(continuação da III parte)
Depois deste Príncipe ter dado mostras de seu ânimo, e valor, depois das conquistas de Sevilha, de Beja, de Santarém, e de outras muitas Praças fortes do Reino, Senhor absoluto da Monarquia, medita emprezas grandes, e as desempenha. Não é sempre propícia a Providência aos interesses marítimos. Ela obriga muitas vezes os navegantes a empreenderem escalas contra os intentos premeditados. Uns aventureiros da glória militar, e religiosa, que se dirigiam à conquista da Terra Santa, entram no porto de Lisboa, impelidos de uma furiosa, e rija tempestade. ElRei D. Sancho não perdeu tempo em os obsequiar, enquanto este ia contrário á viagem intentada. Aquele Soberano lhe propõe alguma conquista nos vizinhos Mouriscos; e uns, e outros convieram em se dar assalto à Cidade de Silves, Praça forte, e florente no Algarve, e que servia de asilo às entrepreza dos Africanos.
Silves |
Este Castelo depois de sofrer quase dois meses de assédio, em que a presença do Soberano influía para a conquista, foi cedido às forças das armas Portuguesas, e dado a saque aos estrangeiros. ElRei mandou consagrar a Mesquita maior dos Mouros em Catedral, sendo feita esta religiosa acção pelos Prelados que ali se achavam. Então é que se renovou a antiga Igreja Osnobense, que estava esquecida havia tantos séculos; nomeando o mesmo Soberano por Bispo Silvense a D. Nicolau.
Como vivi alguns anos no Convento, que a minha Congregação tem nesta Cidade, desejo ser grato a instrução da mocidade que ali eduquei, e à civilidade que devi às pessoas advertidas do país, fazendo desta conquista uma narração circunstanciada, e propondo algumas antiguidades que vi, e descobri no Cartório daquela Câmara.
É pois Silves respeitável pela glória de ser escolhida para residência da Cadeira Episcopal do Algarve, em que se ia renovar o esplendor da Igreja Godo-osnobense. Desfrutou séculos esta glória, que perdeu pelos fins que a Providência permite. Dentro da Sé daquela cidade se encontram ainda hoje dignos testemunhos da sua grandeza nos sepulcros elevados de muitos veneráveis Prelados, na campa DelRei S. João II e de outras Pessoas qualificadas. Poucos dias há que vimos destruir a Cadeira Prelatícia, e Episcopal do Coro alto, onde dignos Prelados assistiram aos Ofícios Santos, ficando-no a mágoa de ignorarmos a decência, e usos da nossa primitiva Igreja, que se conservavam naquela Catedral, nesta, e outras antigualhas, cuja perda lamentam os sábios, e amadores das coisas da nossa primeira fundação. Estas, e outras memórias dos veneráveis, sábios, e ilustres Bispos de que formaremos os elogios, obrigam de justiça a um conhecimento mais amplo das conquistas da Cidade de Silves na dominação portuguesa.
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