23/04/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LXXIII)

(continuação da LXXII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XLVI
Da Confiança que Devemos Ter em Deus Quando Nos Disserem Palavras Afrontosas

1. Cristo - Filho, vive firme e espera em mim. Que coisas são as palavras dos homens, senão palavras? Elas voam pelo ar, mas não podem ferir a firmeza da pedra. Se, com efeito, és culpado, serve-te do que dizem contra ti para te emendares. Se o não és, alegra-te de sofrer essa injúria pelo amor de Deus. Bem é que sofras, pelo menos, a tortura das palavras injustas, já que não podes sofrer graves tormentos.
Porque motivo as palavras da incompreensão ou da injustiça te penetram até ao íntimo do teu coração, senão porque és ainda carnal e dás ainda aos homens uma importância que não merecem? Porque temes ser desprezado, não queres ser repreendido pelos teus defeito e procuras encobri-los com a sombra de algumas desculpas?

2. Entra bem no conhecimento de ti mesmo e verás que o mundo ainda vive em ti, pelo desejo que tens de agradar os homens. Fugindo de ser abatido e confundido por causa dos teus defeitos, é visível que não és verdadeiramente humilde, nem verdadeiramente morto para o mundo, e que o mundo não está verdadeiramente morto para ti.
Ouve as minhas palavras e não farás caso das palavras que os homens disserem. Quando eles dissessem contra ti tudo quanto a malícia pode inspirar, que danos receberias dessas injúrias, se as desprezasses como palha que voa pelo ar?
Elas todas juntas não teriam força para fazer saltar-te da cabeça um só fio de cabelo.

3. Quem não anda recolhido interiormente e não traz Deus diante dos olhos, irrita-se com a menor palavra que o ofende. Mas quem confia em mim e não se aferra ao próprio juízo, nada teme da parte dos homens.
Eu sou o juiz que conhece todos os segredos do coração humano. Eu sei como as coisas se passaram. Conheço, perfeitamente, quem faz a injúria e quem a sofre.
Por minha ordem é que sofres. Por permissão minha é que este mal te sucede, para que se descubram os pensamentos ocultos no coração de muitos.
Eu julgarei algum dia o inocente e o culpado; mas, por um juízo secreto, quero primeiro provar um e outro.

4. O testemunho dos homens é muitas vezes falso; o meu juízo, porém, sempre é verdadeiro, firme e incapaz de mudança. É ele muitas vezes oculto e poucos penetram as suas particularidades. No entanto, nunca erra, nem pode errar, ainda que não pareça correcto aos olhos dos néscios.
A mim, pois, deves recorrer, em face de todos os juízos que se formem sobre a terra, e não fundar-te sobre o teu.
O justo não se turbará com o que lhe suceder com permissão de Deus. Ainda que o condenem injustamente, não se há-de afligir; nem também entregar-se a uma vã alegria, quando tenha quem racionalmente o defenda. Ele considera que eu sou o perscrutador dos corações e que não julgo segundo as aparências.

5. Alma - Meu Deus, juiz justo, forte e sofredor, que tanto conheceis a fragilidade e a corrupção do homem, sede a minha fortaleza e a minha confiança. Não basta que a minha consciência não me acuse.
Vós conheceis o que eu não conheço; por isso devo humilhar-me nas repreensões recebidas, sofrendo-as com mansidão.
Perdoai-me as vezes que não procedi deste modo e dai-me a graça de um maior sofrimento no futuro.
Mais útil me é o perdão das minhas culpas e a Vossa abundante misericórdia do que uma consciência que não me acusa mas que eu não conheço perfeitamente.
Ainda que ela não me repreenda, nem por isso devo julgar-me justificado, porque, se Vós julgardes com rigor, sem a Vossa misericórdia não se achará quem se considere justo aos Vossos olhos.

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