17/04/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LXXII)

(continuação da LXXI parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XLV
Deve-se Procurar a amizade de Deus e Não a Dos Homens

1. Alma - Socorrei-me, meu Deus, na atribulação, porque é vã toda a segurança que se funda no homem. Quantas vezes me tenho enganado, não achando fidelidade onde contava achá-la! Quantas vezes também a achei onde menos a presumia!
Assim, toda a esperança que se põe nos homens é vã, mas em Vós, meu Deus, é que está a salvação dos justos.
Bendito sejais, meu Senhor e meu Deus, em tudo o que nos sucede. Nós, fracos e inconstantes, facilmente nos mudamos e deixamos enganar.

2. Que homem há que guarda a sua alma com tanta vigilância e circunspecção, que jamais caia em engano algum, ou em alguma dúvida que o embarace?
Aquele que confia em Vós e que Vos procura na simplicidade do seu coração, não está tão exposto a estes tristes incidentes; e se cai, por muito que se haja embaraçado, Vós de tais embaraços o livrareis depressa ou lhe trazeis generosa consolação, porque não desamparais os que esperam em Vós até o fim.
Nenhuma coisa há no mundo mais rara do que um amigo fiel, que persevere firme em assistir ao seu amigo em todos os seus males.
Só Vós, Senhor, sois o amigo único e soberano, e ninguém há que mereça este nome senão Vós.

3. Quão sábia era aquela alma quando, à vista dos maiores tormentos disse: "A minha alma está fundada e solidamente estabelecida em Cristo".
Se eu estivera nesse feliz estado, não fariam impressão sobre mim tão facilmente, os temores humanos e as palavras ofensivas.
Quem pode prever tudo? Quem pode guardar-se dos males futuros? Se os males previstos já fazem sofrer tanto, que dizer dos imprevistos? que tão duramente ferem? Mas, pobre de mim, porque não me acautelei melhor? Porque razão me fiei dos homens? O que é certo é que somos homens, e nada mais que homens fracos, ainda que muitos nos julguem e chamem anjos. A quem, pois, daremos crédito, senão a Vós, que sois a verdade, que não engana nem pode ser enganada?

4.
Vós, meu Deus, nos destes um sábio conselho, quando nos dissestes que o homem tem por inimigos os próprios domésticos e que não deveríamos dar crédito quando alguém nos dissesse: Cristo está aqui, ou ali.
Eu aprendi esta verdade por uma triste experiência, e Deus queira que ela sirva para fazer-me mais sábio de futuro do que para convencer-me da minha imprudência passada.
Guarda, diz-me alguém, guarda, nisto que te revelo, inviolável segredo. Calo-me, não digo nada, e, crendo que a coisa está em absoluto sigilo, venho a saber que ela se fez pública por leviandade daquele mesmo que tanto me encomendou sobre ela o silêncio. Livrai-me, Senhor, destes homens faladores e imprudentes, para que não caia em suas mãos e nem cometa tais faltas.
Ponde na minha boca palavras sinceras e verdadeiras e apartai da minha língua a leviandade e o artifício, pois quero evitar em mim o que não quero sofrer nos outros.

5. Quanto é bom e proveitoso à paz não falar dos outros, não crer tudo o que no dizem nem repeti-lo irreflectidamente; abrir-se com poucos,  buscar sempre a Vós, que vedes os corações, e não se deixar levar pelos ventos dos discursos humanos, mas desejar que tudo, dentro e fora de nós, se cumpra segundo o beneplácito da Vossa vontade!
Quanto é seguro, para conservar a graça celeste, fugir das pompas do mundo e não desejar aquilo que cause admiração dos homens, e seguir cuidadosamente tudo aquilo que nos dê emenda em nossa vida e concorra para aumentar o nosso fervor!

6. A quantos tem arruinado a virtude conhecida e louvada antes do tempo!
Quanto foi sempre útil conservar a graça no silêncio, no transcurso desta vida frágil, a qual se passa em tentação e peleja!

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