24/02/17

26 de FEVEREIRO - AGIOLÓGIO LUSITANO (I)

Agiológio Lusitano
 
Santiago Matamouros (em Santiago de Compostela - Galiza)
 
FEVEREIRO 26

a) No Convento de Palmela, meia légua da notável vila de Setúbal, a festa da dedicação de sua Igreja, da qual é titular o Apóstolo São Tiago Maior, patrono da antiga militar Ordem de seu nome neste Reino, de que o dito convento é cabeça. Nele debaixo da regra de Sto. Agostinho vivem clérigos freires em comunidade, que são observantíssimos das sagradas cerimónias Eclesiásticas, celebrando os divinos Ofícios com grande majestade, e perfeição.
 
- do comentário:
A Ordem de Santiago é a mais antiga de todas as militares, de que nasceram as várias opiniões de seu princípio. De todas (como mais seguida de graves autores), abraçamos a que acima diz ser fundada por ElRei D. Ramiro I de Leão, que (segundo Vaseo) começou a reinar no ano 824 o qual alcançado dos Mouros a memorável vitória de Clauijo, como o favor do S. Apostolo; em sua honra (por mostrar-se agradecido a tão soberana mercê) deu princípio a esta nova milícia; e por memória da espada banhada em Mauritano sangue, com que o Santo Apóstolo em cavalo branco foi visto  no maior conflicto da batalha, fazendo nos Mouros incrível estrago, quis que trouxesse por insígnia no peito os professores dela Cruz vermelha em forma de espada, que lhe servisse de perpétua lembrança da obrigação que tinham de pelejar contra os inimigos da Fé em defesa da pátria. Esta Ordem se foi dilatando, e estimando tanto em Espanha, que no ano 1030 tinha muitos cavaleiros, e comendas de importância, como se mostra do privilégio, que ElRei D. Fernando de Leão concedeu a Comendadeiras de S. Spiritus em Salamanca, que trazem Rades, e Ávila em suas obras. A infância do Mestre Dom Pedro Fernandes de Fuen-celada, ou (como outros dizem) de Fuente-arcada, que é em Portugal, foi aprovada pelo Papa Alexandre III no ano 1175. E não somente os Reis de Castela, Leão, Aragão, e Navarra se mostraram magníficos com esta nova Ordem: mas também os de Portugal, pois ElRei D. Sancho no ano 1186 e primeiro de seu reinado, lhe fez doação dos Castelos de Alcácer, Palmela, Almada, e Arruda. Pelo que do tempo de seu pai ElRei D. Afonso Henriques se mostra que estavam já nele de assento no convento de Santos o velho em Lisboa, donde passaram a Mértola, vila vizinha ao Algarve sobre o Guadiano, que havia ganhado aos Mouros ElRei D. Sancho Capelo [de cognome]. E daí se mudou para Alcárcer do Sal, e ultimamente para o Castelo de Palmela, onde hoje está. A sua Igreja já se deu princípio a 5 de Maio de 1443 sendo Mestre o Infante D. João filho DelRei D. João I continuou-se com a obra, e entrando na administração do Mestrado o Infante D. Fernando, filho DelRei D. Duarte, a acabou e prosseguiu a fábrica das oficinas do convento, a que deu fim o Príncipe D. João, passando os freires de uma para outra parte a 26 de Outubro de 1482, fazendo a este de Palmela cabeça de toda a Ordem, o qual tem freires, e um D. Prior, dignidade das mais autorizadas deste reino, que nos Pontificais usa de Mitra, e Bago, por concessão de Leão X no ano 1515.
Neste convento (de antigo costume) se reza neste dia a Sagração, em cuja Kalenda leem-se estas palavras: "Hac die Dedicatio Ecclesia S. Iacobi". Lá se duvidou, e com grande fundamento, que tempo é o de que rezam, pois este não foi sagrado. Disseram alguns ser o do Pilar de Saragoça, por ser o primeiro, que a Rainha dos Anjos teve no mundo, erigido (ainda sendo viva) por Santiago. Porém aquela Igreja chama-se N. Senhora do Pilar, e não do S. Apóstolo. Outros de Lodio, que estava junto a Lugo, onde os primitivos freires muitos anos habitaram. Mas como este fosse dedicado a S. Eloy Bispos, e Confessor, não quadra com o nosso título. Não faltou quem escrevesse era a de Compostela, não advertindo, que lá se reza a 2ª Dominga post Pascha. E outros finalmente, que a de S. Marcos de Leão, para onde os feires de Lodio se passaram, na qual perseverou sempre a Ordem, como em cabeça. E rezando lá a 26 de Fevereiro, como em Portugal, que antes que se ezimisse da obediência de Castela, em tempo DelRei D. Dinis, por Breve do Papa Nicolau IV no ano 1291, reconhecia ao dito convento por cabeça, não há dúvida ser esta a de que se reza, e por consequência em todas as Igrejas da Ordem. O que se prova da folinha [?] de Castela, que neste dia aponta: "Dedicatio Ecclesiarum Ordinis S. Iacobi", e em Portugal vemos o mesmo em todos os conventos de Cristo a 31 de Agosto, e na Congregação da Serra d'Ossa a 1 de Setembro. O próprio usam os Trinos, e Carmelitas descalços, aqueles a II de Outubro, estes a 31 de Agosto. Quem a quiser ver a fundação e progressos desta milícia difusamente leia a Rades na Chron. Iacome Bosio in hist. Milit. (tom. 1 l.2 ano 1160), Motta na explicação da regra Paulo Mor. das Religiões (l.4 c.4), Carrilho in Annalib. (ano 1173, Sanson. d'Orig. ord. equest. (...) Oxea e Ferrer nas hist. de Santiago, Vaseo, Mariana, Morales, e os mais que cita Cunha na p.1 do Decreto dist.34 c.12 n.93.
 
