26/08/16

O MASTIGÓFORO - Satisfação Prévia ...

Satisfação Prévia aos Realistas, aos Mações, e aos Atravessados de Púrpura, e Trolha.

Quando o Maçonismo era despótico, e regulava a seu modo, e bel prazer a Monarquia, fundada nas vitórias do Senhor D. Afonso Henriques, ou antes no favor, e promessas do Deus dos Portugueses, não faltou neste reino um coro de esforçados atletas mais escolhido, que numeroso, o qual nem por isso andava a gritar pelas ruas, que sustentaria até ao fim, a mais nobre, e mais santa de todas as causas, nas por acções nada equívocas assaz mostrou, que os gritos Monarquia absoluta, ou desterro, Religião, ou morte, eram como a divisa, que os animava, e reunia. Mal posso recordar-me sem uma espécie de ufania, que fui a mais rouca, e desentoada voz desse coro, e o certo é, que saí tirei azos para nunca mais soçobrar, ou emudecer! Não era com efeito de presumir, que tendo eu arrostado a maior sanha, e raiva dos Mações, no seu requinte, ou no zenith das suas fúrias, me acobardasse agora de pôr em toda a luz os meus sentimentos. Só algum desses Mações contraditórios por essência, é que poderá estranhar-me de que eu declame ainda contra a pior de todas as seitas. Mais lhes convinha que pasmassem, e se confundissem da moderação com que os trato, demorando-me, e insistindo mais nas coisas, que nas pessoas, e seguindo o rumo contrário ao que seguiam há pouco os Astros da Lusitânia, os Portugueses Constitucionais, antes e depois de regenerados, os Censores de Lisboa, e seus reforços, os Censores Coinbrões, as Minervas, e os Publicolas da nossa Atenhas!!

"Mas para que é tanto escrever, e dissertar contra os Pedreiros Livres? Anoja-se o público de tantas refutações, e invectivas, e os tais amigos que só dão alguma coisa pela sensibilidade física, e tem perdido inteiramente o senso moral, vão-se rindo às claras, e minando à surrelfa, até plantarem outra vez, ainda que seja de estaca, a majestosa árvore da liberdade, para o que já tem as figuras prontas, e marcadas as primícias do sangue impuro, que há de regá-la!!"

Por isso é que eu escrevo, por isso mesmo é que não largo facilmente a pena. Se eles já nos tivessem despejado o bairro (Almas santas, hoje fora o dia que tal sucedesse!) ou o traste do cais do tojo lhes tivesse curado a mania, que segundo os melhores facultativos, não tem outro remédio, senão este heróico, e decisivo "forca, e mais forca" então de certo me calava eu, que naturalmente afrouxo nestes lances... mas em quanto os contemplar vangloriosos, e como triunfantes, e respirando, (que a tais extremos chega a sua inaudita loucura) no seu ar, nos seus gestos, e nas suas palavras, o íntimo desejo de verem outra vez aclamada, e entronizada a infernal Constituição Gálica em 1791 - Gaditana em 1812 - Lisboeta em 1822... não lhes dou quartel, nem eles o merecem: hei de cair-lhes em cima com todas as armas, que me possa ministrar o justo furor, que de contínuo me acendem as suas odiosas tentativas, e estonteadas maquinações.

Servi-me bons oito meses de armas curtas, e descarregados 33 golpes, vejo que os tais ainda bolem, e julgam ser, ou valer alguma coisa neste mundo!!

Bem quereriam eles, que eu para lhes dar importância, e consideração, denominasse este Periódico, a Lança, a Espada, ou um Dardo para eles. Não esperem de mim uma tal desacerto. Um bando de cegos, e de mentecaptos, cuja teima é persuadirem-se, que são filhos da Luz, que são todos uns linces, e que ninguém vê como eles, por certo não merece que se empreguem outras armas, senão aquelas com que ordinariamente se enxota um rancho de rapazes, e gritadores... Mastigóforo sobre eles, ou em Português: chicote, zorrage sobre estes pedantíssimos seguidores do novo alcorão, sobre esta seita desprezível, que o menos que merece é o tratamento, que se dá na casa dos orates aos que lá existem por menos razão.

"Mas que será feito da gravidade, e sisudeza de um escritor público? Onde estará aquele escrito de união, e caridade, que por certo deve animar todos os discípulos do Evangelho? Chufas não são argumentos, e sátiras nunca foram objecções atendíveis."

Forte novidade! Eu sou o primeiro, que o digo, e confesso, mas que se há de fazer ao Século dos Mações, que eles fizeram eminentemente frívolo, para melhor o desencaminharem... Ridículo, e mais ridículo entornado sobre eles, para se lhes abaterem as cristas, que se assim não for persistirá ele nos seus delírios, e nunca se poderá convencer, que é mais pequeno que uma pulga. No que toca às mansidões Evangélicas (que a dizermos a verdade ficam muito airosas na boca de quem trata o Evangelho de fábula, e de impostura) enquanto eu usar com os Pedreiros Livres, o mesmo que usaram os Santos com os maiores inimigos do Cristianismo irei pelo bom caminho, sem receio de me extraviar, ou perder. Basta que eu faça aos Pedreiros os mesmos ecómios, que Santo Atanásio fez a Ário, que Santo Agostinho fez a Pelágio, e S. Jerónimo a Vigilâncio, para que ninguém possa criminar-me de excessivo.

