17/12/15

DA RELIGIÃO EM GERAL (I)

Pensamentos Theologicos Próprios Para Combater os Erros dos Filósofos Livres do Século

Obra Utilíssima tanto aos Ecclesiásticos, como aos Seculares, para viverem desabusada e christtâmente.

M. R. P. Nicolau Jamin

(Monge da Congregação de S. Mauro, e antigo Prior da Abbadia Real de S. Germano de Pres)

[Oferecido ao "Illustrissimo Principe Guilherme, Príncipe do Rhin, Duque de Bayern, Conde de Veldents e Sponhein"]

1770

Com Licença da Real Mesa Censória



Capítulo II
DA RELIGIÃO EM GERAL

1. Deus é aquele que é: "tudo nasce dele, tudo se conserva por ele, e tudo está nele (quaniam ex ipso, et per ipsum, et in ipso sunt omnia, Rom. 11 v. 36). Por ele é que nós tems a vida, o movimento (in ipso enim vivimus, et movemur, et sumus, Act. 27 v. 28), e o ser". Ele nos criou pelo seu poder, conserva-nos pela sua vontade, governa-nos pela sua providência, convém pois que o honremos. Justa consequência: a sua existência traz consigo a obrigação do seu culto. Um Deus, uma Religião, não podem existir só sem a união de ambos. A criatura poderia ser dispensada de tributar obséquios ao Autor do seu ser, ao seu Conservador, e ao seu Benfeitor?

2. A ideia da Religião é tão natural ao homem como a do mesmo Deus: não há nações sem Religião, como a não há sem Divindade (Multi de diis prava sontiunt; omnes tamen esse viri, et naturam divinam consent. Cic. lib. I [?] n. 13): "Ora o consentimento de todos os povos sobre este ponto deve de ser considerado, como uma lei da natureza", diz um grande homem. O Ateu é pois um monstro.

3. Debalde se fundam os ímpios sobre o testemunho dos viajantes obscuros, para nos oporem selvagens túpidos do novo Mundo, errantes pelas florestas, sem leis, sem culto, sem templos, e sem sacrifícios. Homens que apenas conservam a figura da humanidade, cuja razão está eclipsada, abrutada, e sepultada na matéria, não merecem que sejam citados como contraditores de uma verdade reconhecida por todos os povos da terra (at ex gentibus illis tam efferatis, et in humanis, ut ait Porphyrius, non oportet ab[?] judicibus convicium fieri naturae humanae. Porphyrius, lib. de abstinent). Nós não julgamos das faculdades do corpo humano, pelos mudos, surdos, cegos, e coxos, e queremos então julgar a respeito dos sentidos por homens loucos, ignorantes, e grosseiros? que extravagância! Digamos pois com um Poeta moderno, aos Filósofos que se nos querem opor:

Qu'a bon droit, Libertins, vou êtes méprisables,
Lorsque dans ces forets vous cherchez vou semblables!

4. Eu me não admiro de ver a Religião atacada: os seus inimigos começaram com ela: ela foi sempre o objecto da inveja. Abel, que agradava ao Senhor por sua piedade, foi morto por seu Irmão (statim ut coli Deus coepit, invidiam Religio fortita est. Qui Deo placuerat, occidetur, et quidem a fratre. Tertull. Scorpiace n. 8).

(continuação, II parte)

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