16/10/15

CAPELA MÓR DA SÉ DE ÉVORA (II)

(continuação da I parte)


De Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Montes Claros vieram as Pedras mais corpulentas puxadas umas a 19 Juntas de Bois, outras a 13 a 11 e a 9 quais fossem não é possível agora distinguir, porque vinham toscas ainda, e sem polimento marcadas com números de conta, e só por esta cifra se aceitavam, e pagava-se o seu transporte. Entre as Pedras encontradas conserva nome uma a que o Padre Franco chama Soberana de 9 palmos de largura 26 de comprimento, e palmo e meio de grossura destinada para Bofete, ou Mesa das Sessões Capitualares, porém os Estado do Cabido por curtos, e acanhados ficaram sem merecer a honra e o gosto desta Soberana. Toda a Pedra branca, mais ou menos calcária a Pedra azul escura, empregada na obra saiu de Estremoz. A Pedra vermelha, amarela, preta, e a pedra de burnir, saiu de Cintra e Vizinhanças. A Pedra verde veio de Roma. António Vicente, e Mateus Francisco do lugar de Caneças obrigaram-se a arrancar 74 Pedras vermelhas das Pedreiras de Cintra, assim como Manuel Gonçalves Lobato obrigou-se a arrancar 59 Pedras das mesmas Pedreiras para a Capela Mor de Évora. Foram Mestres da Obra em Évora Manuel Gomes, e Manuel da Cruz ambos subordinados a direcção de Frederico, e este dependente da aprovação Real; porque o Sr. D. João V alternava os traços no desenho sempre que se lhe antolhava melhorias que de ordinário era o mais dispendioso, e conservava tão presente em Lisboa a obra da Capela Mor, que a dirigia em Évora como se fora feita no seu próprio Palácio com o fim particular de suas devoções. Frederico queria que o Tecto fosse de Estuque dourado: "Não (respondeu ElRei), há-de ser feito de Pedra encarnada à Cardeal". Queriam que o Coro tivesse assentos de abaixar, e levantar; Cadeiras separadas com a das outras Sés. "Não (disse ElRei) é melhor que sejam Bancos rasos à maneira das Capelas Pontifícias onde os Cardeais se sentam". Quiseram tirar os Espaldares aos Bancos dos Beneficiados acudiu ElRei, e disse "não convenho nisso Conservem os Espaldares aos Bancos dos Beneficiados visto ser-lhes esta regalia concedida por pleito". Pequenas quebras houveram na continuação da obra desde 1718 em que começou, até se concluir e foi dedicada com o seguinte Epitáfio:
Dei Matri in Coelum Assumptrae sanctiorem hanc Basilicae
Partem veterae Augustioris Forma solo aequatae
Regnante Joanne quinto
Sedente RomaInnocentio decimo tertio
Sacrum Eborensium Canonicorum Collegium.
P.
D. Fr. Miguel de Távora Arcebispo assegurou a 22 de Maio de 1746, em que se festejava a dedicação antiga. No Cofre das Relíquias se pôs esta Legenda:
MDCCXXXXVI die vigesima secunda Mensis Maii Ego Frater Michael de Tavora Archiepiscopus Eborensis consecravi Ecclesiam et Altare hoc in Honorem Bentae mariae Virginis d' Assumptione, et Reliquias Sanctorum Martirum Stephani Justini, et Feliciani in eo inculusi et singulis Christi Fidelibus hodie unum annum et in die anniversarii consecrationis hujusmodi ipsum vesitantibus quadraginta dies de vera Indulgentia in forma Ecclesiae consueta concessi. F. M. Archiepiscopus Eborensis.
Existem originais os Livros de contas receita, e despesa que se fez com a obra dos Cofres em diferentes períodos das Superintendências, que se sucederam até ao ano de 1734 72:864$573. Destes até Março de 1730 foram remetidos para Estremoz. . . . . . . .  18:771$398. Certamente a despesa foi muito maior do que 72 contos tirados dos Cofres porque nos Livros não andam algumas verbas crescidas talvez por serem pagas por outra contabilidade por ex. a compra, e transporte por Mar da Pedra Vermelha, e amarela vinda de Lisboa a Aldeia Galega, ou Alcácer; a compra, e transposto das Pedras verdes vindas de Roma, os Salários ao Arquitecto, as Madeiras para os Andaimes mandados vir da Quinta de Valverde; e outras que avultam pelo que não me conformando com a opinião, que a orça a um milhão de cruzados também não julgo que tenha descido de cento e vinte contos. No Convento da Graça em Évora ora Quartel da Segurança junto à Portaria existe o Modelo desta Obra feito de Madeira em 1721 reduzido à quarta parte da sua grandeza tirando quando a obra ainda não era acabada pois que lhe faltam desenhos ou Peças que têm o próprio Edifício, e vice versa custou .  . 2:256$000. No Modelo há um Altarsinho que é próprio do Modelo, e não modelo do existente na Capela Mor, nele dizia-se no tempo dos Frades Missa duas vezes cada ano uma em dia de Assunção, outra em dia de S. Miguel nome do Arcebispo Sagrante. para obter as dimensões da Capela Mor fui valer-me deste Modelo muito à mão e por isso as dou por exactas e geométricas.

(continuação, III parte)

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