08/05/16

CONVENTO DE Sto. ANTÓNIO DO VARATOJO - A EXTINÇÃO (II)

(continuação da I parte)



NOVA EXPULSÃO E NOVO REGRESSO

Prolongou-se por meio século - 1861 a 1910 - a relativa tranquilidade dos religiosos varatojanos, apenas algum tanto perturbada com a dispersão das comunidades religiosas, imposta em decreto de 10 de Março de 1901, que proibia a existência das associações religiosas, respeitando porém os bens delas. A comunidade de Varatojo recebeu a visita e intimação do Governador Civil em 28 de Abril, após as festas da Páscoa. Ficou no convento o Guardião com dois sacerdotes e os irmãos leigos e donatos em trajo de criados. No princípio de 1902 reorganizaram-se as comunidades, consideradas, pelo mesmo Governo, como membros da Associação Missionária Portuguesa, invenção do nosso superior provincial, Doutor Padre Frei João da Santíssima Trindade, cujos estatutos organizara e para eles conseguira a aprovação civil, dada em 18 de Outubro de 1901. Em Janeiro de 1902 já estava reunida a comunidade de Varatojo, e em 1904 o noviciado.

Não se prolongou muito o sossego claustral. Durou apenas uns oito anos. Em 4 de Outubro de 1910 [os republicanos usurpavam o poder, impondo uma república em Portugal], que ressuscitou os decretos anticongreganistas de D. Pedro IV: a extinção de todas as ordens e congregações religiosas e expoliação de todos os seus bens. O decreto tem a data de 8 de Outubro de 1910. Devia de ser a primeira legislação daquela república (...).

A comunidade de Varatojo começou a dispersar em 7 de Outubro. Em 8 sacerdotes, 5 irmãos leigos, 6 noviços e 5 donatos. Ficou, para entregar as chaves, o Vigário do convento, Padre David das Neves, com o irmão leigo Frei Bernardo de Almeida, acto que se efectivou no dia 11 às 17 horas.

Não se conteve aquele Vigário na sua mágoa e protestou perante os representantes da "autoridade" civil, militar e judicial que se apresentaram. Seguiu-se o arrolamento de todo o recheio do edifício e da igreja e salagem das portas que davam entrada à casa e às suas dependências interiores.

O convento de Varatojo, bem como os outros dos franciscanos portugueses, tinham desde 1901 proprietário particular, escolhido pelos superiores provinciais, a quem fizeram escritura de venda meramente legal. Como os demais proprietários, o de Varatojo reclamou juridicamente a cerca e o edifício, mas inutilmente. As "autoridades" da republica converteram-no em asilo de idosos, com o nome de Asilo Latino Coelho, pouco depois da expulsão dos religiosos.

À sombra da "lei", que permitia aos religiosos viver junto em número menor que 4 sacerdotes no lugar, servidos por irmãos leigos disfarçados em criados. Celebravam a Missa e outros actos ministeriais em capela improvisada numa casa emprestada pelo benfeitor José Eduardo César e por fim na de uma senhora - Senhora Morna - deixada mais tarde em testamento aos religiosos, em cuja posse continua (a Província Portuguesa da Ordem Franciscana, na ocorrência dos 750 anos da morte de S. Francisco, em 1976, cedeu o uso desta casa à Fraternidade da Ordem Franciscana Secular de Varatojo para lar de pessoas da terceira idade. Foi o primeiro núcleo do Lar de S. Francisco que, já muito acrescentado, se vê pouco acima do convento). Logo após a exclaustração, cuidaram, por meio de pessoas amigas, de salvar a igreja e conseguiram que fosse considerada monumento nacional. [... monumento a quem, ou a que coisa!? ... hoje os edifícios são declarados "monumentos" mais parecendo isso uma forma de desvinculá-los da maior importância e finalidade para que foram feitos]. E, para não retardar nela o culto, idearam e conseguiram criar a Irmandade de Santo António, cujos estatutos foram aprovados pela autoridade eclesiástica em 28 de Março de 1918 e nesse mês remetidos à "autoridade" administrativa civil (...). Em 21 de Maio seguinte a mesma "autoridade" lhe (...) [devolvia] o templo, com suas dependências e objectos nelas [ainda] contidos. A confraria tomou posse, por auto assinado em 12 de Junho desse ano, véspera da festa de Santo António.

Em todos esses trabalhos teve iniciativa e principal actividade o franciscano Pe. José Pedro Ferreira, apaixonado zelador dos melhoramentos de Varatojo, ninho de seu nascimento. O povo levantou-lhe o seu busto em 4 de Outubro de 1953 num dos canteiros do largo fronteiro à portaria do convento.

Os religiosos eram capelães da irmandade e reitores da igreja. Demorou 10 anos esta situação. Em 1928 - decreto de 15 de Outubro - (...) [os republicanos devolviam] às Missões Franciscanas Portuguesas "o extinto convento de Varatojo e cerca anexa e todas as suas dependências, revertendo para a posse da Fazenda Pública, quando não tenha a aplicação a que foram destinados".

A comunidade dos novos regressos estava constituída em fins de Outubro, com o curso de teologia, mudado de Tuy, Galiza, para onde os franciscanos se refugiaram em 1910. Em 1940, (...) com a assinatura da Concordata e do Acordo Missionário, acharam os franciscanos poderem trazer para Portugal os sectores de formação que ainda tinham na Galiza, estabelecendo no convento de Varatojo o Noviciado. O Estudantado de Teologia passou para o Seminário da Luz, na altura aberto em Lisboa.

Assim, (...) o convento de Varatojo continua sendo o lar paterno para os filhos de S. Francisco em Portugal, unindo os de agora aos que, ao longo de quase oitocentos anos, encheram o país - e a sua história também - com a sua presença fraterna e benfazeja, desde que, em 1217, os primeiros chegaram a Alenquer. (...)


(aqui termina a transcrição da parte que mais nos interessou publicar da obra: Convento de Santo António de Varatojo - Frei Bartolomeu Ribeiro, Braga, 1990)

2 comentários:

M. Maria disse...

[Dispersando um pouco do assunto...]: Oh como a arquitectura de antigamente era muito melhor!...

anónimo disse...

A arquitectura daqueles tempos é mais CONSEQUÊNCIA, e a arquitectura hoje é em parte, ou totalmente, uma contrariedade à anterior. Se a arquitectura daqueles tempos era fruto da virtude, a arquitectura moderna é o desprezo e e incompreensão disso mesmo.

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