25/11/15

COMENTÁRIO ao "PRÓS E CONTRAS - NÓS OU ELES?" (I)

Programa Prós e Contras, da Rádio Televisão Portuguesa (RTP1), programa XXIII, cujo tema foi "Nós ou Eles" (relativamente à situação do Islão na Europa e Estado Islâmico, em directo transmitido a 23/11/2015, o qual transcrevo aqui com comentários meus:

[Intervenientes: José Van Der Kellen (Director Adjunto Nacional do SEF) - (id. J.Kellen), António Costa e Silva (especialista em petróleo e energia) - (id. A.Silva), Filipe Pathé Duarte (Vice-Presidente OSCOT) - (id. F.Duarte), Helena Matos (Jornalista/Historiadora) - (id. Helena.M), Paulo Dentinho (Jornalista) - (id. P.Dentinho), Sheik David Munir (Imã da Mesquita em Lisboa) - (id. Imã.SM), Fátima Campos Ferreira (a apresentadora) - (id. RTP1)]


RTP1 - Boa noite. "A França está em guerra", anunciou o presidente François Holland logo após os atentados; e a resposta toma agora forma: os caças franceses descolaram hoje dos porta-aviões Charles de Gaulle, no Mediterrâneo oriental, e começaram a bombardear as posições do exército do auto proclamado Estado Islâmico. O "presidente francês" afirma que foram escolhidos os alvos, de forma a causar os maiores danos possíveis a este exército. Ao mesmo tempo, no coração da Europa, a Bélgica prepara-se para o pior: Bruxelas é hoje uma cidade fantasma. Há muito que na Bélgica há uma roda giratória do jihadismo, um centro de doutrinamento e de recrutamento de jihadistas. A Rússia, o Reino Unido e a Europa em geral têm-se solidarizado com os franceses, e respondem favoravelmente ao apelo de coligação alargada, ainda que pouco se conheça em que termos vai ser constituida! Aliás, o muito que se sabe publicamente é provavelmente muito pouco do que está realmente à acontecer. Há por isso perguntas que devem ser colocadas e informações que têm que ser debatidas: como caracterizar este inimigo que está a mobilizar a Europa para uma guerra global? quais os enquadramento territoriais, marítimos e aéreos em que actua? o que pretende? qual a melhor estratégia para os defendermos? até que ponto estão articulados os serviços de informações na Europa? com interesses tão distintos, como vai ser formada a coligação alargada que Holland pede? que implicações vai ter esta guerra na União Europeia e na sua política de defesa, nos seus orçamentos? até que ponto Portugal está implicado, ou quais as suas funções?
Muito boa noite Senhor director nacional do SEF (que é também um elo de ligação dos serviços de informações em Portugal). Um acto de guerra hoje, como eu disse (a França já está a bombardear as posições do exército do auto-proclamado Estado Islâmico, na Síria e no Iraque), aqui na Europa depois dos atentados [a guerra] parece desenrolar-se mais no ámbito dos serviços de informações; a Bélgica está paralisada. E pergunto-lhe: que tipo de informação os serviços possuem na Bélgica que leva a que as autoridades imobilizem o país?

J.Kellen - Boa noite. Muito obrigado pelo convite.
Antes de mais, direi uma palavra para tranquilizar as pessoas. Tendo em conta o que é a base do trabalho dos serviços, hoje em dia, porque a ideia que graça de uma hipotética falta de controlo poderá estar na base de tudo isto. Não é bem assim; a base de trabalho que as polícias belgas, ou francesas, ou europeias estão a ter neste momento tem uma sustentação informática bastante grande. Posso dizer-lhe que, no último ano, deram origem para a criminalidade em geral houve mais de 60 milhões de alertas, só na Europa (essencialmente a nível de estados membros e associados da União Europeia). Isto é uma base de trabalho que permite que com estes 60 milhões de alertas haja capacidade de operacional interna, independentemente daquilo que se faz na fronteiras externas, ou não, da própria UE. É com esta lógica de trabalho, que em princípio polícias francesas e belgas estão a trabalhar, tendo este espaço também digital e ... [Comentário: em Portugal ninguém anda nervoso com a possibilidade de algum atentado para que haja necessidade de tranquilizar quem quer que seja a este respeito. A preocupação MANIFESTA dos portugueses FOI e é relativamente ao avanço do Islão na Europa com a entrada dos "refugiados". Portanto: a islamização da Europa. A outra grande preocupação tem sido para com o bizarro facto de boa parte dos europeus, principalmente os dirigentes, e contra tantas e tantas queixas e avisos, não usaram de medidas de SEGURANÇA prévias relativamente a quem entrou na Europa (com ou sem documentação), situação agravada com pressões e revoltas contra todos os europeus que se estavam a preocupar realmente com o fenómeno e faziam avisos e manifestos de desagrado e certeza de grande perigo futuro.

