26/05/15

A CONTRA-MINA Nº 2: Cruzada dos Povos Contra a Maçonaria (I)

CONTRA-MINA
Periódico Moral, e Político,

por

Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Monge de Alcobaça.

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Nº 2
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O medonho Fantasma se esvaece,
O dia torna, e a sombra se dissipa;
Os Insectos feíssimos de chofre
Entram no poço do afumado Inferno:
Eternamente a tampa se aferrolha.
No meio do clarão vejo no Trono,
Cercado de esplendor, MIGUEL PRIMEIRO.
(Macedo, Viagem Estática ao Templo da Sabedoria, pág. 141)
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Da Necessidade,e Próxima Existência de Uma Cruzada Geral dos Reis, e Dos Povos Contra a Maçonaria

Já no princípio do Séc. XVII se traçavam nos ajuntamentos da maçonaria os planos, que ele viu amadurecer, e que levou à execução nos Séc. XVIII, e XIX. Foi o Jesuíta Claudio Martin o primeiro, que os denunciou a Filipe IV da Espanha, e quando eu tiver as mãos soltas para fazer uma breve resenha dos serviços, que a Companhia de Jesus há feito aos Reis da Europa, farei ver claramente, que há duzentos anos havia um Frade Professor em Madrid, que anteviu todas as calamidades, que hoje se experimentam, e que por certo ameaçam o mais fatal, e pavoroso transtorno das Sociedades humanas. Naquele tempo eram havidas como visões, ou partos de um cérebro esquentado, essas importantíssimas descobertas, que se fossem tidas, ou levadas em conta, que elas mereciam, nem os cadafalsos teriam, como estemecido, de verem os Reis subindo os seus degraus, nem teriam corrido mais dilúvios, que correntes de sangue, na própria França, que tão cara pagou no Séc. XVIII a glória de o ter feito denominar o filosófico, e o ilustrado.


Sob a infaustíssima regência do Epícureu, e degenerado Duque de Orleans, na menoridade do Rei Luís XV, bracejou a Maçonaria, e trabalhou à sua vontade, fez grandes conquistas nas mais altas personagens, e escudada pelos grandes nomes de seus Grãos-mestres, não houve triunfo, que ela não se prometesse, nem obstáculo, que a fizesse retroceder, ou desistir de seus intentos.

Mas quem te disse, me tornará algum Leitor destes, que gostam de entrar no fundo das matérias, quem te disse, que a maçonaria já nesse tempo era mui poderosa e mui apadrinhada em França? Disseram-mo os escritos públicos desse Reino, em que se publicam Dicionários de Ateus, que é meio caminho andado, para se publicarem igualmente Dicionários ou Listas dos altos Dignatários da Maçonaria Francesa; e se os meus Leitores querem uma exactíssima dos Grãos-mestres, desde a referida época, até 1789, eu lha dou, e posso afiançar-lhes, que é verdadeira.

1725 Lord Deventer,
            Water =
         Lord d'Harnouester.
1738 Duque de Antin
1741 Conde de Clermont
1780 Um Príncipe de Sangue

Os primeiros dois passam como fundadores de uma Loja parisiense, que em breves dias contou 600 irmãos. As suas reuniões foram observadas pelo Governo, que fez prender alguns, mas bem prestes cessou todo o perigo de novas pesquisas; e os dois últimos Grãos-mestres fizeram desvanecer toda a ideia de serem novamente inquietados, ou perseguidos. Então mesmo as Bulas dos Sumos Pontífices, e nomeadamente a do grande Bento XIV, eram uns despertadores assaz fortes, e veementes para acordarem os Reis, e os Povos; mas que forças humanas puderam jamais desalojar a Maçonaria, quando ela chega a assentar-se nos últimos degraus do Trono? O francês estava minado, e quase em terra muito antes, que se ouvisse o estampido da sua queda; e por isso nunca saiu título mais bem achado para uma obra, do que este, que o Abade Proyart deu à sua História das últimas desgraças do seu Rei "Luís XVI desentronizado já antes de subir ao Trono". Assás conhecia esta verdade o próprio Luís XV, que mais de uma vez o deu a entender, como quem sabia os espantosos progressos, que já tinham feito, e iam fazendo todos os dias, o Maçonismo, e outras Seitas inimigas de Deus, e dos homens..... E como foi possível, que um Rei, conhecendo os perigos, que ameaçavam o seu Neto, e imediato Sucessor, não pusesse em obra todos os meios conducentes, para exterminar uma Seita, que jurou exterminar os Reis debaixo do ilusório pretexto de reivindicar a liberdade dos Povos?