 
b) Em Vila Viçosa, no convento das Chagas, casa de Franciscas, a translação das preciosas relíquias de Sta. Anastácia Mártir, natural de Roma, a quem Públio seu marido, entendendo professava a lei de Cristo, por fazer esmolas aos Cristãos que estavam presos pela Fé, a encarcerou numa estreita, e tenebrosa prisão, onde a teve muitos dias, dando-lhe limitado sustento. Ali foi animada de S. Crisóstomo, (que depois foi Mártir) com cartas consolatórias. Neste com menos livre do vínculo do matrimónio (por morte do marido) podendo escapar de tão cruel presunção, como foi a de Diocleciano, (que por todo o Império andava mui furiosa) o que quis fazer, pelo que de novo presa de mandado de Floro Prefeito de Esclavónia, e desterrada com outros Cristãos para as Ilhas Palmarias, nelas atribulada com dilatas prisões, e ultimamente atada de pés, e mãos a quatro paus, e rodeada de grande fogueira, conseguiu a gloriosa palma do martírio, com que fez de si inteiro holocausto a Cristo no sacrossanto dia de Natal, em que a Igreja celebra sua festa.
 
- do comentário:
D. José de Melo, depois Arcebispo de Évora (sendo agente na Cúria) alcançou grande número de relíquias, com que enriqueceu vários conventos deste Reino. Ao das Chagas de Vila Viçosa deu três corpos inteiros, a saber S. Hilário B. e M. S. Clemente Mártir, e o da gloriosa S. Anastácia, que todos foram trazidos a ele com solene procissão, e pompa, posto que em diversos dias; de cada um dos quais se fará (em seu lugar) devida menção. O de Sta. Anastácia em sexta-feira 26 de Fevereiro de 1600 no qual se festeja com ofício duplex, mostrando-se as Religiosas agradecidas aos muitos milagres, que cada dia por seu meio experimentam: o de seu próprio Martírio é o de Natal, em que a Igreja santa faz dela memória na 2ª Missa, e outro no Canon, e finalmente nas Ladainhas, que certo são raras prerrogativas, que se acham em poucos santos, das quais dignamente goza, pois foi ela a principal, e coroa das Santas Matronas Mártires, cuja vida escrevem a 25 de Dezembro (de mais dos Martirológios) Metaphrastes, Nicephoro, Monbrito, Equilino, Belouacense, Voragine, Lipomano, e Surio, e os Flos Sanctoruns de Vilhegas, e Ribadaneira.