"Porém a seita (agora entram os medrosos, que vão dizer bocadinhos de ouro!) é poderosíssima, e desde os alvos, ou alvores Carbonários do País das musas, até aos negros mais retintos da Guiné, tem feito rápidas, e maravilhosas conquistas... e é bem, bem para temer, que doendo-lhe as chicotadas faça por aí alguma das suas proezas... e a sorte de Kotzebue é para abrir os olhos a quantos puserem o peito à bala por Deus, e pelo Rei."

Conheço os podres da seita no género de vinganças, ou estúpidas, ou cobardes; as primeiras são por escrito, e as segundas por obra da loje, id est, por veneno, ou apunhalada às ocultas, e à falsa fé.... Enquanto ao mais nego-lhe todos os seus poderes, que infelizmente emperraram, e claudicaram nesses dias de eterno opróbrio para a seita, em que o grito de constituição ou morte, lhe morria nos beiços, caso triste! sem lhe passar às mãos se quer uma pequenina doze daquele furibundo entusiasmo, com que se repetiam aquelas palavrinhas, que já foram a senha dos Jacobinos Franceses!!

Eu não possuo, nem talentos, nem a influência de Kotzebue, que se me assistissem as prendas deste corajoso, porém mal fadado escritor, eu antes quisera morrer, combatendo pela causa de meu Deus, e do meu Príncipe, do que viver cocegado entre a matilha dos cães mudos, que ficam imóveis, e nem se quer ladram, quando estão vendo saquear, e assolar a fazenda de seus donos!! Por outra parte os efeitos da morte de Kotzebue foram tais, que muito melhor teria ido aos Pedreiros, e Iluminados, se o estudantinho Sand não tomasse o freio nos dentes, e deixasse falar à sua vontade o autor da Misantropia, que mais fundamentalmente que um Stozi, poderia nos últimos parocismos aplicar a si o 

Exoriare aliquis nostris ex ossibus ultor.

Seria vergonha para os defensores do Trono, e do Altar, se consentissem ver-se excedidos pelos sábios indagadores da natureza, que sem embargo de todos os dissabores, contingências, e perigos, nem por isso fogem de examinar os vulcões, as cataratas, e outros fenómenos espantosos; muito embora eu caminhe sobre dolosas cinzas, debaixo das quais dorme o fogo prestes a acender-se; muito embora eu sacrifique o meu sossego, e as minhas felicidades temporais à melhor de todas as causas; muito embora eu ouça a cada instante o ranger de viperinos dentes, que me faz lembrar outro já destinado para suplício das infelizes, e desacordadas vítimas do Maçonismo; antes quero ser o último na casa do meu Deus, que o primeiro nos tabernáculo do vício, e da maldade. Ainda há pouco dizia o mais eloquente dos nossos Oradores Cristãos na augusta presença DelRei Nosso Senhor, que já tinha o lençol pronto para se enterrar com ele, eu nem esse tenho próprio, e mais de uma vez o intruso, é nefando governo Constitucional me quis arrancar, e fazer em pedaços essa mortalha em que me lisonjeava de ser entregue à sepultura!! Escrevi pois como é justo que escreva um homem despido de temores, e de pretensões, forcejarei por ser entendido, não tanto das sábias gentes de mais alta esteira! como desse povo o mais real do Universo, que a todo o custo deve ser instruído, e avisado para que se previna, e arme contra tudo o que cheirar a empresa Maçónica.

Por bem pouco não ficou ele, sem Rei, sem Altar, sem Vítima, e Sacerdócio!! a lição foi terrível, e merece que todos a aproveitem sob pena de desafiarem outra vez a cólera do Céu.. O Sistema Constitucional desapareceu da face da terra; porém as suas raízes ainda existem, e ainda brotam pestilenciais ramificações. É necessário cortá-las, e cortá-as sem dó... mãos trémulas, e convulsas não podem ser bem sucedidas neste género de operações..... já que os Mações tudo corromperam, e adulteraram começarei por instruir os desprevenidos, e ignorante, para que nunca mais se deixem embair das falcílimas promessas do Maçonismo. Verei se posso achar algum fio que me conduza nesse labirinto de incertezas, e contradições, em que laboram, e se perdem quase todos os historiadores do começo desta mortífera contagiam das Sociedades Cristã, e Civil. Penetrarei até ao mais recôndito das suas manobras para ultimarem a completa ruína do catolicismo. Projectista de reforma do Clero Secular e Regular, Prégadores Constitucionais, Teológia, e Jurisprudência Liberal, aparecerá tudo debaixo do seu verdadeiro ponto de vista, e para que assim o escritor, como os seus leitores ganhem alento, e se refaçam para contemplarem novos horrores, darei entrada a seu tempo aos mofinos, e hediondos partos de literatura Constitucional, teatro este onde com mais desaforo e sem apertos de coração poderemos calcular até onde chegou a inépcia dos que tratavam de ineptos a João das Regras, e ao Marquês de Pombal.

(Índice da obra)

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