04/02/15

CONTRA-MINA Nº 12: Liberalismo Contra a Restauração de Luís XVIII ... (III)

(continuação da II parte)

Clemente XII
Os discípulos de Voltaire, de Volney, e de Rousseau, estão dando as cartas em Paris, e o mesmo tem sucedido em outras cidade principais da França. O mesmo se viu em Turim pelos anos de 1820, e o mesmo se viu em outras cidades da Itália, como por exemplo em Alexandria, na mesma época; e ainda haverá quem diga, que a seita Universitária é um sonho dos Bispos de Roma; assim como já o foi em o Santo padre Clemente XII, o acreditar a existência de Padeiros Livres? Haverá sim, porque há homens para tudo; porém os factos repetidos, constantes, e indubitáveis clamam, e provam demonstrativamente a existência de tal "Seita Universitária"; e ditosos por certo são aqueles Soberanos, que têm conseguido atalhá-la, e sopeá-la por quantos modos, e artes cabem no seu poder.... Ainda não ouvi que os Estudantes de Alcalá, de Granada, ou de Salamanca fizessem ajuntamentos proibidos, e quisessem dar a Lei a seu Soberano; e porque será isto? Porque a Teologia estudada por S. Tomás, que ainda não decaiu, nem decairá jamais do seu bem merecido título de Anjo das Escolas, porque o direito canónico [refere-se ao direito canónico em geral, na sua Tradição, e não a uma codificação deste direito, que veio a acontecer só no séc. XX por mãos de S. Pio X], estudado pelas doutras preleções do Prelado Devoti, nunca há-de fazer os estudantes ingratos, e rebeldes para com os seus legítimos Soberanos.

Não fosse tão acrisolada a vigilância do Governo Hespanhol [refere-se aos dois Governos na Península Ibérica] sobre a entrada de Livros estrangeiros, mormente desde 1823 até ao presente, e veríamos o que já teria sucedido a estas horas. Bem sei, e não me foge, que os anos constitucionais alagaram à Península com uma enxurrada de livros franceses [vindos da França, entenda-se], ou castelhanos [vindos de Castela, entenda-se] estampados em França; porém os voluntários Realistas, e as diferentes autoridades civis, e eclesiásticas de Hespanha têm dado uma caça geral aos possuidores de tais livros; e graças a N. Senhora, ainda os bons poderão ter a consolação de verem tais pestes desterradas para sempre da Península, o que nos afiança a piedade, e zelo incansável dos Reis Fidelíssimo, e Católico; que se o Rei Carlos X tivesse governado à castelhana, assim como governou à francesa, isto é, debaixo de ideais de tolerância, e amalgamento, ainda hoje estaria assentado no Trono dos seus Maiores. E cuidará talvez o Rei Cristão, porque vê os estudantes da Polytechica mui dóceis à sua voz, que está mui bem seguro no Trono, e que o há de transmitir aos seus descendentes? Quanto se engana! Os Estudantes liberais não querem nem sombras de título de Rei; e mais dia menos dia mostrarão os seus verdadeiros intentos; pois já não pode ficar em problema, quais sejam os da "seita universitária", que têm duas bases, ou princípios fundamentais: 1º o Ateísmo, 2º Atravessar o coração de todos os reis. Quem se espantar do negrume de tão abomináveis princípios, ou é estúpido, ou também folga na taberna, e é como eles.

Colégio do Espírito Santo em Coimbra
22 de Janeiro de 1831.

Fr. Fortunato de S. Boaventura

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