Corpo incorrupto de S. Torcato (Santuário de S. Torcato - Guimarães, Portugal)
c) Na Catedral de Braga, a festa, e martírio de S. Torquato [Torcato] Félix, que de moço se criou à sombra da Rainha dos Anjos na Sé de Toledo sua pátria, e ali dedicado ao divino culto, igualmente aproveitou, assim nas sagradas letras, como nas virtudes. Promovido a Ordens sacras, resplandecendo nele conhecida santidade, foi constituído Arcipreste da mesma Igreja. Passados alguns anos, vagando o Bispado de Iria Flávia em Galiza, eleito pelos cónegos da qual Igreja em seu Prelado, dela foi promovido à do Porto. Neste comenos convocado o XVI C. Toledano de 55 Bispos, de mandado DelRei Egica, em que se decretam as mudanças de Félix, Arcebispo de Sevilha para Toledo, e Faustino de Braga para Sevilha, julgou aquele gravíssimo conclave, que só São Torcato podia ocupar dignamente o lugar daquela insigne primacial na falta de tão santo Prelado. E conhecendo a muita suficiência, que nesse havia para governar aquela, e outras prelazias, o deixaram também com administração da do Porto. E pouco depois se lhe encomendou a de Dume. Estando pois (como bom pastor) ocupado em apascentar duas ovelhas com prudência, e vigilância, dando a todas exemplo de bom Prelado, sucedeu a lamentável perda de Hespanha com a entrada dos Mouros, na qual coube ao Capitão Muça, Portugal, e Galiza, que entrando com bárbaro furor destruído toda a terra, sem perdoar a profano, nem sagrado, junto a Guimarães lhe saiu ao encontro o glorioso S. Torcato, e com santa liberdade o repreendeu das crueldades, que usava para com os Católicos, e dos sacrilégios, que cometia contra Deus, e lugares sagrados, de que indignado o feroz Capitão remeteu a ele, e com grande desumanidade, (à força de cruéis feridas) lhe tirou a vida, e a 27 companheiros, todos cidadãos de Braga, que naquela ditosa hora o acompanhavam. E no mesmo lugar (que foi ao pé de um monte) se deu a todos sepultura. Andando o tempo, por meio de celestiais luzes o precioso tesouro de suas relíquias, os Cristãos lhe erigiram uma piquena ermida, e nela descansaram alguns anos, até serem com solenidade transferidas ao mosteiro de seu nome, e colocadas em majestoso sepulcro de pedra, no qual são visitadas, e veneradas a santidade de seu fiel servo com gloriosos milagres.


 
- do comentário:
O corpo de S. Torcato se venera no antigo mosteiro de seu nome, uma légua das ruinas de Cinnania, e em igual distância de Guimarães. É mui nomeado neste reino pelos contínuos milagres, que Deus por ela obra. Em razão de sua pátria, vida, e Martírio há diversas opiniões.
A primeira é de Gaspar Estaço, que nas suas Antiguidades (cap.32) assim afirma:
Ser este Santo o principal dos 9 discípulos, que Santiago Maior escolheu em Galiza, e constituiu em primeiro Bispo de Acci (que é Gaudiz no Reino de Granada;) a quem uns fazem Confessor, outros Mártir. Cujo corpo descansou até ao ano 714 em que os Mouros entraram em Hespanha, ou 760 quando Abderramen (segundo o Arcebispo D. Rodrigo) vindo a ela, mandava queimar os corpos dos Santos, por cuja causa alguns devotos Cristãos, tomando as relíquias que puderam para as pôr em salvo, fugiam com elas para as montanhas, e lugares ásperos, e solitários, e talvez ocupados de medo, e perturbação, no caminho as deixavam em algum lugar oculto, que lhes parecia acomodado, ou as enterravam com certos sinais, e balizas para serem achadas mais facilmente, onde estiveram escondidas em quanto durou o bárbaro domínio Agareno. E achados vários corpos de Santos da piedade dos fiéis, o de S. Torcato, miraculosamente junto a Guimarães no lugar da ermida velha.
A segunda de Fr. Bernardo de Brito na Monarchia Lusit. (p.2 l.5. c.5) que diz:
Foi natural de Cinnania, e primeiro Bispo daquela antiga cidade, posto pelo mesmo S. Apostolo, a quem os moradores da Serra d'Vieira deram cruel morte com paus, e pedras, pelos haver repreendido das idolatrias, e bárbaros ritos, que o Santo lhe viu cometer em certa festa de seus falsos deuses, pelo que nos séculos passados por antigo voto, vinham os moradores daquele conselho cingidos com cordas, e descalços, visitar suas sepultura, como em penitência, e satisfação do pecado de seus antecessores.
A terceira teve Gaspar Alvares Louzada (escrivão que foi da Torre do Tombo, mais conhecido por fama, e obras m. (que por alguma que deixasse impressa) fundada na tradição daquela comarca, dizendo:
Que S. Torcato foi irmão de Sta. Senhorina que sendo Bispo escolhei o lugar da sua antiga ermida por solitário, na qual esteve escondido enquanto durou a perseguição, depois da qual (...) acabou em paz, pois as pinturas, e imagens que deste Santo se conservam, e veneram na dita ermida, mosteiro, e colegiada de Guimarães se representa em Pontifical com insígnias de Confessor, e não de Mártir.
E acrescenta em prova de que foram irmãos S. Torcato e Sta. Senhorina, que vão os de Vieira também em procissão a Basto em 21 de Abril, dia de sua festividade.
 
