03/02/16

VOCABULÁRIO DEMOCRÁTICO Nº6 (I)

(anteriormente, o Vocabulário Democrático Nº5)

NOVO VOCABULÁRIO
FILOSÓFICO-DEMOCRÁTICO


==============
N.° 6
==============

Cum desolationem faciunt, Pacem appellant.
(Tacito)

*É tão fera a perfídia
De um cruel, e vil Mação,
Que a paz nos apregoa
Quando faz a desolação. D. Tr
 __________

Vocábulos, que mudaram de sentido, de significação, e de ideia.

CARIDADE CRISTÃ – Não estão menos em uso entre os ímpios e ateus estes Vocábulos que a palavra humanidade, e coincidem muitíssimo com ela. Os ateus a adoptam de tanto melhor vontade, quando levam eles a vantagem, de que se reclamam algumas vezes dos Cristãos, estes não são tão tolos, que a reclamem deles. Entre os Republicanos não tem mais uso, nem outro destino, que servir de escudo, apoio, e defesa de quantas iniquidades Democráticas possam imaginar-se. Por exemplo: Quando os Democráticos estão de cima, devem os Cristãos, por Caridade, ver com humilde paciência, resignação, e respeito abater a Religião, destruir os Templos, desterrar os seus Bispos, roubar, e fuzilar seus Sacerdotes. Se mudam as Cenas, e os Democráticos aparecem de rastos como as cobras, é, segundo eles, um estreitíssimo dever da Caridade Cristã deixar impunes todos os seus execráveis delitos: e a doce e amável Caridade acusada de fanática, atroz, e sanguinária, se não ata as mãos à Justiça, e faz liga com os ladrões, ímpios, e assassinos para exterminar a inocência. E deste modo os homicidas, e traidores podem acusar com razão a Caridade, porque não impede que lhes apertem o gasganete. Oh! quanto tempo faz, que pudéramos estar gritando: por Caridade Cristã levantai forcas! 

(* Que não terá a esta hora gritado a alta Sucia quando viu passados pelas armas na Hespanha 54 mártires da Pátria, e entre estes um célebre Golfin, que foi Ministro da Guerra no tempo das Côrtes: o grande Calderon, que era o Borges Carneiro de lá: um Lopes Pinto também Deputado, e o seu digníssimo Chefe "Torrijos"! Que desumanidade! Que falta de Caridade Cristã! Não parece ser isto feito num Reino Católico por excelência! Senhores pranteadores, Senhores Jeremias Políticos, vejam-se naquele espelho; e olhem que a Caridade bem ordenada principia por nós: Vossas mercês sem dúvida não seguem a doutrina de Santo Tomás, que diz nos devemos deixar matar o injusto agressor sem lhe resistir, disto não percam nada, mas se seguissem algum partido seria o contrário, e muito provável, que sustenta, que o homem tem direito a defender-se de um agressor injusto, ainda à custa da sua morte: ora então vejam que aquele procedimento é conforme ao Direito Natural, das Gentes, e Supremos Árbitro das Nações; e para ser justo, e saudável basta que seja reprovado por Vossas mercês.
A pena, que nos resta, é não haver já entre nós um Decreto de prevenção, como é aquele de Fernando VII, lavrado em Outubro de 1830, em que manda que sejam passados pelas armas todos, que se acharem com elas na mão contra a sua Pátria, e não quer que lhe deem parte senão depois do milagre feito. Grande Política é a daquele Governo! Deve ser a Mestra para todos os Soberanos. Nada de justificações em tais casos; porque em havendo um pequeno descuido, logo aparece, absolvido por falta de prova. 
Lembra-nos agora, o que a este respeito ouvimos a um Escrivão desta Côrte, (a quem Deus perdoe, porque já é defunto) que falando das habilidades do seu ofício, fez esta pergunta aos circunstantes "porque razão não está o Diabo no Céu, apesar de se rebelar contra Deus?". Ninguém soube responder: pois saibam os Senhores, disse ele mesmo "É porque Deus não admitiu a justificação". Por isso dizemos que a verdadeira justificação é a forca, e, para abreviar mais, os arcabuzes à Fernanda. Esta receita prova admiravelmente.) D. Tr. 


PREVENIR – Os Democráticos servem-se deste termo em um sentido inteiramente contrário, ao que dantes tinha. O que não pode acontecer, é o que eles previnem. Porém aconteça que algum tenha o arrojo de prevenir em sentido verdadeiro os iníquos, e horríveis planos dos Democráticos! Oh! boca que tal disseste: logo aparecem furiosos, endiabrados, e todos gritam, sedição! plano combinado! conspiração contra o Governo! traição! desobediência! etc. É por este modo, que se ataca um Povo, que vive sossegado; e assim o roubam, saqueiam, e fazem escravo: oh! isto é prevenir. Como se nem o Diabo houvera pensado em prevenir o nada! Vamos agora pelo contrário.

Se um povo ameaçado real, e verdadeiramente do extermínio invasor abre os olhos, e vê o insondável abismo de males, que os ameaça, e começa a mexer-se, e a querer preveni-lo, poder de Deus! Furibundos, e lançando espuma pelas malvadas bocas, se apresentam os Revolucionários; e o prevenir já não é já prevenir, mas sim desejo de sangue, anarquia, perfídia, e traição. E os que choram por sangue humano, quando se trata de fazer o mundo ateísta, e se pelam por chuchar juntamente com o sangue os cabedais de todos os povos; põe as mãos na cabeça, elevam clamores até às nuvens, e se tornam mais loucos do que são; e berrando como touros, pranteiam como estes o sangue, que ainda se não há derramado, não fazendo caso algum do que já foi derramado pelos povos, que não querem aguentar os ímpios, os assassinos, e os ladrões. Basta ver como tratam em seus Escritos ao homem mais respeitável da Europa, somente porque se opõe com vigor à impetuosa torrente do latrocínio Democrático. Ele é um sanguinário, um Canibal, um pérfido, e quanto pode vomitar a pérfida boca Democrática. E porque? Porque não consente que os Demónio-cráticos destruam sem oposição a paz, a tranquilidade, as santas máximas, a Religião, as Leis, e a substância dos povos; porque não lhes permite que escravizem os homens, que arruínem os Tronos, e que tiranizem a seu bel-prazer o globo inteiro; porque, vamos.... é boa frescura não querer que os homens recebam com satisfação, e com palmadas da alegria a seus tiranos, e bárbaros opressores. Ah! Santo Céu! Quanto te cansarás de tanta iniquidade? 

(* O homem respeitável, de que aqui se fala, julgamos ser naquele tempo o Imperador Alexandre; mas se este nos faltou, resta o grande Nicolau, a quem chamamos o Cyro de nossos dias: ele é que há de libertar a Europa do jugo Maçónico.) D. Tr.

(a continuar) 

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES