29/01/16

1 de JANEIRO - AGIOLÓGIO LUSITANO - COMENTÁRIOS (III)

(continuação da II parte)

Convento de Sta. Clara, em Vila do Conde

d) Na foz do rio Ave da banda do Norte, quatro léguas do Porto, está a Vila do Conde, ilustre pelo mosteiro de Feriras da Ordem de S. Clara, que a enobrece, ao qual deram princípio D. Afonso Sanches filho DelRei D. Dinis fora do matrimónio (o que teve as diferenças com o Príncipe D. Afonso) e sua mulher D. Teresa Martins filha do Conde D. João Afonso de Meneses, Senhor de Albuquerque, nesta de D. Sancho III Rei de Castela (ano 1318). Estes Príncipes pretendendo fazer um Castelo para defesa daquelas partes (como Senhores que eram da dita vila) sonharam que o fizessem com a escada para o céu, e entendendo o que Deus lhes queria significar com este sonho, fundaram este Convento, a quem deixaram esta vila, e outros lugares deporte, que possuíram as Religiosas dele muitos anos. No que floresceu de seus princípios o rigor da regular observância, e penitência, acompanhada de grande pureza de vida, e santidade, de maneira que mereceram suas religiosas ser-lhe revelada a salvação de seus fundadores, e que tiveram quinze anos de Purgatório.


Acha-se escrito nas memórias deste Convento que estando uma noite a Abadessa com algumas freiras em oração depois de matinas, ouviram bater nas sepulturas destes infantes, perguntou a Abadessa que queriam, e responderam: que eles eram os fundadores, que as vinham avisar da parte de Deus, que logo saíssem fora do convento com o preciso que tinham, porque às quatro horas da manhã entrariam nele os Castelhanos inimigos cruéis deste Reino, como na verdade aconteceu; pelo que na própria hora se passaram as Religiosas para o Mosteiro de S. Clara do Cabeçal no Porto, onde residiam dois meses, que os inimigos estiveram nele.


E porque não sabemos se teremos outro lugar de falar nestes infantes nos pareceu bem copiar aqui o epitáfio de seus sepulcros que é o seguinte:

Aqui jaz o muito esclarecido Príncipe D. Afonso Sanches, filho DelRei D. Dinis de gloriosa memória, Rei de Portugal, com a muito excelente Senhora sua mulher D. Teresa Martins, neta DelRei D. Sancho de Castela, primeiros fundadores deste Convento.





Referem a celestial visão de Sôr Catarina Vaz com grande estima de sua santidade: Fr. Lucas Waddingo (ad anno 1318, n. 44), Gonzaga (pág 3, tít. Prou. Portug. convent. 14), Barezus (pág. 4. Cron. . 4 c. 40, ano 1565), Valerius de sanct. Foem. Ord. Min. l. 4 c. 41).


e) O Pe. Afonso de Castro não só teve a Lisboa por pátria, e nasceu na freguesia de S. Julião dela, onde foi regenerado pelo santo Baptismo, mas seu pai foi ourives de ouro na mesma cidade, e o Santo até idade de mancebo, que se embarcou para a Índia, professos a própria arte, e como Deus o tinha predestinado para Santo, e ilustre mártir de sua Igreja já de moço o ia dispondo, e em aiando para tão alto fim, e assim permitiu, que naquela idade em sua pátria lhe dessem uma bofetada, e tão fora esteve o santo mancebo de indignar-se, ou vingar-se do autor de tão grave injúria, que lhe ofereceu (seguindo o preceito de Cristo), a outra face. Rara, e admirável perfeição, e dado que este notável caso, por não chegar à notícia dos que escreveram sua vida (que só trataram do tempo em que o Santo entrou na Religião) não ande impresso nos autores que alegamos, nos pareceu conveniente, para glória de Deus, e de seu servo, referi-lo aqui, pois o soubemos de pessoa fide digna que se achou achou presente, e era seu vizinho, e como testemunha de vista no-lo contou, inquirindo nós com particularidade para este fim, de quando o referido tinha já mais de 95 anos de idade.

Martirizado o servo de Deus (ano 1558) em Ternate (que é a primeira das cinco Ilhas Malucas vindo do Norte ao Sul distante meia légua da linha equinocial) foi pelos Mouros lançado seu corpo no mar, onde esteve no meio das ondas por muito tempo sobre um penedo, como se estivera vivo, daí a três dias apareceu no mesmo lugar do suplício, com as feridas tão frescas que a todos o causou espanto; e muito mais o resplendor que delas saía, foi pelos mesmos tornado a lançar no mar, e passados oito meses foram achados seus ossos outra vez na praia mui alvos, e resplandecentes.

Fazem dele menção: os Padres Orlandi nona hist. da Companhia (tom. I variis in locis, e tom 2 l. 2 n. 180 [?]), João de Lucena em vários lugares da vida de S. Francisco Xavier. António Vasconcelos na descript. Lusit (pág. 498), [?], Bartolomeu Guer. nos elogios dos que morreram pela fé da Comp. (2 p. c. 19), o Pe. Alonso de Sandoval no catecismo negro (l. 4 c. 3), Pe. Joanes Rhô em hist. virtutum (l. 6 c. 5 n. 7), Bosius de signis Eccles. (l. 5 fig. 21), Fr. Pedro Calvo nas lágrimas dos justos (2 p. c. 14), Fr. Elias de S. Teresa in legatione Eccl. triumph (l. 2 c. 31 n. 56), e finalmente Martiriolog. Societ. hac die.

(a continuar)

2 comentários:

Unknown disse...


Salve Maria!

Obrigada por nos fazer conhecer tão belas histórias!

Deus lhe pague.

anónimo disse...

Salve

De nada! A obrigação é minha. O passado é uma grande referência, o presente não o é da mesma forma.

Volte sempre.

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