A quarta, e última, com que por mais antiga, e verdadeira nos conformamos, tem por autor a Juliano in Advers. (n.309) o qual diz que vindo D. Bernardo, Arcebispo de Toledo, por Legado a este Reino, e ele em sua companhia, sitiara, não longe de Guimarães o sepulcro de S. Torcato Félix, suas palavras são:
Non procul Vimaro in tractua Bracharensi visi sepulchrum sanctissimi Torquati, cognomenio Felicis, Episcopi Reacharensis, et Martyris qui interfait XVI Toledano Concilio, fuit pátria Toletanus, et eius urbis Archipraesbyter, in de Episcopus Iriensis, inde Portuensis et Bracharensis. Occibus est sidei sancta a per fidis Sarracenibus Muça na. D CCLXXIV (...) Martias, ut legiin Martyrologiis. Occibus est c[?] aliis xxvii civibus Bracharensibus. E[?] gratia vocatum est oppidum prope Complutum, idest (...) S. Torquati, et in fine Tuletani Episcopaliis, S. Felicis, et nunc Sahelices, et prope ::: coloniam S. Félix Gallecorum, celebris est tanti viri memoria.
Para mais inteligência da verdade desta última opinião, se deve saber, que por morte de Vencible, Bispo de Iria Flavia, que hoje é o Padrão no Reino de Galiza, foi eleito S. Torcato. Não consta quanto administrou esta dignidade, nem a do Porto, onde sucedeu a Froarico, porém sabemos que no ano 693 em que se celebou o XVI C. Toledano, no qual foi Sisberto privado da dignidade de Toledo, pela grave taição, que (em companhia de facinorosos seculares) maquinava contra ElRei Egica, mandaram a Félix de Sevilha para Toledo, e Faustino de Braga para Sevilha, e ao nosso S. Torcato Félix (que já governava a Sé do Porto) promoveram a Braga, com pressuposto, que governasse ambas as Igrejas. Esta mudança consta do Can. II do mesmo Concílio, e da subscrição seguinte, que nele fez: Ego Félix in Dei nomine Bracharensis atque Portuensis sedium Episcopus haec decreta synodalia a nobis edita subscripsi. Acrescenta Vaseu in Chr. ad au. 699 por autoridade do Arcebispo D. Rodrigo, que nas suas obras m. f. se achava na margem do C.XVII celebrado no ano 694 Felicem istum Bracharensem, et Dumiensem Episcopum subscribere in l. Canonum. De onde nos persuadimos, que teve também o governo de Dume.
A isto nos poderão arguir alguns escrúpulos, que nestes Concílios sempre assinou só com o nome de Félix e nunca de Torcato, mas a solução é fácil. Porque devia ser mais conhecido pelo apelido, que pelo nome próprio, de que em caso semelhantes há vários exemplos, como sucedeu a seu antecessor na cadeira de Braga, que chamando-se Leodisio Julião, ora se assina por seu próprio nome ora pelo apelido somente, e por este é mais conhecido, como se pode ver nos Concílios de seu tempo. E daqui parece nasceu a variedade de nomes com que achamos nomeado S. Torcato. No itinerário de Carlos Magno ao sepulcro de Santiago (se damos crédito ao Bispo Turpino) se diz, que de caminho visitou em Guimarães, o de S. Toruesco. E no Decreto (capítulo: Cum non liceat de praescriptionibus), se chama seu convento de S. Donato. Nas doações, que os antigos Reis lhe fizeram, se nomeia de S. Tolquide; o Martyrol. Rom. neste dia: "Fortunatis Felicis", se não foi descuido, ou equivocação dos que o copiaram, pois não somente mudaram "Torquati" em "Fortunati" mas entremeteram a conjunção "et" dando ocasião a se cuidar, que eram dois Santos diversos. Pelo nome de S. Torcato, é hoje mui conhecido de todos entre Douro e Minho.