Ainda mais, como foi possível, que o Rei, sobre cuja cabeça tinham passado as mais bravas ondas da Revolução francesa, se persuadisse, que à força de obséquios, de condecorações, e mercês, de amnistias, ou esquecimento do passado, chegaria a desarmar o incorrigível Maçonismo, e a fazer bons Vassalos, dos que resistem, quanto neles é, à mínima lembrança de sujeição ou de pendência? Reinar como reinaram os seus Maiores, é a primeira obrigação de um Rei. Não ceder aos Demagogos uma só polegada desse, como recinto Sagrado, de Autoridade Régia, é para os Reis uma espécie de necessidade, que se a desmentirem, ou dela se afastarem, não tardará muito, que sejam esbulhados do todo, já que tiveram a fatal condescendência, de exporem, ou sacrificarem uma parte, ainda que seja debaixo das aparências de conciliar ânimos discordes, ou servindo-me da frase Maçónica, para amalgamar partidos. Tinham estas ideias da Realeza, e bem firmes, e arraigadas em seus entendimentos, aqueles esforçados Portugueses, que nas Côrtes de Lamego dispuseram a Lei Fundamental deste Reino, quando se levantaram contra o reconhecimento de qualquer homenagem aos Reis de Leão.... e se estes grandes homens hoje ressuscitassem, que diriam eles da mais escravidão, que autoridade dos Reis Portugueses Constitucionais? mas que testemunhos vim eu trazer de um Século rançoso e escuro, para o Século das luzes? De boa vontade eu trocaria este por aquele, e há duas coisas, que eu muito lhe invejo, a saber: a Lealdade, e as armas, que se estas debelaram exércitos inumeráveis de Sarracenos, não teriam hoje que fazer com a mui dilatada, e orgulhosa Maçonaria, que sem véu, sem figuras, e sem o mais pequeno disfarce terá prometido abolir até o nome de Rei, e fazer de toda a Europa uma vasta República federativa, em que os Grandes Orientes sejam os únicos moderadores da Suprema Autoridade, e só tenha licença para viver, o que tenha dado o seu nome à Seita maçónica...

Quem lê os papeis Franceses, v. g. os Patriotas, e Constitucionais pasma, e benze-se de tantas, e tão sacrílegas ameaças aos Reis mais poderosos do Mundo. Com que audácia, e com que desenfreada impudência alardeiam eles de manter a ferro, e a fogo a Soberanaria do Povo?.. Estão em campo o Direito Divino, que favorece os Reis, e o Direito dos Povos, que é fundado na razão, e na justiça, veremos qual dos dois ficará vencedor? Com que insolentíssimo descaramento não auguram eles um incêndio geral, que debraze os Tronos, e restitua os Povos à sua antiga liberdade? Estomagão se da última Fala do Trono, em que o Rei de Inglaterra se abalançou a dizer, o meu Parlamento, os meus Súbditos, frases, que já se deviam proscrever, porque nada é dos Reis, e tudo é dos Povos.

Acho esta segunda Revolução em tudo mais abominável, que a primeira. Nos aziagos dias do fim de Julho passado mostrou ela, o que se devia temer do vertiginoso espírito, que a dirigia, e animava.... Haver em Paris tal Sociedade Maçónica, e tão ousada em seus planos, que já se enfeitava, para destruir tudo, quanto fosse propriedade, quanto fosse direitos hereditários, e para realizar o sonho de igual distribuição de bens..... e umas intimações como estas, que se fazem aos Reis, aos Grandes, aos Proprietários, e a todo o género de Corporações, devem ser tratadas e ouvidas com indiferença, e não se levantará por toda a Europa um grito geral "Acabe, pereça, e nunca mais respire o hediondo, e abominável, o Sacrílego Maçonismo"? Ah! se fosse possível, que a sonolência dos Reis fosse tão pesada, que nem acordassem aos incessantes brados do género humano, que os chama, que os insta, e aperta, que os convida, para que sejam os seus libertadores, como são os representantes de Deus sobre a Terra, não tardaria muito que caindo um Trono apôs outro, ficassem todos envolvidos numa só, e espantosa ruína. Em tais circunstâncias que seria dos Povos, entregues ao capricho de seus astutos, e refalsados Regeneradores? Aconteceria forçosamente o mesmo, que tem acontecido em toda a parte, onde tais monstros empolgam a Suprema Autoridade. Um vasto latrocínio.... a miséria pública no seu maior auge... toda a confiança perdida... a guerra civil ardendo em toda a sua fúria... os homens despedaçando-se uns aos outros, e o mais que já se viu na primeira Revolução da França, e que nós começámos a ver nesses tais, quais ensaios, que a Providência Divina, sempre desvelada pelo seu Portugal, não os deixou subir ao ponto, que os Orientes Lisboetas, Coimbrões, e Portuenses, haviam marcado em suas profundíssimas inteligências...

(a continuar)

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