27/08/16

O ÓRGÃO - O INSTRUMENTO DA IGREJA, EM PORTUGAL (XIX) parte A

Basílica do Real Convento de Nossa  Senhora e Santo António

(Mafra - Portugal)


A chamada Basílica de Mafra é a Basílica do Real Convento de Nossa Senhora e Sto. António [de Lisboa], na vila de Mafra (Portugal). De forma resumida, aos estrangeiros podemos dizer tratar-se como que de um "Escorial português" a nível de dimensões e funções, sem panteão real, e que este Convento é fruto do cumprimento de uma promessa pelo nascimento do Príncipe Real. E aqui encontramos uma comparação e distinção interessantes, que a nenhum autor lembrou: o Escorial para enterrar reis, e Mafra por fazê-los nascer (não é um ditado popular, mas bem poderia).

Na arquitectura da Real Basílica em Mafra D. João V fez constar lugar para seis órgãos. Embora hoje se estranhe, e muito se especule do motivo da quantidade, a solução do enigma parece-me simples: em primeiro lugar, o órgão de tipo Ibérico (formados e usados então em Portugal e Espanha) são a referência tomada no momento do projecto da Basílica, facto pelo qual se preferiu a colocação de dois órgãos em cada capela (nada de novo até então em Portugal), em vez de um único órgão de maior dimensão (ao estilo estrangeiro, e também afastado do modelo italiano o qual acabou por ser influenciado pelo órgão português); em segundo lugar, há três capelas de destaque, facto pelo qual cada um recebeu seu par de órgãos; em terceiro lugar, cada par é mais apetrechado conforme a importância de cada uma das três capelas; em quarto lugar, em cada par o órgão tem ou não primazia conforme esteja do lado da Epístola ou do lado do Evangelho. Como D. João V projectava segundo modelos de perfeição, e não segundo modelos orçamentais, dificilmente a colocação dos órgãos poderia ser de outra forma.


Portanto, ficam as capelas do cruzeiro projectadas para um total de seis órgãos, caso único na história da Igreja, os quais ainda não estavam construídos no tempo da sagração da basílica (outros, portáteis, foram colocados nos mesmos lugares para a ocasião). Nenhum outro lugar tem seis órgãos construídos para o conjunto e complementaridade entre si; por consequência, e até ao momento, só Portugal produziu peças musicais para seis órgãos.


Estes órgãos definitivos só foram encomendados pelo neto bisneto de D. João V, D. João VI (finais do séc. XIX). Os seus construtores foram os dois mais destacados organeiros lusitanos: Machado e Cerveira, e Joaquim Fontanes. Em 1807 a obra estava finalizada.

Os órgãos são revestidos em pau-santo vindo do Brasil, com aplicações em bronze dourado. O nível decorativo de cada par de órgãos varia conforme a importância das capelas. O órgão principal entre todos, o da Epístola da Capela mór, debaixo da ornamentação com um medalhão do italiano Carlo Amattuci com a esfinge de D. João VI.

Facilmente distinguimos os pares da Capela mór, que possuem um varandim em madeira (nos restantes o varandim é em mármore e da estrutura do próprio templo), e a abundância de adornos de metal dourado.


(a continuar)

2 comentários:

Telmo Pereira disse...

Caro Ascendens,

Sendo o lado do Evangelho superior ao da Epístola, não devia estar o órgão principal da capela mór no lado do Evangelho?

anónimo disse...

Caro Telmo,

obrigado por comentar.

Quase todos os órgãos em Portugal estão colocados do lado do Evangelho, ou no caso de haver dois o principal fica deste lado. Lembro que os órgãos de Mafra não são aqueles que foram colocados no tempo da inauguração, nem estes eram fixos.

Ou há um erro de informação, ou houve erro na colocação, ou houve uma outra intenção. É um caso que vale a pena ser visto!

Entretanto, se tiver alguma informação, por favor coloque-a aqui.

Volte sempre.

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