos PORTUGUESES verdadeiros e suportamos o peso que hoje isso representa e exige.

Mas enfim, em Portugal mais legítimo é o poder temporal-territorial de um Bispo que o de um republicano; a Igreja em Portugal esteve sempre declaradamente contra o aborto. Nem sequer o aborto foi aprovado em Portugal ... continuou a ser crime nas leis republicanas, mas, em dadas condições tal crime é despenalizado (despenalizar um crime em dadas condições é diferente de legalizar o crime ou removê-lo dessa classe). Por fim, não foram os governantes republicanos a votar a despenalização: um referendo popular, cuja pergunta tinha várias deficiências, levou com uma abstenção de 56% (a maioria), e tendo havido um anterior, em 1998 o "não"ganhou.

(a continuar)

6 comentários:

anónimo disse...

NOTA [1]
A crença de que estes Reinos Cristãos são formados por Deus, e têm essência, é tão antiga quanto os próprios, é continuada oficiosamente por séculos, segundo Pensamento Católico. Não estão na mesma categoria as nações posteriores, que foram (ou são!?) parte daqueles reinos cristãos.

anónimo disse...

NOTA [2]
Até 1834, Portugal foi o único Reino Cristão a manter fidelidade da legitimidade ao Trono - a curta ocupação dos Filipes, como se veio a revelar, foi sanada por aquilo a que se quis chamar "restauração"; até 1834 Portugal foi o único Reino Cristão a manter a sua Monarquia, ou seja, a operar segundo o seu sistema de verdadeira monarquia - mesmo que nos últimos tempos tivesse havido um descuido do qual a tempo nos demos conta. Foram então aproximadamente 700 anos, desde a fundação do Reino até à victoria liberal de 1834; 7 séculos de fidelidade que são o exemplo perante a Cristandade, tanto ao "legítimo superior" como ao "tradicional sistema", e, já agora, parafraseando o que nos foi dito desde o Trono de S. Pedro: de fidelidade exemplar ao Papado; não fosse o nosso nome católico o de "Fidelíssimos".

Mem de Sá disse...

Há muitos escritos atribuídos à Ir. Lúcia. Repito, atribuídos. Por exemplo, neste aqui:

http://www.fatima.org/port/news/cr80pgsup2_port.asp

Extratos de alegadas cartas (anos 70):

"De boa vontade me sacrifico, e ofereço a Deus a vida; pela paz da Sua Igreja, pelos sacerdotes e por todas as almas consagradas, sobretudo por aquelas que andam tão iludidas e tão transviadas! Pelos nossos Irmãos separados: Que Deus a todos dê luz e os traga ao bom caminho, — ao caminho da Verdade, que é Jesus Cristo."

"Irmãos separados"?

Também:

"P.E. — Talvez que esse Sr. Padre, de quem me fala na sua carta, pudesse iniciar, na Rússia, a reza do Terço, escrevendo ao Patriarca de Moscovo."

Para que contatar um agente da KGB para organizar a reza do terço em Moscovo?

Daí que é difícil acreditar em tudo o que se diz sobre a Ir. Lúcia a partir dos anos 60.



anónimo disse...

Caro Mem de Sá ...

Não vejo problema em dizer "irmãos separados" para aqueles que estão fora da Igreja, e desejar que eles voltem à Verdade! Sobre o padre na Rússia ela diz "talvez" e a sugestão é a de rezarem o terço... o que só lhes faria bem... não vejo problemas quanto a isso!

Mas acho mais estranho que vá contra uma bula de indulgências por recomendar que na Missa não se pode rezar o terço, etc. Acho que a Missa de que fala é a de Paulo VI, e isso tb. é estranho, porque seria de estar a rezar o terço justamente nessas missas!

Mas não arrisco a concluir que esse livrinho não é dela, ou que foi alterado. Teria que ver melhor ... Mas veja esta: "Eu tenho uma grande esperança: que não virá longe o dia em que a oração do santo Rosário e Terço sejam declaradas oração litúrgica. Sim, porque toda ela faz parte da Sagrada Liturgia Eucarística." .... Se isto é falso, então temos modernistas-conservadores no comando, e já em outros casos é o mesmo.

Mas ... enfim... nos tempos que correm a ignorância é obrigatória para não ficar louco, ou mártir....

Cumprimentos

M. Maria disse...

Caso o Ascendens nao saiba, "Irmãos separados"/"cristãos separados" foi um termo criado pelos propagadores do falso ecumenismo para dizer das seitas protestantes, com pretexto de amenizar o significado de verdade no termo "hereges" ou "cismáticos". Por isto não vejo muita lógica na irmã Lucia utilizar desta linguagem, sem mais nem menos.

Saudações

anónimo disse...

Cara M. Maria,

obrigado por comentar.

sim, diz bem. O livro que o Carmelo de Coimbra publicou tem lá mão estranha, isso é certo, e estas coisas que aqui vimos não são a única mostra. Infelizmente não houve tempo para continuar com esta saga!

Volte sempre.

TEXTOS ANTERIORES