04/02/15

EVANGELIZAÇÃO PELOS PORTUGUESES - AGIOLÓGIO LUSITANO (I)

Urbano VIII

 §VIII
DA PROMULGAÇÃO DO SAGRADO EVANGELHO FEITA PELOS PORTUGUESES NOS DESCOBRIMENTOS E CONQUISTAS DESTE REINO

Para maior distinção, e clareza da matéria deste parágrafo o dividimos em três partes, segundo outras tantas segundo o orbe a que se estendem nossas conquistas. A primeira de África, a segunda de Ásia, a terceira de América. Quanto à de África, ganhada por ElRei D. João I, a cidade de Ceuta, querendo sublimá-la com Sé Catedral, o comunicou com o Papa Martinho V que por suas bulas deu faculdade aos Arcebispos D. Fernando (de Braga), e D. Pedro (de Lisboa), para a intitularem cidade, e lhe designar diocese própria. Sagrou-se a mesquita em igreja católica, e [teve] por seu primeiro bispo D. Fr. Aimaro, inglês, frade menor (confessor da Rainha D. Filipa que então era titular de Marrocos). A graça se expediu no ano 1421 nomeando-se-lhe em território, todo o Reino de Fez, e lugares mais propinquos, além do Estreito. Depois, no ano de 1444, o Papa Eugénio IV a fez Primaz da África, assegurando-lhe mais para sustento de seus prelados as duas administrações de Valença do Minho, e de Olivença; aquela pertencia a Tuy, esta a Badajoz ficando imediata da Sé Apostólica (passando alguns anos Sisto IV, no de 1474, a fez sufragânea a Braga, e por vários casos ultimamente veio ficar de Lisboa).

D. Afonso V
Foi Tânger fundação do gigante Antheo, e antiga colónia de romanos, em cujo tempo padeceu nela glorioso martírio S. Cassiano, seu natural, e patrono: e não faltam autores que afirmem que foi pátria do Sol dos Doutores, o grande Padre Sto. Agostinho, por muitas conjecturas que nós em seu dia trocaremos. E assim reservou o Céu para o dia do mesmo Santo do ano de 1471 franquearem os mouros a entrada desta quase inexpugnável praça, a ElRei D. Afonso V que então se achava em África com suas victoriosas armas da conquista de Arzila. Entrada a cidade se espiou logo a mesquita, e se arvorou nela o victorioso estandarte da Santa Cruz. E o Prior de S. Vicente de Lisboa, D. Nuno Alvares, Bispo titular da dita cidade (que acompanhava a ElRei) tomou posse dela, aplicando-se-lhe competentes rendas. Tem convento de Pregadores, e Cepta de Franciscanos, Trinos, que todos fazem grande fruto em seus moradores. Este Bispado de Tânger por razões que houve, depois se encorporou no de Cepta. Não falamos de Arzila, que tanto que ElRei D. Afonso a conquistou, se purificou a mesquita em Templo com título de Assumpção de N. Senhora; nem [falemos] de Azamor, dado que tomado aos mouros pelo Duque de Bragança, D. Jaime, no ano 1513, sua mesquita foi purificada e celebrou nela a primeira Missa o Mestre Fr. João de Chaves franciscano, que depois foi Bispo de Viseu; nem menos de Safim, que ganhando com maravilhosa indústria no ano 1506, por Diogo de Azambuja, e feito Bispado durou por alguns anos - ultimamente (por conveniências de estado) se largaram estas praças - e com não termos de presente em África, mais que as de Cepta, Tânger, Mazagão, se conservam neste Reino Bispos titulares de Marrocos, Fez, Salé, Nicomédia, e Targa, nas sés de Lisboa, Braga, Évora, e Coimbra, por serem conquistas desta Coroa, [e foram] deixadas Orão, Tunes, Mámora, e outras, que pertencem à de Castela: o que o Sumo Pontífice Urbano VIII tinha mui presente: pois no ano de 1639 presentando-se-lhe bulas em nome de D. Francisco de Faria para Bispo de Anel de Braga, e a título de Tunes, Sua Sanidade advertidamente não admitiu tal nomeação, dizendo que Tunes era da Coroa de Castela, e em seu lugar substituiu Marrocos, por ser conquista de Portugal.

(continuação, II parte)

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