Padeceu Martírio no ano 719 no lugar de sua antiga ermida, pois junto a ela há bem copiuso anos, que em certas pedras (hoje cobertas de Musgo) mostravam os devotos o sangue do Santo, precioso esmalte, que para prova desta verdade, quis o Céu se conservasse por tantos séculos. E é constante tradição, que na dita ermida descançava o sagrado corpo para aquela parte donde hoje sai o torno de água, que do Santo toma o nome pelos contínuos milagres que obra. Dela foi trasladado ao Convento, que está em distância de tiro de pedra onde se venera em própria capela, e sepulcro de pedra de onze palmos de largo, e dois de alto, sustentando em quanto colunas, rodeadas de grades de ferro para maior resguardo, e decência; o qual pela continuação, que o pouco tem de raspar dele para várias enfermidades, está já gastado. E adverte o nosso João de Barros nas Antiguidades de entre Douro, e Minho, que em seu tempo saía dele cheiro suavíssimo. E na última translação feita no ano 1630 se achou o corpo inteiro com as feridas do Martírio. Sua festa se celebra o primeiro de Maio com várias procissões, que vão dos lugares em torno, e têm feira. Na colegial a 15 seguindo ainda a opinião de Estaço, mas o Breviário novo de Braga a põem a 26 de Fevereiro, em que tratam dele os Martirológios.
As relíquias de seus santos companheiros julgamos serem as que se vêem colocadas em nicho próprio, pegado ao altar do mesmo Santo com letras góticas, que dizem:
Nomina iustorum, quórum hic requiescunt, membra sanctorum Vincentii, Martini, Romani, Felicis, Stephani, Leocadiae, Columbae, Sabinae, Christetae, Iustinae. :::::::
As quais relíquias estavam já neste lugar no ano 1173 quando ElRei D. Afonso Henriques o contou, fazendo dele doação aos Cónegos Regulares de Sto. Agostinho, como se vê de uma escritura feita na era de 1211:
In nomine Patris, etc.. Hec este carta cauti, sine testamenti, quam ego. A. Rex Portugalenti[?] una cum filio meo rege D. Sancio, et filia mea Regina Tharasia pro amore Dei, et remisione peccatorum meorum facio Eccl. S. Mariae, et S. Torquati, et aliorum Sanctorum, quórum ibi reliquiae condita sunt. Et vobis D. Pelagio eiusdem Eccl. Priori, et cateris fratribus, tam praesentibus, quam futuris, qui in praefeta Ecclesia bene vixerint, et secundum Canonicam regulam B. Augustt. in sancta conversatione permanserint do[?] vobis, atque concedo, et presentis scripturae munime confirmo candem Ecclesiam cum adjacentibus villis suis, etc.
É tanta a antiguidade deste Convento, que não se sabe de seu fundador. Já D. Ramiro II de Leão o anexou ao da Condessa D. Numadona (como se lê no inventário de sua fazenda). ElRei D. Fernando de Leão na carta de privilégio, que concede a este da Condessa no ano 1049 faz menção do de S. Torquato, e assim esteve até ao tempo DelRei D. Afonso Henriques, que o desmembrou, fazendo a dita doação aos Cónegos Regulares, que nele perseveraram até ao ano de 1474 em que por breve do Papa Xisto IV foi com outros dois anexos à insigne Colegial de Guimarães.
Esta agora satisfazemos aos argumentos das opiniões contrárias:
I - Quanto à primeira, não padece dúvida estar hoje o corpo de S. Torcato, discípulo de Santiago, e primeiro Bispo de Acci (que padeceu na persecução de Nero) em Galiza no mosteiro de Cella nova, o qual esteve primeiro na Igreja de Sta. Comba de Nande [Bande], Priorado sujeito ao mesmo convento, para onde na destruição de Hespanha, foi trazido de Galiza, cujas relíquias em várias translações, feitas em diversos tempos, foram vistas no dito convento, onde com grande concurso de povo, a I de maio se celebra sua festa com jubileu, assim o tem a torrente dos escritores de Hespanha, e nós mostraremos em seu próprio dia.