RTP1 - Ó Senhor Director Nacional, mas quando se paralisa um país é porque há receiros, que obviamente não podem ser ditos por completo às populações. Eles terão que ser datados num período de tempo? porque de facto vemos que está a ser conduzido o estado de alerta, até ao final da semana.

J.Kellen - Eu já iria aí [ao assunto]. Mas eu dizia-lhe que, como consequência disso, para além do trabalho específico de que lhe falei, o que pode estar a acontecer também é uma espécie de guerra psicológica, guerra da propaganda à que eventualmente possamos não estar a dar o devido valor ou possamos não estar a acompanhar. Nisto, do outro lado, diga-se, há especialistas muito bons na matéria, e estão desde logo a levar-nos para um tipo de semântica,  acho importante dizer: ao estarmos a falar de um "estado" é a pior coisa que podemos estar a fazer, pois à partida significa que é algo que tem uma estrutura própria igual àquilo que somos nós os estados de bem (os quais estão a ter esta luta civilizacional).

RTP1 - Por isso eu disse "auto-procalmado". Mas como devemos chamar, em sua opinião?

J.Kellen - Outra coisa qualquer que não "estado". Isso é que eu acho que é o pior erro, porque estamos a ir na linha de propaganda deste fenómeno, e com isso estamos a permitir que não tenhamos argumentos para combater esse tipo de propaganda. Com isso o que é que está a acontecer!? Estão eles a tentar, dentro daquilo que é a lógica do tecido social dos estados membros da UE, a ter angariação de elementos que aderem à sua causa. Mas isto depois leva-nos a outras questões conceptuais. Entretanto em questões de trabalho, especificamente, diria que há uma base de trabalho, que depois tem essas metodologias de investigação que estão a fazer com que as autoridades na Europa esteja a trabalhar, e que depois têm de ser complementadas. Para lá desta base de trabalho que tem depois uma lógica judicial que permite dar origem a ... [Comentário: nada mais certo, pois o uso das palavras induz-nos aos respectivos conceitos. A nova esquerda é no séc. XX a promotora deste tipo de manipulação como revolução das palavras (às quais haveriam que fazer deturpar na população os respetcivos conceitos até que ficasse impossível ou difícil representar ou pensar em certas realidades para eles indesejáveis). O que é hoje a repetição exaustiva de "democracia", "valores democráticos", "valores da Europa", os "valores da liberdade", que em quase 90% da população não há quem sequer consiga definir "democracia", e o conceito de "direitos" não é mais que fantasia? O efeito deste aglomerado de mini-propagandas é um facto. A esquerda actual indigna-se que certos muçulmanos creiam existir "Estado Islâmico", contudo propagam ferozmente que temos que acatar que o João passou a chamar-se "Andreia". O que dizer do nome dos nossos documentos de identidade que nos dão discretamente como nacionalidade uma tal de "República Portuguesa", tanto no Bilhete de Identidade como no passaporte!!!?]

RTP1 - Deixe-me perceber... Os serviços de informações, através de redes informáticas, têm acesso a informações vitais que permitem concluir a eminência de um atentado de contornos muito gravosos? Este estado de alerta vai permitir às autoridades belgas uma intensa busca nos próximos dias? É isso?

J.Kellen - Vai... Permite isso com certeza. Porque tendo em conta aquilo que é a análise de informação feita, a disponibilidade, e a capacidade de previsão que obriga a ter, obviamente que poderão tender a presumir quando é que podem vir a ocorrer determinado tipo de ataques. Esta lógica tem que ser assim concebida como um todo e permitirá alguma capacidade de reacção. Isto para lá de algo muito importante: além dos dados que apontei, que são os de vida processual, a própria capacidade informática e as redes sociais que nós temos de análise, há uma componente que os serviços têm que é a informação que vem das suas fontes de informação vivas. Isto é: temos que trabalhar redes de informadores dentro da própria Europa, para poder dar com algum grau de certeza aquilo que as estructuras policiais europeias e os serviços de informação estão a fazer neste momento no terreno.

RTP1 - E é a isso que estamos a dar tempo nesse momento. É que as redes de informadores atuem e se articulem e contrastem as suas informações ...

J.Kellen - Tudo isso se articula com as estruturas estatais, de forma a obtermos capacidade de reacção que permita dar qualidade às pessoas. Esta é uma nota muito importante: para além de muitas das coisas que se verificam o que é preciso ...

RTP1 - Mas neste momento não se está a dar tranquilidade à população!

J.Kellen - ... não ... Mas há alguma tranquilidade porque há capacidade de reacção. Não há risco zero, não tenhamos dúvidas. Nisso já tive a oportunidade de dizer que o risco das sociedades livres é este. Nós não temos a possibilidade de ter um polícia atrás de cada pessoa. E portanto, nessa preservativa, o que é possível fazer está a ser feito, e as pessoas têm que acreditar nos serviços que têm; e eu penso que há uma capacidade de reposta positiva nesse sentido.

(a continuar)

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