(continuação da V parte)
FRUGALIDADE – O que seja, e que
signifique em linguagem Republicana, pode coligir-se deste acontecimentos
verídico.
Estando almoçando um verdadeiro Patriota fez o seguinte Discurso:
“A frugalidade é uma das principais
virtudes de um Povo Republicano.... Venha de lá uma botelha de vinho de
Champanhe.....” Sem a frugalidade é impossível que o Povo seja guerreiro, nem
amante da liberdade.... Oh frut..... Que diabo de cosido é este? Sempre
borrego, sempre vitelo! Não há perdizes, galinhas, nem capões?.....” Os
Espartanos não podiam estar à mesa senão um quarto de hora.... Haverá besta
como este cozinheiro? que porcaria de pastel! Maldito gosto que tem! Nem ao
menos está bem passado!....” Um quarto de hora ainda poderia demorar-se; porque
o Povo perde tanto mais de trabalho, quanto mais consome à mesa.... Vamos a
isto, venha mais meia canada de vinho de Borgonha.... Com que não há! Assim se
trata a um Republicano? A nós dá-se
uma semelhante consoada? Doze pratos, e nada mais, e mal temperados, sem salsa,
nem vinho de Borgonha, etc.?! A ver, chame cá o patrão, que lhe vou quebrar os
braços tanto a ele, como ao cozinheiro, e os vou mandar cavar com uma enxada.....
Que tal está a patifaria da penitencia Franciscana?” Um dos principais cuidados
do nosso Governo deve ser o de reduzir o Povo á máxima frugalidade. Isto só basta para estabelecer a igualdade, e a felicidade Republicana.... E então! Ainda não vem o café, o ponche,
e o marrasquini?.....
RÉU – Em ambas as línguas significa (ao
menos em sentido vulgar) culpado de
delito. Porém havendo os Vocábulos mérito
e demérito mudado de significação, o
Vocábulo réu se viu também na precisão de mudá-la. É por isso, que réu republicanamente não quer dizer outra cousa, que um homem de mérito
isento de delito. Porque
MÉRITO – Corresponde exatamente a delito. E isto se vê mais claro que a
luz do dia nos Memoriais, que fazem os Patriotas aos Juízes Republicanos.
Cada um alega seus méritos, a fim de que o empreguem, e isto é o que tem que
ver. Uns expõe haverem estado presos num Fortaleza; outros terem sido
açoitados, e sofridos tormentos; e estes dez anos de galés; aqueles terem
dado uma volta à roda da forca. Que lástima! Não poderem os enforcados representar também, pois sem dúvida alguma teriam o maior mérito republicano!
(* Um argumento inconcusso desta verdade,
foi o que em Portugal se disse, e se escreveu a respeito dos supliciados em
1817, a quem os nossos Regeneradores intitularam Mártires da Pátria! Não faltou
quem advogasse a sua Causa depois de reduzidos a cinzas, e também não faltou
quem os julgasse inocentes.... Foi pena que a Arte Química, tão aperfeiçoada
entre os Materialistas, não descobrisse o segredo de reunir aquelas moléculas
dispersas, recompaginar aqueles ossos, nervos, músculos, e cartilagens, e com
os seus gazes, nitros, sulfatos,
oxiegénios, e hidrogenos, e toda a
mais perlenga impostora dar vitalidade àqueles cérebros, onde se tinham
concebido ideias tão gigantescas da liberdade da Pátria! Foi pena, que não
pudessem reviver aqueles enforcados, para alegarem os seus grandes serviços, e
serem logo empregados nas primeiras Dignidades do Estado!! Mas enfim
fez-se-lhes o que se pôde: Douverão Apotheoses Políticas, houveram Sufrágios
Piedosos, e até houve uma Oração Fúnebre em memória de tão grandes Heróis! A
tanto tem chegado a degradação da Eloquência Sagrada!! Com mais razão do que Cícero poderíamos exclamar oh! tempora!
oh! mores!... Pouco faltou para o Canonizarem, e dizerem como os Romanos, inter divos relati sunt.) D. Tr.
(continuação, VII parte)
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