II - Quanto à segunda, não se pode dizer, que a cidade de Acci seja a mesma, que Cinnania, ou Citania, porque daquela faz menção Ptolomeu na 2ª tábua da Geog. e conforme a situação, e altura, caía no Reino de Granada, da qual diz Plínio, que foi Colónia de Romanos, e dela recorriam à Chancelaria de Cartagena; e a cidade de Cinnania estava na Lusitânia, segundo Valério Máximo (l.6 c.4) e assim não vale a equivocação dos nomes Accitana, em Cinnania, ou Citania. De mais, que não sabemos, que esta nossa cidade tivesse nunca Bispo, nem ela se nomeia entre as que Santiago proveu de pastor, por estas pegado a Braga. O virem os moradores da Serra de Vieira antigamente ao sepulcro de S. Torcato, não induz probabilidade, que seus antepassados o martirizassem, mas ser voto, que fizeram, obrigados de alguma mercê, que por seu meio alcançaram do céu; o qual o senhor D. F. Bartolomeu dos Mártires lhes comutou em certa quantidade de cera. Porque também os moradores de Coimbra vão despidos da cintura arriba ao convento de S. Cruz, em 16 de Janeiro, dia dos Santos Mártires de Marrocos, e nem por isso havemos de dizer, que o fizessem em penitência, de que seus antecessores os martirizassem, pois morreram em África às mãos de Mouros; mas obrigados de particular voto, que referem as Chron. dos Menores.
III - A terceira, e última, respondemos, que S. Senhorina [Senhorinha], de mais de pelos Nobiliários, não sabemos que tivesse tal irmão: faleceu no ano 982. E Ramiro II quando fez a doação do convento de S. Torcato (hoje quase extinto) ao de Numadona (de que acima se fala) reinava em Leão, e seguindo os mais ajustados cômputos, começou no de 927 por 23 anos. E já naquele tempo fala a dita doação em S. Torcato seu titular: logo não pode ser irmão de Sta. Senhorina. Assim mesmo não consta das histórias deste Reino, que por estes tempos nela houvesse Mártires, e que em respeito de tal persecução se houvesse de ausentar o Santo, e não prova em contrário achar-se pintado com estas, ou aquelas insígnias, quando ela maior parte hoje vemos as Imagens dos Santos Bispos em Pontifical, dado que fossem Mártires, nem por isso têm mais que o báculo, e livro nas mãos, Finalmente o irem a S. Torcato e Sta. Senhorina os moradores de Vieira em procissão nos seus em procissão nos seus dias nasceu de quem esta Santa foi Abadessa do célebre convento, que no dito distrito teve a Ordem de S. Bento, cujas monjas se passaram para o de Basto. Pelo que nenhuma das coisas referidas pertencem ao nosso S. Torcato Félix, e assim nesta parte estamos em muita obrigação a Juliano, que com sua verdadeira narração nos tirou de tantas doidas, e absurdos. Esta nossa opinião seguiu já D. Rodrigo da Cunha no Cat. dos Bispos do Porto (p.1 c.11 e nas adições à p.2 c.4 c.48) e na hist. de Braga (p.1 c.100). Escrevem também dele enquanto o distinguiram de S. Torcato, que jaz em Calla-nova, D. Mauro Castela na hist. de San-tiago (l.2 c.11) Fr. Fernando Oxea na mesma (c.13) o Pe. Vasc. (p.560) e outros.

(a continuar)

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